Joana

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Meus caros amigos, se encontrarem este registro em áudio saibamque não estou louco, nunca estive, enfrentei algo além de todas aspossibilidades humanas, algo maior que eu e que a história de nossajovem espécie. Se diante de meu relato ainda por louco meconsiderarem deixo um aviso: Não investiguem qualquer informaçãodada aqui.


Euhavia acabado de acordar, o dia anterior fora especialmentemovimentado, a casa de Joana estava em festa, e as festas dela sempredavam o que falar, as vezes muita bebida, as vezes um bacanal sabe?Todos da empresa iam, e eu não sou de ferro afinal. Para coroarminha boa sorte, peguei Joana, uma gostosa de primeira linha, todosqueriam comer aquela loira, meus colegas não cabiam em si de inveja.Sabe aquela gostosa que para o trânsito? Pois bem, uma loirapaniquete, quadris largos, seios médios, nem gorda nem magra, umsorriso que derrete qualquer iceberg, ah Joana, que noitemaravilhosa!

Eu sabia que hoje nada iria ser diferente, que ela me cumprimentarianormalmente, não trocaríamos olhares, nem beijos. Depois de Armandoeu fui o primeiro a sair com ela, ele por outro lado não possuía acompreensão que eu sempre tive: Aquelas festas eram curtição, nadamais. Armando acabou pedindo demissão, nunca mais foi à empresa,abalado pelas insistentes negativas dela talvez.

Fiz minhas rotinas diárias, tomei café, fiz a barba, escovei osdentes. Um deles estava mole, mole mesmo, igual quando meus dentes deleite caíram, engraçado como isso te abala, aos 30 anos com umdente mole era algo temeroso, logo um dos caninos, ficaria horrívelse ele caísse sabe? Toquei para sentir se estava solto e ele veio emminha mão. Um desespero me preencheu naquele momento, como veriaJoana com uma janela em minha dentição? Oh Cristo! Que má horapara aquilo acontecer!

Fui trabalhar, afinal né? Nem só de aparência vive o homem. Naagência de telemarketing cada um trabalhava em seu cubículo, erampequenos, incômodos e movimentados, muitas ligações por hora. Vejabem, eu era o supervisor do local, Joana por outro lado uma meraatendente, daquelas que trocávamos a cada seis meses sabe? Ela, noentanto estava há 5 anos em sua função. Fiz minha ronda rotineirapor todos os locais, a cumprimentei, ela me olhou.

Havia um sentimento diferente ali, o que seria? Não conseguidetectar, mas respondeu meu cumprimento. Vários colegas sorriam e meparabenizavam pela conquista, foi divertido e tudo tranquilo até omeio da manhã.

Ao digitar uma senha percebi que a unha do meu dedo anelar estavasuja, algo cuja cor variava de marrom para preto a impregnara, nãolembrava de ter mexido em graxa ou óleo de motor, mas como haviabebido no dia anterior creditei o erro à minha memória. Fui até obanheiro, molhei as mãos e comecei a esfregar a unha com sabão,primeiro levemente – mas aquilo não saia – depois vigorosamentepor um longo período, parei então e olhei de perto: estava porbaixo da unha, não por cima como imaginei inicialmente.

Toquei, nada senti, empurrei a unha, nada, então coloquei meu dedode frente aos olhos e observei entre a unha e o dedo, havia umpequeno espaço ali, bem onde deveria haver pele sabe? Empurrei aunha com cuidado para cima, senti como se um velcro muito suavedescolasse, sem dor a unha caiu. Algo frio caiu em meu estômago,primeiro o dente, agora a unha? Havia algo errado, mas o quê? Fuiaté meu chefe e pedi-lhe licença, precisava ir ao médico, comoprova mostrei o dente faltando e a unha que caíra, ele me liberaracom um misto de horror e nojo do que mostrei, como se ele pudessealgum dia saber pelo que passei, ingênuo por certo.

Todos os exames deram normais, não havia nada de errado comigo,exceto a unha claro, o médico informou que havia sinais de necrose,fez uma raspagem e me avisou que ela nunca mais cresceria, aindasegundo ele poderia ter resultado de um trauma muito grande na regiãoou algum problema circulatório, recomendou que eu procurasse umangiologista para me certificar. Não me senti satisfeito, algoestava errado e sabia disso.

JoanaWhere stories live. Discover now