Prólogo - A Vida

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"Nós somos tão frágeis quanto o cristal mais puro."


Sherry P.O.V

1 ano atrás

Despertei cedo naquela manhã, me preparando para mais um dia na escola. Desci as escadas sem um pingo de pressa e tomei meu café em pé, colocando minha mochila em um dos ombros.

"Saí cedo porque... quero um tempo para mim", essa foi a mensagem que escrevi em um papelzinho e prendi com um ímã na geladeira para que meu pai lesse assim que acordasse.

Coloquei o meu casaco jeans e fechei a porta atrás de mim, caminhando pela calçada em passos lentos e silenciosos. E lá estava eu, mais uma vez, saindo da minha casa antes das 6:00AM apenas para apreciar a quietude da manhã. Isso pode parecer estranho, mas é bom. Solitário às vezes, mas bom.

Senti um vento gelado me atingir e cruzei os braços, sentindo em seguida, algo frio tocar em minha mão. Olhei-a quase que imediatamente e vi gelo derretido. Neve. Estava nevando. Era uma neve fraca e suave, embelezando o céu de uma maneira esplêndida. Parecia que o céu estava borrifado de respingos de tinta branca. Aquilo, de alguma forma, lembrou-me de minha mãe.

- Será que você está me vendo? - Questionei baixinho para mim mesma, deixando um floco de neve cair sobre minha mão e o observei derreter. - É, eu sei que não... - Murmurei cabisbaixa, voltando a caminhar.

A escola ficava um pouco longe da minha casa, de modo que se eu continuasse andando naquela velocidade, chegaria lá por volta das 6:30AM. Me lembrar de que teria que enfrentar mais uma vez aqueles olhares sobre mim, me fazia querer a minha bela cama durante o resto do dia. Hoje faz um ano que minha mãe foi embora. Um ano que tento levar a vida para frente, um ano que tento sorrir de verdade, um ano que tento encontrar a parte de mim que eu perdi. Na verdade, eu sei que não perdi uma parte de mim, porque ela foi embora junto com minha mãe. No dia em que aquele maldito carro se desgovernou, no dia em que aquele maldito telefone tocou e no dia em que aquela maldita notícia chegou aos meus ouvidos, eu sabia que não seria mais a mesma. Todos sabiam, na verdade. Por isso que não me culpam por estar e ser assim. Por querer viver isolada do mundo, perdida em lugares que só eu conheço. Um lugar em que minhas sombras são minhas amigas, um lugar em que eu finalmente encontro a paz que eu tanto procuro.

Desviei do trajeto da escola e segui até o único lugar que eu evitei durante todo o ano. Caminhei lentamente até encontrar o pequeno murinho, as grades... e as lápides.

O cemitério foi um dos lugares que eu nunca havia ido desde que minha mãe partira. Era doloroso demais para mim ver que seu corpo estava debaixo da terra, distante de mim e de meu pai. Suspirei profundamente antes de entrar, lendo os nomes em cada uma daquelas pedras personalizadas.

Depois de uns minutos procurando, encontrei o seu túmulo. Haviam construído uma espécie de proteção de mármore ao redor da terra, colocado uma lápide melhor e enchido a parte superior de flores, que estavam morrendo devido o frio e o tanto de tempo que passaram ali.

"Aqui jaz Julie Flaribay, esposa e mãe dedicada."

Em outra ocasião, eu até riria daquela "frase de efeito" que havia na sua lápide, mas quando dei por mim, lágrimas de dor e saudade desciam pela minha face. Era difícil ter que encarar a realidade de que a sua mãe foi embora para uma viagem que só tem ida. Era difícil ter que lembrar de tudo que nós já tínhamos passado e vivido. Seu sorriso, seu abraço, seu amor... Ela era tão única, tão maravilhosa...

- Eu te amo tanto, mamãe... - Murmurei, olhando para a sua imagem na lápide. - Como a senhora está? Quero dizer que eu não estou nada bem. Hoje faz um ano que você partiu. - Funguei, sentindo meu coração apertar a cada palavra dita. - Hoje faz um ano que a senhora foi para o céu, um ano que eu perdi uma das coisas mais preciosas da minha vida. - Abaixei a cabeça, passando a costa da mão na bochecha. - Eu só queria que tudo voltasse a ser como era antes, sabe? Mesmo que a empregada nova que o papai contratou saiba cozinhar, eu não consigo parar de comparar as comidas dela com as suas. Eu amava as suas panquecas. - Ri fraco, levantando o rosto e olhando novamente para a foto. - Só queria que a senhora estivesse aqui comigo, para eu lhe dar mais um abraço e dizer de novo que lhe amo! Por que você teve que ir, hein? - Quase gritei, balançando a cabeça negativamente. - Hoje vai ser um completo saco na escola, com certeza. Eles vão me olhar com mais cara de piedade que já me olham todos os dias. Vão querer me confortar, dizer que se importam, vão ser falsos. Eu não aguento mais esse mundo sem a senhora, mamãe. Eu quero seu abraço! Ah! A senhora não sabe o quanto eu sinto falta do seu abraço!

We Are Real - Shawn MendesWhere stories live. Discover now