Capítulo 1 sem título

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O grande salão imerso em penumbra. O suficiente para discernir formas básicas. Sem cor. Sem detalhes.

Ar parado como se estagnado, uma câmara trancada do restante do mundo. Uma área destinada a permanecer, não transitar. Alheia ao tempo. Estranha. A densidade do ar o fazia desagradável, mas não venenoso em sua sufocante condição, e logo se era possível acostumar ao acre odor de mostarda velha caso se desse tempo para apreciar a amplitude do lugar. Aberrante. Largado ao tempo de coisa alguma. Por que não havia poeira em nenhum lugar?

— Mas que car... — o primeiro visitante não necessariamente chegou à sala quanto foi atirado para ela. Surgiu. Da exata forma que a sala em si coexistia nas brechas da supra-realidade. Vindo de um ponto certo para coisa nenhuma, e aturdido como chegara, hesitou a fazer qualquer movimento. Até a interjeição se deteve sem sair por inteiro.

Havia aparecido de forma abrupta, tal qual tropeçasse em um relevo da calçada e caído desajeitadamente. Levara uma mão à frente do rosto para salvaguardar a pancada com o chão, outra estendida à frente de forma a diminuir o impacto. Apenas este não acontecera. Sem impacto. Ao contrário, e tendo que não tinha realmente tropeçado em nada, visto que estava antes sentado no sofá de casa, sentira algo próximo de um soluço e reaparecera ali. No grande salão fedorento desconhecido.

Ajeitou-se imediatamente. Olhos arregalados, parte tentando entender o acontecido, outra parte lutando para aferir lógica a ele. Não havia qualquer chance para ambos. Girou nos calcanhares buscando uma maneira de entender o lugar em volta, olhos se apertando na busca de focalizar detalhes que lhe dessem alguma pista.

Nada.

"Onde é que eu tô?", pensou.

Sem conclusões.

— Tem alguém aí? Oi? Alguém? Ninguém? — esperou ainda alguns minutos na esperança de ter uma ou mais de suas perguntas respondidas. Porém, inquieto como sempre fora, logo desistiu e pensou em algo mais proativo para melhorar a situação. Andou aonde parecia se escorar uma vasta mesa central e, sem ainda conseguir discerni-la devido ao breu, tocou-a com as pontas dos dedos enluvados. Precisava verificar não estar meramente alucinando. As pontas das luvas voltaram sem quaisquer resíduos. O quê aquilo queria dizer?

O resultado do toque voltou a seu cérebro com respostas esquisitas. A segunda ainda demoraria a ser processada dada a falta de parâmetros; a primeira parecia clara, e o homem sentiu-se estupido por ter demorado tanto a notar.

Ele não usava luvas enquanto jogava no sofá de casa.

— Eita porra! — o berro na sala fez o homem se virar. Vinha de trás dele, do ponto no qual entrara também. Poderia ter amenizado o susto se tivesse se dado a chance de reconhecer a voz. Na falta desta, soltou um soluço fino que não admitiria nunca ter saído da própria garganta.

— Floyd? — perguntou incrédulo, ao notar as formas assustadiças do mais novo recém chegado. — É você?

— Mr. Luka? Que inferno! Eu tentando sonhar com atrizes pornôs e é isto que eu ganho? Rápido, dá aqui um tapa na cara pra eu acordar! Assim que puder te devolvo, quando te vir de perto a próxima vez!

— Não, você não tá dormindo — respondeu. Os balbucios oníricos do amigo o irritaram ao ponto de esquecer o absurdo da situação. Andou para perto dele. — E antes que fale qualquer coisa, também não tenho a menor ideia de que lugar é este ou como vim pra cá. Tava jogando Dead Space largadão no sofá. Daí espirrei e quando abri os olhos já tinha vindo pra aqui.

— Bons tempos quando a gente jogava, lembra da vez...

— Acorda! Foca na treta aqui! Eu surto pra esta sala, depois cê me aparece do nada e vamos ficar relembrando gameplay? Isto não é real, cara! Não pode ser, tem que ter outra explicação. Qualquer chance de a gente compartilhar um sonho teu? Porque se for a culpa é tua, que eu tava bem acordado e preferia continuar...

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