Capítulo Único

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Ana se considerava poeta.

Ela sabia que a poesia tinha três elementos distintos, porém principais.

A alma de quem escreve

a mensagem escrita

e a alma de quem lê.

Ela também sabia que a alma de quem escreve tem muito mais de outra pessoa do que dela mesma. A embriagues da alma complementava a mensagem escrita de Ana para vitória.

Vitória, aquele parecia ser o problema da alma de quem escreve, que era mais vitória do que Ana.

Ana também sabia que a vida era como música, a letra poderia ser triste ou feliz, mas bastava a adição de uma melodia e pronto, ficava bela como a silhueta de vitória ao por do sol, e se Ana era letra e vitória era melodia, ela sabia que a vida ficava melhor quando vitória ficava junto.

 A música de Ana era mais Vitória que a própria vitória, porque nem a própria já foi capaz de enxergar em si a beleza que Ana enxergava. Porque? Porque Ana via a atmosfera mutar-se para a passagem de vitória. 

 Ana via o mais solitário dos cantos escuros do quarto, ser tomado de uma energia eminente, invisível, positiva, toda vez que vitória ascendia o quarto sem tocar o interruptor. Bastava que chegasse, o calor do aquecimento de seu coração, dos seus corações, das almas levitando, era o suficiente para iluminar as trevas que assolavam esse mundo. 

 Ana sabia que qualquer pedaço de mar do mundo daria da sua água, seria capaz de aceitar a seca se isso significasse transformar vitória em sua sereia.

  Ana via que, em qualquer época de qualquer encarnação, seria capaz de se apaixonar milhares de vezes pela mesma vitória, pela mesma áurea positiva, pela mesma primavera de alma. 

 Ana sabia que qualquer rio teria vontade de se transformar em dois, pra cruzar com o rio que vitória tinha no peito, que transbordava o bem. 

 Ana sabia que nenhuma língua ou idioma no mundo seria capaz de sustentar, em seus "eu te amo" o amor que sentia quando a via recitar um dos seus poemas. 

 Ana e vitória eram mais que colegas, eram Ana & Vitória. Passariam por inúmeros tempos obscuros se, para Ana, isso significasse que ela escutaria vitória falar dos motivos para preferir flores de plástico as vivas. E, depois delas, se existisse um "depois de você", Ana ainda escutaria milhares de vezes "I hate u, i love u", sentaria sob uma jabuticabeira, "A jabuticabeira" conhecida por elas, conhecida como "quando suas bocas se conheceram pela primeira vez" e pensaria em motivos para continuar amando Vitória. 251 ou mais, tudo pra relembrar da colisão que teve um dia com ela. O seu segundo sol. Se tivesse que apostar, sabia que seria tudo denovo, todo esse quase sem querer, essa (c)alma.

 Vitória, sua tolerância era o antídoto para a dor, o tédio, a ânsia. Ana sabia que a alma de vitória era quase tão livre quanto uma pipa, mas vitória sempre lhe dizia que pipa precisa de alguém pra ter direção, pra não cair, pra não perder o sonho.

 Vitória tinha planeta de cores nos olhos, que podiam ser verde, castanho esverdeado, podiam ter cor de floresta, de marte ou só de perdição. Um olho de não sei o que, que mesmo não se sabendo, te lê como um livro aberto. 

 Era trevo, chamego, dengo. Ficava, mas, ninguém segurava quando queria ir. E, se um dia tivesse que aceitar o fim do que era agora, jamais esqueceria do quão linda era. Jamais esqueceria que poderia casar em paris, Araguaína, são paulo ou no raio que o parta, dês de que fosse casar com ela. 

 Jamais esqueceria que era por ela, por causa dela, pela alma dela, que Ana era poeta. Ana se considerava poeta, porque sabia que a vida era como poesia, triste ou alegre, bastava uma declamação, para derramar boniteza.

 Ana era poeta e vitória sua inspiração, e Ana era poeta e vitória a declamação.

Ebulição (oneshot)Where stories live. Discover now