Rico

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Sentado à lua, o menino Rico olhava seu colar de coração em sua mão. O abriu e viu novamente (como de todas as outras infinitas vezes) a ausência de vida e cor que tanto o afligia. O fechou e o apertou firme como querendo esmagar algo imenso em suas mãos, ao mesmo tempo fechando os olhos como querendo fechar a comporta de uma enchente. Resolveu olhar a Terra abaixo de si. Inundado de pesares, resolveu dar sua atenção a outros pesares.

  "Quanta dor a noite traz a todas essas pessoas?" Exclamou pesarosamente o pequeno Rico. "Só basta ausência de luz e a escuridão tudo engole. Quando se há luz, há risos, mas quando vem a escuridão, há de se ter lágrimas" pensava alto, Rico. "Do que tanto precisam?" Se questionava grandemente sem nada entender.
 
Mas voltou sua atenção a uma pequena situação que já o deixava indignado havia dias, mas agora esgotara sua paciência.
"Como podem tão egoístas ser?" Falava expirando ares de indignação. E para lá foi se meter.


"Eu já falei para você não se meter na minha vida!" Gritava e berrava o homem com sua companheira de casa, casos e acasos.
"Claro que me meto, eu também estou nela, assim como sua filha!" Gritava e berrava a mulher com seu companheiro de casa, caso e acasos.
  Quando novamente o homem ia levantar a voz, o pequeno Rico se intrometeu.
"Já não basta outra noite de gritarias e palavrões? O que tem em suas cabeças já adultas?" Exclamou indignado pequeno Rico, deixando o homem e a mulher perplexos em perplexidade. "Venha cá vocês" disse Rico passando no meio deles com pisadas firmes e duras no chão de madeira.
  Subiu a escada, decidido, e atrás de si vinham o homem e a mulher sem entender porque da razão de haver um menino de passos firmes subir a escada de sua casa. Rico parou enfrente uma porta e disse:
"Parem um pouco de berrar desgraças e coloquem sua atenção de adultos para o som que vêm desta porta!" Rico exclamava alto, mas em tom baixo.
E o homem e a mulher puseram-se a escorar o ouvido na porta e do outro lado ouvir um choro de cortar lentamente um coração; o coração deles. Na mesma hora os corações do homem e da mulher despencaram como um elevador sem cordas.
"O que estamos fazendo?" Disseram um ao outro com mares nos olhos.
  Rico voltou a lua e observou o resto das noites escuras até que aquelas noites, para o homem e a mulher, se tornaram enfim claras e certo calor no colar de rico fagulhou sem que ele percebesse.



  Em mais uma noite sob a lua, Rico olhava para a Terra e uma outra escuridão o incomodava. "Talvez se o sol brilhasse à noite, a escuridão não estaria sobre todos todas as noites" refletia triste Rico. Mas logo sua indignação cresceu e não aguentara mais ver tal escuridão. "Como pode ser tão egoísta?" Exclamava com raiva e logo lançou-se para Terra"

  "É, querida, acredita nisso? Como pode num é?" Fofocava uma moça no telefone e já estava assim por horas. Desde que chegara em casa fora somente o que fazia, assim como todas as outras noites. E logo atrás dela, no meio da sala havia uma bela criança rodeada de tantos brinquedos que daria para haver uma casa só para eles. Mas para eles a criança nada importava. Simplesmente berrava e berrava para a mãe vir o pegar, pois não sabia até ela andar. Até que a criança criou uma força fora do normal e começou a levantar, estava decidida a ir até a mãe e assim, com esforço e muita vontade, pôs-se de pé. Cambaleou para trás, cambaleou para frente, mas firme ficou, tentou dar o primeiro passo, mas logo caiu. Segurou o choro, pois estava decidido a ir a mãe. E mais uma vez tentou. Cambaleou para frente, cambaleou para trás, mas firme ficou. Deu um passo, deu dois, mas logo caiu. Novamente o mesmo processo, mas desta vez deu o primeiro passo, deu o segundo, aprendeste a dar o terceiro e logo o quarto. Pegou o jeito, pensava e assim foi a sua mãe. Chegou até ela depois de muito esforço, e assim clamava e clamava por ela e ela nada o via. Simplesmente o ignorava. Triste, a criança jogou-se no chão e deu-se a berrar e berrar de choro.
"Cale a boca! Não vê que estou no telefone!" Gritou a mãe com a inocente criança.
  Mas na mesma hora entrou Rico, com o rosto vermelho de raiva e deu-se a falar com o moça.
"Está ficando cega? Por que berras com a pobre criança? Olhe para o que estava prestes a perder para sempre!" Exclamou alto Rico para que a moça o visse e observasse, e logo, pegou a criança e colocou num extremo da sala. A mãe parou e ficou perplexa em perplexidade por ver de repentino um menino aparecer no meio de sua sala. Rico pegou a criança, a pôs de pé, apontou para sua mãe e deu um leve empurrãozinho. A criança, agora entendida de como andar, fora aos passinhos delicados em direção a sua mãe novamente. A mãe focou a atenção no filho e ficara fascinada por ver seu filho vir andar em sua direção.
"Vem, filho, você consegue!" Dizia ela o encorajando e com os olhos cheios de lágrimas.
  A criança ia decidida em direção a sua mãe. Agora estava fácil, ela pensava, já peguei o jeito. E de passinho em passinho chegou a sua mãe e ela o abraçou com ternura e carinho e chorando falava:
"Desculpe, meu filho, me desculpe".
  E neste momento, como rato em sua toca, Rico saíra de fininho e voltara para sua lua. E ficara a observar aquelas noites escuras se tornarem claras para a moça e sua criança e uma cor bem avermelhada pintou seu colar sem que percebesse.



