I

415 44 2
                                    

Ela cambaleava pelas calçadas Hongdae, sua cabeça estava tão movimentada quanto aquele lugar às quatro horas da manhã. Arranhava a si mesma e tentava não evitar que seu corpo tremesse pelo frio que machucava, procurando a uma dor maior da que sentia.

Felizmente não chamava nenhuma atenção. Naquela noite não era importante para ninguém, era mais uma bêbada em meio outros bêbados. Tentava se convencer a pensar assim até perceber que queria que a notassem e precisava de alguém perguntando o que tinha acontecido ou se estava bem.

TaeRi se deixou vencer pela dor que carregava e pelos olhos embaçados, não só pela bebida ou os fios de cabelo escuro que caíam em seu rosto, mas pelas lágrimas que insistiam em lembra-la do que aconteceu mais cedo.

Naquela mesma noite a algumas horas atrás, o garoto que prometeu ficar ao lado dela, ama-la e por tanto tempo mentiu que não se importava e entendia os problemas que a menina tinha, sorria para uma qualquer, beijava uma qualquer e não percebia a presença de TaeRi vendo a cena.

Quando o mesmo a viu de longe e notou suas lágrimas sendo refletidas pelas luzes, correu atrás dela. A garota pensou que pelo menos iria ouvir um "sinto muito" e iria poder virar as costas quando ele dissesse isso, mas não foi o que veio dele.

"Sabe, eu não queria que fosse assim Ri, mas você sabe que quase tudo relacionado a você é tipo... impossível?"

Ele sorriu com o canto da boca, e normalmente TaeRi amava seu sorriso, mas dessa vez foi tão debochado que a fez ficar pior ainda.

"Além do mais, você tem esses transtornos de sei lá o que..."

Ela murmurou palavras de ódio tão baixo que ele nem se quer ouviu.

"Que são ridículos demais pra uma mulher crescida, eu achei alguém e você devia fazer isso também antes que todos comecem a ver a pequena Kang Tae Ri como eu" então ele riu e virou as costas.

Seu corpo caiu no piso gelado e sujo, deu socos tantas vezes na parede de concreto ao seu lado que o sangue corria e manchava suas mãos. Naquela noite fria, ali mesmo em um sorriso debochado e palavras tão afiadas quanto uma faca, se iniciou dois de seus vícios. Esses dois primeiros se assemelhavam muito.

Eram tão transparentes quanto vidro. Um escorria por sua gargante e o outro por seu rosto. Os dois faziam seu corpo queimar e lhe davam prazer. Os dois vinham dos mesmos motivos.

Esses dois primeiros vícios. Suas lágrimas vindas da tristeza e o álcool.

Pensou que seria só por uma noite, prometeu que beberia e choraria só por aquela madrugada que logo se tornou duas ou três, agora perdia as contas de quantas vezes se encontrava jogada em uma rua qualquer sem seus sentidos.

Esses vícios a faziam esquecer e ela queria esquecer. Eles não começaram por uma única razão, a menina não aguentava mais esconder a tristeza por trás de um sorriso e aceitar que mesmo mostrando seu sofrimento, ninguém veria o tamanho do estrago que tinha causado em si mesma toda vez que dizia "está tudo bem". Se sentia culpada por não conseguir nem se quer olhar nos olhos de alguém sem queimar por dentro, mas mesmo assim continuava incendiando a si mesmo sem perceber.

Não tinha onde se segurar então cada vez afundou mais, logo poderia acha-la trancada em seu pequeno cômodo alugado acendendo o oitavo cigarro. Nunca pensou que um dia se veria assim, se destruindo.

Ela era tão feliz, ou melhor, já tinha dito isso tantas vezes que passou a acreditar na própria mentira.

Do outro lado da grande Seoul em um dos restaurantes que ficava escondido entre os becos de Itaewon, o menino pálido tentava esconder ao máximo os soluços pelo choro que não controlava mais. Na mesa ao seu lado, uma menina o olhava e logo ele reconheceu, ela era razão pela qual chorava.

