Bolhas de sabão

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Numa festa que acontecia em algum lugar, na casa de Renata (a fácil - como os próprios amigos a chamavam), alguns adolescentes (indiscutivelmente chapados) conversavam sobre o ciclo de vida de uma bolha de sabão:

Elas nascem.

Flutuam...

E, por fim, estouram.

Nada muito diferente do que acontece com os humanos, um dos garotos disse, afinal, para quê estamos na Terra senão para nascer, crescer, fazer idiotices, reproduzir e morrer?

Ninguém levou muito a sério o que o rapaz falou, mas todos riram da constatação no mínimo interessante que ele fez.

Mas logo todo esse papo reflexivo ficou para trás quando começaram a falar sobre a cor das paredes da casa de Renata, ou sobre como o cachorro dela era feio.

Era engraçado pensar em como, na teoria, nossa vida era fácil, mesmo que saibamos que a prática são outros quinhentos, cheia de problemas.

Problemas...

Isso também pode ser comparado a uma bolha de sabão. Que no início, parece grande, porém então você liberta a bolha no ar, e quanto mais aquela coisa sobe, mais ela parece pequena, e vai diminuindo, diminuindo, até que ploc!, ela estoura.

Você sabe que um dia aquela bolha estourada já foi grande e estava bem próxima de você, porém naquele momento atual ela está longe e flutuava sem rumo no ar. E parece pequena. Assim como seus problemas.

O garoto que disse que as bolhas de sabão eram como a vida humanos foi considerado o gênio do momento, mas se os mesmos jovens lembrassem daquelas palavras e refletissem anos depois, veriam que ele, na verdade, era apenas um gênio vazio.

A vida de alguém não era tão simples como uma bolha de sabão, e ele não era tão inteligente ao ponto de saber isso, ninguém era. Se ele realmente quisesse definir a vida como uma bolha de sabão, deveria saber que a vida de Renata - A fácil - não era tão simples quanto aparentava ser, e que todas as noites ela chorava, triste com a imagem que tinham dela, triste com o que ela mesma pensava sobre si.

Deveria saber também que Carlos- o tocador de violão - morria de amores por Albert, e que o garoto sofria em silêncio, pelo fato de não ser correspondido e ter medo de não ser aceito pelos que o cercavam.

Deveria saber que Miranda escondia mordidas por debaixo das mangas longas, arranhões pelo tórax e cortes na coxa, cansada de absorver tudo de negativo ao seu redor e não poder fazer nada a respeito.

Ele deveria saber que Bianca - a baleia - sofria de bulimia, e que aquilo era muito mais do que eles pensavam, não era frescura, era algo que a destruía por dentro, e lhe dava os pensamentos de não ser bonita o suficiente, de não estar nos padrões que a sua família tanto teimava em recordar.

Ele deveria saber de muita coisa, mas não sabia. Porque ele mesmo tinha a consciência de estar falando aquilo da boca para fora. Pois a vida dele não era como uma estúpida e frágil bolha de sabão.

Hoje percebemos que  não queremos definir nossas vidas com uma só palavra, mas sim deixar que flua, que flutue e que venha a estourar no momento exato.

E aceitar isso é a única coisa menos complicada que temos de fazer.

Contos de ResiliênciaWhere stories live. Discover now