  Em uma outra noite, Rico sentado sob a lua refletia com seu coração absorto em tristes profundezas "será a luz do dia tão clara a ponto de cegar?" E logo observava mais uma escuridão que tanto o incomodava por tantas e tantas noites, até que chegara a ponto de não aguentar mais ver aquela cegueira.
"Olhe só para este, é egoísmo que não cabe em seu imenso castelo".
Inundado de indignação lançou-se diretamente para a Terra.



  O excelentíssimo, o maioral, o riquíssimo rei estava a caminhar pela imensa varanda extensa de seu castelo com a neve a enfeitar seu caminho e assim, exclamou em alta voz:
"Olhe quão grande é o meu reino!" E abria os braços para toda a grande extensão de terra que lhe era propriedade, com inúmeras e inúmeras casas a frente cobertas de neve, mas nada comparada a seu imenso castelo.
"Quão grande meu reino é! Nada é mais belo como todo o meu reinado!" E abria bem aberto os braços como mostrando que ali de cima, todo seu reinado cabia em seus braços. Mas inesperadamente, veio do sul um vento fortíssimo, e o Rei nada equilibrado, foi pego de surpresa pelo vento que o jogou para fora de seu castelo e caíste em cima de um monte de neve e lama. Rico o tirou do monte de neve e lama o puxando com força. Segurando em seu braço, Rico o puxava em direção a cidade.
"O que pensa que está fazendo imprestável menino? Sou o maravilhosíssimo Rei, solte-me, ou chamarei a guarda real!" Exclamou o Rei com imensa autoridade.
  Mas Rico fingira que não escutava e continuava a puxa-lo para fundo da cidade.
  "Guardas! Guardas!" Chamava o rei em alta voz, mas ninguém vinha o ajudar. "Seus guardas imprestáveis, não está vendo que os estou chamando?" Mas ninguém o ouvia. Quem daria ouvidos a um homem todo sujo de lama e neve? Só podia ser um louco. "Por que ninguém me escuta?" Se perguntava indignado.
  "Fique quieto e me siga" disse em voz autoritária o pequeno Rico.
  "Como ouça falar assim comigo, moleque imprestável?" Exclamava em perplexa perplexidade ao ver aquele menino o puxar.
  Ao andarem o homem parou para olhar ao seu redor e não gostara nem um pouco do que via. À seu lado esquerdo, pessoas vasculhavam latas de lixo e logo ao lado cachorros, gatos e ratos vasculham outras latas de lixo. Ao seu lado direito, vira uma criança dormindo abraçado em seu cãozinho e os dois sentindo frio.
"Mas que lugar horrendo é este?" Perguntava o Rei ao ver toda aquela situação.
  Rico virou a esquina ainda puxando o Rei e pararam enfrente a uma casa. Dentro da casa, o Rei avistou uma família de 6 pessoas sentadas a mesa. O pai repartia um pequeno pedaço de pão em seis partes pequenas.
Uma criança falou "O senhor disse que traria bife dessa vez"
  E o paz respondeu triste: "desculpe filho... Foi o que consegui para hoje".
O rosto do rei cada vez mais retorcia em dor ao ver tudo aquilo. Ficava cada vez mais com pesar.
  Rico o levou a uma outra esquina e mais outra e mais outra. A cada esquina, mais e mais situações tristes e angustiantes o rei se deparava e sempre se perguntava "que lugar horrendo é este?" Até que Rico limpou o casaco do rei, o deixando como parecendo novo e levou-o até a seu castelo. Lá de cima de sua imensa varanda, Rico apontou para a cidade e disse ao Rei:
"Este é o lugar horrendo!" Disse com voz autoritária e firme ao rei.
  "Não pode ser... Meu reino é belo e maravilhoso assim como eu!" E entregou-se ao choro e ao pesar. "Como posso nunca ter visto tamanha ruína em meu belo reinado? Trarei um novo decreto, usarei toda minha fortuna para enfim deixar meu reino mais belo que a mim!"
  Após o decreto do rei, Rico saíra tão silenciosamente que nem o vento o escutara de volta para sua lua e de lá observava mais uma escuridão iluminar-se. Seu colar mais caloroso ficou e com mais cores coloriu sem que ele percebesse.



  E assim se dera a fazer toda noite. De noite em noite buscava escuridões que tanto o deixava indignado e foste procurar maneiras de lhes lançar luz. Fazia com tanta vivacidade e prazer que esquecera de olhar a dor que o cercava naquele colar. E a cada luz lançada, seu pequeno colar se enchia de calor e cores vivas sem que ele percebesse.

  Até que certo dia, Rico lembrou-se de seu colar e de toda dor que o causava. Sempre estava com ele, sempre o acompanhava, mas de tanto se distrair em trazer luz a noites, esquecera dele. Até que ele o pegou novamente com grande pesar e disse:
"Será que ainda me causas tanta dor, pequeno colar?"

  O abriu e ao invés se ver ausência de vida e cor, viu vida calorosa e cores tão fortes que o fez chorar de alegria. Rico sorria tão alegremente quanto a todos aqueles que agora tinham luz mesmo à noite. Rico, sem perceber iluminou a si mesmo eliminando a sua escuridão.
E você, onde está a sua luz?
  

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⏰ Last updated: Dec 10, 2016 ⏰

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