A chamou várias vezes até atrair olhares de quem estava sentando em volta, quando percebeu que chamava atenção, voltou para realidade. Ela não iria voltar, ela não iria sentar com ele novamente, ela não iria sorrir quando chamasse seu nome, ela estava morta e BaekHyun não poderia evitar pensar nisso como sempre fazia com o que não se importava.

Bateu na mesa com toda força que tinha e soltou um grito abafado que segurava desde mais cedo, isso foi o estopim para que explodisse em lágrimas sem ligar para as pessoas em volta. Elas não sabiam o que ele tinha passado naquele dia e mesmo assim olhavam-o de cima a baixo, julgando.

Se ele tivesse a acompanhado no dia anterior isso nunca teria acontecido, como BaekHyun descuidou tanto de quem amava? Ele dizia para si mesmo que era um monstro, no fundo sempre soube que não iria proteger ela de tudo e se odiava por isso.

Naquela manhã recebeu uma ligação tão fria quanto a bebida que estava tomando, a pessoa do outro lado falou com tanto desinteresse que o fez arrepiar.

"Você é o responsável por Ra Mi-Ran?" ele consentiu "Bom, ontem a noite recebemos uma denúncia e a encontramos nessa madrugada, sentimos por sua perda"

BaekHyun procurou por palavras para responder, mas não achou nenhuma. Era impossível achar qualquer coisa que fosse do tamanho da dor e confusão que sentia.

"Com licença? Você poderia identificar o corpo juntamente com a família para que ocorra o enterro?"

Tão frio. Tão simples. Tão impessoal. Tão repugnante.

Um assassinato de uma garota doce e amada, jogada sem vida em um rio qualquer. Ele ficou parado por horas olhando para parede branca preenchida por seus desenhos retratando a menina, não teve coragem de ir ver o corpo ou nem se quer ir ao enterro.

Ligou para os pais da garota e pediu perdão tantas vezes que sua voz falhava, pegou todos os papéis coloridos por sua arte que estampava o rosto de Mi Ran e queimou. Queria queimar a si mesmo, mas achou que não podia ter o luxo de acabar com tudo sem sofrer pelo que fez.

Foi até o local onde se conheceram, o restaurante onde a história de BaekHyun começou. Ouviu a voz dela tantas vezes que quase acreditou que estava ali, após ficar sentado no mesmo local sem pedir uma coisa se quer, teve de ir embora quando a garçonete avisou que estavam fechando.

Antes de sair comprou algumas, várias, ou melhor, muitas garrafas de Soju e levou para onde morava. Trancou-se no banheiro do minúsculo apartamento e engoliu todas as pílulas que encontrou no local, em seguida tomou quantas garrafas podia até não conseguir mais abrir os olhos.

BaekHyun foi salvo na manhã seguinte pela dona do prédio que foi cobrar a conta água do mesmo, foi para o hospital e sobreviveu após ficar semanas internado. Ele não queria isso, mas estava vivo.

Foi a primeira vez de muitas, então aquele virou um de seus vícios.

Nos anos seguintes continuou se destruindo dessa forma. Deixou seu desenhos e talento de lado para acender os cigarros, fingia deixar seu passado para trás toda vez que o álcool tocava seus lábios, deixava a mostra suas cicatrizes nos braços, pernas, barriga para sempre lembrar do que fez.

BaekHyun e TaeRi descobriram uma forma de esquecer, achavam conhecer todos os vícios do mundo depois de tantos anos procurando por algo pior que sua dor. Mal sabiam que não conheciam o pior de todos, o que destrói mais que qualquer droga e queima mais que qualquer álcool.

Amar alguém é o pior vício que um ser-humano poderia conhecer e como os dois sempre procuravam por novos, talvez esse seria o próximo.


sejam vem bindos, dêem amor a intoxicated ♡

intoxicated || byun baekhyunKde žijí příběhy. Začni objevovat