Já eram quase três da tarde e o jovem de 22 anos não tinha a menor intenção de acordar em breve. Na noite anterior havia saído para fazer aquilo que fazia com que sua semana valesse a pena: encontrar um rostinho bonito nas festas de Manhattan e leva-lo até sua casa. Após conversarem um pouco e beberem algumas cervejas, ele conduziu a linda garota de quem jamais se lembraria o nome para seu quarto.

Lá pelas nove horas daquela manhã de domingo, ele acordou com um rostinho apenas um pouquinho menos bonito dizendo-lhe que precisava ir embora e que já iria chamar o Uber. Já que fora infelizmente acordado, ele poderia ao menos tornar a situação não tão ruim para si. Se a garota tinha mesmo de ir ele não sabia, mas ela acabou ficando por mais uma meia hora. Não entendia porque a maioria dos homens vivia reclamando de que não conseguia sexo matinal. Quando ele queria, conseguia.

Com mais uma aventura passageira chegando ao fim, ele enfim pôde voltar à segunda melhor coisa da vida, dormir, logo abaixo de transar e por pouco acima de beber e comer, que estavam empatadas. Antes de se atirar na cama, contudo, ele recolheu as latas de cerveja da noite anterior. Podia não se importar com muita coisa na vida, mas higiene era essencial.

Os ponteiros do relógio, que até então marcavam 3 horas da tarde e 22 minutos, como deveria ser, começaram a avançar e voltar obstinadamente, como se uma criança estivesse a brincar com eles. Junto de tal fenômeno, não só o relógio, mas também a louça no escorredor e os vidros das janelas começaram a tremer. O relógio se moveu tanto que acabou escapando do encaixe na parede, encontrou o chão e quebrou.

1

Dave sonhava com o som estridente penetrando em sua mente. Se o som parasse, sua mente novamente iria afundar-se em seu sono pesado. Porém, sua consciência era chamada à superfície pela maldita campainha.

Por que diabos não mandei instalar uma campainha menos irritante? pensara ele, apenas para responder a si mesmo em silêncio. Porque não tenho dinheiro.

Chateado por ter sido acordado precocemente, Dave levantou-se para atender a porta. Seus cabelos, compridos para um jovem adulto, estavam totalmente emaranhados. Usava apenas uma regata de algodão e uma cueca samba-canção, exibindo mais pele do que se sentiria à vontade caso não tivesse acabado de acordar e com o cérebro apenas começando a engrenar.

Apoiou um braço no batente da porta.

"Bom dia" disse.

Sua vizinha, mesmo tendo percebido que estava importunando Dave com sua presença, não pôde deixar de falar.

"Já são três da tarde."

Dave apenas a encarou, sem se importar com a observação, esperando que ela dissesse logo o que queria.

Como era chamada mesmo? Srta. Wang? Shang? Yang? Nunca conversara direito com ela. Lembrava-se dela apenas como a vizinha chinesa que deveria estar no fim dos seus 40 anos ou no começo dos 50.

"Com o que posso ajudar?"

"Dave, não é?" indagou ela com seu sotaque carregado, e Dave se sentiu menos culpado por mal lembrar seu nome. "Estou com problemas. Minha filha... acho que você pode ajudá-la."

Da pequena bolsa que trazia consigo, a Srta. Chinesa tirou um belo montante.

"Dois mil dólares. É tudo que tenho" disse ela em súplica, e Dave já entendeu do que se tratava. Percebeu que as notas de 50 e 100 que ela trazia eram velhas e amassadas. Mas, amassado ou não, dinheiro era dinheiro.

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⏰ Last updated: Dec 18, 2017 ⏰

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Asagrado - Os Quatro PresságiosWhere stories live. Discover now