Eu não queria ir embora de meu reino.Não queria abandonar minha mãe.Não queria enfrentar o mundo fora do oceano, não estava preparada pra isso.Mas a vida nos prega peças, e uma delas, foi abandonar toda minha vida pra se livrar do fardo de uma guerr...
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A multidão estava eufórica no meio das aguas azuis de meu reino.O povo aguardava ansiosamente a entrada de minha mãe, Annelice, a rainha do reino de Wolkarina.Acontece que estamos em guerra porque infelizmente o oceano é dividido em dois reinos, Wolkarina e Yolkarina.
-Meu amado povo, temos noticias péssimas, por isso, tentarei ser o mais breve possível...Yolkarina se revoltou contra nós, como prometiam fazer desde 300 anos atrás.Problemas pessoais, problemas em relaçao a politica e muitos outros, resultaram numa grande violencia que ainda mal começou, mas já esta ferindo minha alma.Não sei como vão atacar, nem como se resultará, mas prometo tentar trazer segurança e amor mesmo nesses tempos dificeis...
Minha mae falava com muita paz em seu tom de voz no seu trono dourado, em meio a seguranças e todas as sereias eufóricas, que choravam, se abraçavam, mas sempre uma ao lado da outra.
-Quero que estajam cientes...Cientes de que eu vou tentar o maximo de proteção nesses dias de guerra, mesmo sendo recente e eu parecendo estar calma, quero tanto que tudo se resolva que nem sei como expressar meu medo em perder minha familia.Os jornalistas vao estar acompanhando tudo e dizendo as noticias quando eu estiver ausente, eu amo voces.
Nesse momento, todos gritavam e choravam, querendo mais explicaçoes.Por que tanta revolta?Por que tanta violencia?Só Deus sabe.Minha vó veio chegando do meu lado, preocupada.
-Meu amor, voce ja sabia disso?
-Notei que minha mae estava estranha em casa, com olheiras e muito mais, mas nao desconfiava de nada.Ela nao comenta nada do reino comigo e com Clarice.
-Ramona, voce precisa entender que sua mae nao pode contar coisas a voce e sua irma.
Virei meus olhos pra cima, brava, e fui andando com minha vó ao encontro de minha mae.
-Filha, nao podia ter te contado nada.A situaçao é preocupante por aqui, e Clarice tambem é muito sensivel apesar de ter 20 anos, só sabiamos eu e seu pai.
-Ta eu entendo, mas nao sou sensivel, podia ter me dito.
Minha mae fingiu que nao ouviu e começou a dispensar os jornalistas oficiais, enquanto me puxava pelo braço pra irmos pra casa.A multidao nao parava, protestavam querendo explicaçoes do motivo de tanta revolta.Tudo estava estranho quando se tratava da minha vida.Guerras no meu reino, minha mae estranha e tendo que ser responsavel por tudo, minhas amigas afastadas pelo meu jeito bruta...Enquanto eu tive uma adolescencia com todo amor e tudo que eu queria, minha adolesencia estava cinza, fria e cada vez mais distante do que eu sonhei.
Chegando em casa, dei de cara com minha irma penteando seu cabelo loiro e sedoso.
-Por que tu tao quieta tanto, irmazinha?
-Bom Clarice, deve ser porque nosso reino esta no meio de uma guerra.
-Hahaha, por favor.Essa guerra é uma besteira, aposto que é só midia.
-Sim linda, pessoas chorando, nossa mae preocupada e nossa vó quase morrendo sao apenas midia, pensamento lindo esse seu.
-Lindo como eu, alias.
Ela passava creme e mais creme no cabelo que ja ficava oleoso.
-Voce deve ser desse jeito porque o creme ja esta estragando seu cérebro.
-O que disse?
Ela nadou ate o fim de seu enorme quarto, pegou um bastao de ouro e veio até mim.
-Fale de novo do meu cerébro, ou...qualquer coisa idiota, e eu acabo com voce.
Comecei a rir muito, até que minha mae surgiu.
-Meninas, menos brigas e mais rapidez, temos que conversar.
Enquanto nadavamos nas escadas, eu pensava o quanto era infeliz em relaçao a minha irma.Nao podia pedir conselhos nem apoio, porque ela era completamente egoista e precisava pisar em cima de todos pra se dar bem, inclusive de um parente.Midia?Ela tem certeza disso?
Minha mae se sentou e, ordenou que fizessemos o mesmo, juntamente com nosso pai.
-Como sabem, essa guerra vai ser preocupante, e peço o apoio de voces nesse momento dificil.
-Mae, por que nao apoiariamos?
-A midia vai tentar extrair muito de voces, e nao quero que deem detalhe nenhum sobre como as coisas andam.-Meu pai disse cruzando os braços.
-Nao queremos tambem que voces saiam com as amigas nem pratiquem nenhuma atividade.Sei que é chato, mas prezo pela segurança de voces agora.
-OI?Eu ouvi direito?-Clarice falava indignada-Voces querem cortar meus encontros, baladas, esportes, por causa de uma midia?
-Que midia, filha?Todos estamos sujeitos a morte!
Ela ria ironicamente e saiu da mesa, nadando até a sala.
-Ramona, eu e seu pai temos que conversar com voce, mas só voce vai saber.
Eu me posicionei esperando o pior enquanto eles me olhavam nos olhos.
-Pode parecer loucura, mas voce terá que ir embora daqui, e ir pra Miami como uma pessoa comum.
-Desculpe, que?
-Sua irma ira ficar pra ajudar pois ela é mais velha, mas voce vai ir, vai ficar sem cauda lá e vai morar na praia, em um apartamento.Nao precisa estudar, so minta sua idade pra nao ir.Vamos conseguir emprego pra voce mas por favor, nao namore ninguem de la, nao se envolva em relaçoes.
-Sera que eu posso pelo menos ter a chance de recusar isso?Clarice nao tem cerebro e desculpem, mas esta se lixando pra guerra.Ela é apenas 3 anos mais velha.
-Ainda somos seus pais e ate o fim dessa guerra voce vai.Nao queremos nossa filha vendo o pior acontecer!
-Além de tudo, nao vou poder apoiar minha familia?Por favor, eu amo morar no oceano e voces sabem muito bem quem é a filha que mais se importa com isso aqui.
Meu pai falou meio impaciente:
-Ramona, esta decidido, enquanto voce dormir essa noite vamos fazer com que vá, mas nao vai doer, nao se preocupe.
-Ah sim, e vao falar o que pro povo, que evaporei?
-Nao, que voce foi tirar ferias de uma situacao como essa.Agora suba, mas antes, se despeça de nós.
Entao era isso?Ia simplesmente dormir e acordar num apartamento?Isso é loucura.Querem me afastar de tudo que sempre tive, por uma guerra.Essa era a hora que meu reino precisava de mim, e eu nem ao menos pude realizar meu sonho de ser uma ótima princesa.Querem me fazer refazer minha vida com 17 anos num lugar que nem conheço, com pessoas que nao conheço.
Minha mae veio me dar um abraço e meu pai tambem, enquanto eu estava furiosa com aquela ideia nadando nas escadas.
Mal eu sabia que realmente seria um dos meus ultimos abraços com as pessoas que eu mais amava, no lugar que eu cresci.
