Capítulo Único

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Nunca fui muito de sonhar, sempre mantive os pés no chão. Provavelmente por ter medo de acabar caindo na realidade de vez. Talvez esse fosse meu pior defeito. Talvez por isso eu não tivesse amigos. Ou talvez por isso eu não tenho uma meta de vida.

Mas eu não sabia que minha vida havia mudado apenas no simples ato de aceitar uma flor de uma menininha desconhecida.

Agora, todos os dias após isso, eu espero por ela na porta de minha casa, apenas para conversarmos um pouco. Não sei ao certo porquê, apenas sua inocência me fascina e sua alegria me cativa. Ela era feliz mesmo sem ninguém.

Ela era especial.

Seus sorrisos tinham a capacidade de fazer o dia de qualquer pessoa se tornar mais colorido. Talvez esse seja um dos motivos por quais eu gosto tanto de falar com ela, para fazer meu dia mais feliz.

- Bom dia, Peter! - disse ela feliz me entregando uma flor.

Dessa vez era uma margarida. Levei-a até meu nariz e inspirei seu suave aroma, deixando escapar um leve sorriso.

- Bom dia Melanie! - exclamo, mais animado, dando-lhe espaço para que a mesma sentasse ao meu lado, na pequena escada na porta de casa.

A pequena se sentou, colocando a cesta repleta de flores coloridas ao seu lado. Suspirou e colocou ambas as mãos no queixo, parecia cansada.

- O que foi, Mel? - perguntei-lhe, preocupado.

Um leve suspiro escapou de sua boca e ela logo pôs um sorriso triste no rosto.

- É que... As pessoas hoje em dia estão tão ocupadas... - falou, muito sábia para uma garota de apenas onze anos.

- Sim, estão. - concordei, pensativo.

Suspirou lentamente, fechando os olhos.

- Elas passam pelas ruas falando em seus celulares ou preocupadas demais com coisas que ainda nem aconteceram, coisas que tem chances de não acontecer e não prestam atenção em nada a seu redor. - abraçou os joelhos. - Não vêem a beleza das coisas mais simples, porém mais belas. Não percebem que a melhor coisa de seu dia está bem alí, debaixo do nariz delas.

Olhei para suas mãos que agora estavam cruzadas, os polegares se movendo em círculos rapidamente. E pensei. Pensei no quanto ela estava certa.

As pessoas realmente não prestavam atenção nas coisas mais simples da vida. Se preocupam demais com coisas de menos...

- É por isso... - prosseguiu - Que perdem muitas vezes a chance de ser feliz.

- É por isso que lhes entrega as flores? - perguntei, tentando acompanhar seu raciocínio.

- Mais ou menos. - riu - Também é por isso. Só que é mais por que eu acredito que só uma flor é capaz de alegrar o dia de muita gente... Um gesto de carinho, um gesto de amor... Ou até apenas um sorriso. É disso que as pessoas precisam. De alguém que se preocupe com elas, pelo simples fato de que elas não tem tempo pra isso, por já passar tempo demais se preocupando com coisas desnecessárias.

Coloquei a mão no queixo e com a outra, girei a flor, observando suas pétalas se moverem, conforme o vento dançasse por entre elas.

- Isso é muito bonito da sua parte, sabia? - murmurei, ainda incerto se ela havia escutado.

- Obrigada. - sussurrou, certamente havia escutado. - Acho que é por isso que ando entregando essas flores há tanto tempo. Quero ver as pessoas felizes.

- E onde aprendeu isso? - perguntei, curioso.

- Não sei bem... Acho que quando era pequena, antes de perder minha mãe. - disse, pensativa. - Mas tenho certeza que já ouvi ela dizer que era pra mim realizar meus sonhos.

Sorriu e pegou uma rosa branca de sua cesta. Olhou-a e sorriu.

- Acho que esse é meu sonho... Quero fazer o mundo feliz. - gargalhou. - Nem me diga que é impossível, já ouvi de muitas pessoas. Eu mesma sei que é impossível. Mas vou tentar.

Suspirou, colocou a flor de volta na cesta e se levantou num pulo.

- Mas tudo se torna impossível se não tentarmos. E como já ouvi por aí... - pegou a cesta. - Não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje.

Sorriu e acenou, indo embora em seguida, saltitando feliz.

É disso que o mundo precisa... Felicidade.

Levantei-me e peguei a margarida, colocando-a na grama de meu jardim.

E foi com ela que aprendi o verdadeiro significado de sonhar e de lutar para realiza-lo.

E o mais incrível era que ela sabia que era impossível fazer todos felizes, mas mesmo assim não desistia.

Me senti fraco, impotente em relação a ela. Nunca sonhei e nunca tentei fazer algo tão belo quanto isso. Mas principalmente me senti ridículo por ser apenas mais uma mera existência no mundo. Apenas mais uma mera pessoa que precisava das flores da Mel.

Ela com certeza era uma caçadora de flores. Uma caçadora de felicidade, mas não pra ela. Para os outros, era por isso que eu a admirava, ela era extraordinária.

FIM.

A Caçadora de FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora