Conto

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Você disse que se ama hoje? Indiretamente, quantas vezes você disse? 

Sabe aqueles dias em que você só espera sua mãe ir dormir para descer as escadas do seu quarto, ligar a televisão e assistir todo tipo de porcaria que está passando? Pois é, minha infância foi assim, eu era um menino franzino e muito corajoso apesar de nunca ter testado minhas habilidades em algo realmente relevante, curtia muito a ideia de um dia poder testemunhar um apocalipse zumbi de perto. Quando esse dia chegou, eu já estava preparado, mas não sejamos tão rápidos deste jeito, primeiro deixe eu me apresentar a você, meu nome é Roberto, atualmente sou aluno do terceiro ano do ensino médio, o tipo nerd é o mais desvalorizado em meios sociais, mas quando se trata de algum trabalho somos os primeiros a serem cobiçados até pelos que nos caçoam. Continuo magro e cheio de sardas em meu rosto, meu cabelo é curto e negro como piche, sempre uso roupas maiores afim de ter mais liberdade nos movimentos, estudei na mesma escola por praticamente toda minha vida, vendo os mesmos rostos todos os dias e falando as mesmas bobagens que um adolescente diria, a única diferença de mim para os outros é que eu estava preparado para quando os zumbis acordassem e começassem a morder todo mundo. Destitua todo seu preconceito com os zumbis: eles não são seres tão terríveis assim, apenas são mal entendidos. Quando produzi vários desenhos sobre como imaginava os zumbis contemporâneos, me surpreendi que nenhum deles era como eu havia previsto, eles não tinham atitudes assustadoras ou comiam cérebro só por comer, eles eram evoluídos e sabiam muito bem o que estavam fazendo, um exemplo disso é o modo como olhavam para os que não estavam infectados, parece que liam as mentes, os pensamentos, os medos de cada pessoa e os usavam a seu favor. Leio muitos livros, bom, eu lia antes de tudo isso ter começado e a biblioteca ser dominada por otários armados, que atiravam em quem se aproximava por pura diversão, meu único entretenimento antes do início do surto era estocar suprimentos escondido da minha mãe, pois ela alegaria que eu estava virando um terrorista que planejava explodir um prédio comercial. Meu nome é Roberto, pelo menos eu tinha um nome até que o arrancaram de mim, hoje me chamo apenas de sobrevivente, ou doido da motosserra que mata zumbis. 

Me chame de Nanda, mesma sala de Roberto, não irei dizer muito sobre mim, espero que você, leitor, entenda que não sou muito de dar risadas e fazer brincadeiras, somente quando tenho certeza que estou segura. Se me acha chata neste momento, creio que você seria o primeiro a ser mordido por um zumbi sem dentes, se é que isso é possível, visto que todos daqui pareciam ter um plano odontológico muito caro. Visto roupas de couro, só isso, nada de muito rosa ou verde, nada muito colorido para não chamar atenção, meu cabelo  é preto e acaba na altura dos ombros. Sou quieta porém muito ansiosa, sempre tive dificuldade em ter controle sobre meus sentimentos, as vezes explodindo em raiva ou tristeza, criando um paralelo entre a loucura e a sanidade. Mate ou seja morto, esse é meu lema e nunca fez mais sentido como os dias atuais, mas, antes de te jogar no meio de seres famintos por carne humana, primeiro, conheça esta história do começo. 

A escola de Nicole D. Weiss era o que chamávamos de um paraíso para crianças especiais, diversificada com as mentes mais inteligentes e as mais fascinantemente idiotas, dando uma infinitude de estupidez coletiva que só parava quando alguém tirava nota máxima na prova de matemática. Era um prédio de cor âmbar renovado, havia três portas principais para a entrada e saída dos alunos, uma saída de emergência e ao lado, uma porta para funcionários da diretoria ou professores, sendo todas muito bem reforçadas e protegidas por um guarda armado chamado Luiz Lima, um homem muito robusto com uniforme limpo e bem passado, sempre sorridente e otimista com os alunos, todo mundo o conhecia pois trabalhava naquela escola desde que completou vinte anos, no momento sua idade era sessenta, um homem negro que sempre tinha uma lição de moral ou história de superação para contar, seu cabelo era rebelde e ele não ligava para o que pensavam sobre ele, afinal, ele era a única pessoa com uma arma ali e que estava realmente preparada para o perigo do dia a dia. Ao adentrar o prédio, verá um balcão alto feito de mármore com uma atendente atrás chamada Beatriz Costa, uma moça de cabelo loiro amarrado em coque com algo parecido com palitinho de hashi, ela era muito metódica e tinha sempre uma papelada nova a completar, assinar ou jogar no lixinho ao lado de sua cadeira, tinha trinta anos mas possuía uma beleza irresistível que dava inveja até mesmo nas alunas mais paparicadas daquela escola, atrás dela tinham mais ou menos treze portas, cada uma com um número diferente e professor gritando, rindo ou chorando de felicidade pois o aluno bagunceiro tinha sido expulso por desrespeito, produzindo um misto de sons humanos. O banheiro era grande comparado ao das outras escolas, não podemos dizer o mesmo da higiene por que as faxineiras estavam de greve pelo atraso do salário e ninguém queria ganhar atrasado para limpar latrinas. Conto a vocês certo conto de uma arma achada dentro de uma caixa de descarga, ninguém havia sido incriminado e todos eram considerados suspeitos, a arma foi achada por um jovem de dezessete anos chamado Samuel, um rapaz tímido e muito branco, parecia um fantasma quando passava no corredor, chegava a assustar alguns colegas seus chegando de mansinho, apesar disso seu coração era muito bom e sempre que podia, ajudava os necessitados e aflitos academicamente. Mente quem fala sobre nossa mente ser tão fácil de compreender, as merendeiras não deixavam você repetir a comida mas se dissesse que estava passando fome, aquelas senhoras corriam rapidamente para as panelas, servindo o máximo de comida em seu prato. O grande mistério desta escola era como havia tantos professores mal humorados, seria um imã para desgraça como o triângulo das bermudas? Seria a hipotenusa dos chatos-de-galocha? 

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