Capítulo Único

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- Chrissie, o que você quer pedir ao Papai Noel? - Perguntou a avó paterna com a qual dividia o primeiro nome e tinha uma prancheta com papel em sua frente. Originalmente, Sam ou Cait teriam o papel de transcrever os pedidos da menina mas sua mãe não se sentia bem e seu pai tentava confortá-la fazendo massagem em seus pés inchados.
- Bolo.
- Mas a vovó já trouxe bolo, coelhinha. - Sam falou sem parar de massagear os pés da esposa. - Você quer outra coisa?
- Toêo fofinho! Boinha de pêo! - A menina respondeu com a voz animada, sentada no chão ao lado da avó. Fazia muito frio, então colocaram-na dentro de um macacão quentinho e grosso que dava a impressão de que era mais redonda do que já era naturalmente.

 Fazia muito frio, então colocaram-na dentro de um macacão quentinho e grosso que dava a impressão de que era mais redonda do que já era naturalmente

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- Hm... Coelho fofinho... - Chrisse-avó repetiu o que a neta disse enquanto escrevia os pedidos dela com lápis de cera. - Quer mais alguma coisa?
- Bebê saí d-baiga momy. - Ela respondeu com a mãozinha praticamente dentro da boca.
- Abençoada seja. Também não vejo a hora! - Caitriona falou deitada na cama o mais confortável que sua barriga de quase 9 meses permitia. Costumava chamá-la brincando de barriga-mesinha, já que sempre que se alimentava acabava por apoiar alguma coisa nela.
Seguindo orientação médica, devido a um sério sangramento, Cait estava em repouso absoluto há mais de 1 mês. Sentia-se desconfortável e com dificuldade para respirar o tempo todo, mal conseguia dormir e o óbvio isolamento não ajudava a aplacar sua situação. Sam mantinha-se ao lado dela quase o tempo inteiro, exceto quando ela o enxotava para fora do quarto ou de casa para que deixasse-a em paz. Mesmo nesses momentos Caitriona não ficava completamente sozinha em casa, sua sogra ou seu cunhado estavam sempre por perto, além de sua doula que fazia-lhe visitas diárias, o plano inicial, pelo menos para ela era ter um parto natural em casa. Depois de muitos dias de discussão e argumentos sem fim por parte do marido, ela aceitou que o parto fosse realizado em um hospital para felicidade e alívio de Sam, que tinha calafrios só de imaginar algo dando errado e estando a uma distância razoável do hospital. No final, devido as complicações, era o mais seguro a se fazer.
- Não falta muito mais agora, hon. Logo, logo nosso menininho vai estar aqui.
- Você parece tão certo de que vai ser menino. AI! - Cait reclamou passando a mão no lado esquerdo e no topo da barriga logo em seguida. - Ele parece estar em todo lugar.
- Justamente por isso que acredito ser um menino! É um menino grande e forte! - Sam disse com um orgulho na voz que deixava-a irritada. No fim, apesar da evolução, os humanos ainda mantinham certos resquícios de seu lado animal.
- Estou com sede. - Falou somente para fazê-lo ir até a cozinha e levar aquele sorriso bobo com ele.
- Você sabe, Cait, isso é só o orgulho do procriador. - Sua sogra disse ao ver o filho sair do quarto. Era exatamente isso que ela achava se tratar. - Assim que o bebê nascer ele vai melhorar. - Chrissie que estava a beira da cama da nora, estendeu a mão para ela, que deixou que envolvesse seus dedos nos dela.
- Mas esse é o problema, ele parece ter tanta certeza do sexo do bebê mas e se for mais uma menina? Sam vai ficar decepcionado. E se alguma coisa der errado no parto?
- Ele vai conseguir viver com isso. Não acredito que o Sam queira tanto um menino assim a ponto de mudar de comportamento se vocês tiverem outra menina. Tenho certeza que tudo o que ele quer é que o bebê seja saudável e que você fique bem. - Chrissie ergueu-se deixando a neta no chão brincando com seus blocos de montar de plástico e sentou-se na enorme cama que a nora e o filho dividiam. - Veja, Cait... É inegável a preocupação do Sam com você. Ele mal sai desse quarto ou de casa, nem mesmo para ir a academia, que significa muito pra ele mas não mais do que você. Eu consigo ver o pânico nos olhos dele de tempos em tempos, se você pudesse ouvir o desespero com o qual ele me deu a notícia pelo telefone de que você estava perdendo sangue... Ele está apavorado, as únicas coisas que o mantém são são a Chrissie e você, Cait. Não sei o que está passando, as minhas gestações tanto do Cirdan quanto do Sam foram tranquilas mas eu posso imaginar. Tente não se apegar muito ao que ele disser sobre ter um menino para continuar a linhagem, no fim das contas Sam é apenas um bobalhão com pernas compridas. - Ela terminou de dizer fazendo a nora gargalhar e a neta rir ao ouvir a risada da mãe.
- Às vezes não sei como Sam e Cirdan podem ter saído de uma pessoa tão sensata e serem como são.
- Nem eu. Às vezes acho que foram trocados na maternidade mas nunca tive vontade de investigar, eu os amo mesmo assim. - Cait viu o sorriso travesso tão parecido com o do marido e o da filha formar-se nos lábios de sua sogra e sorriu, buscando uma posição mais confortável para ficar deitada.
- Sua água, Balfe. Interrompi alguma conversa?
- Não, só estou tentando encontrar um jeito para respirar melhor. Você colocou um dinossauro dentro de mim.
- Você demorou para voltar, precisei ajudar Cait com isso.
- Eddie derrubou a árvore de natal de novo e de algum jeito conseguiu ficar enroscada no pisca-pisca. Se ela quer tanto escalar, posso levar ela comigo da próxima vez.
- De jeito nenhum. Deixe a Edina em paz. - Caitriona lançou um olhar sério para Sam e bebeu sua água. - Olha ela, sweet Eddie, venha cá. Ajuda ela, Sam.
- Gata imensa, não consegue subir na cama mas na árvore de natal, ela quer subir. - Ele resmungou pegando a felina no colo e colocando-a na cama ao lado da esposa. Eddie enroscou-se e encostou a cabeça na lateral da barriga de sua humana.
- Chrissie, está na hora de você assinar sua carta. - A avó entregou o lápis de cera para a menina e segurou a prancheta para que ela "assinasse" a carta. Chrissie fez um desconexo e grande rabisco no rodapé do papel de carta. - Vamos colocar no correio?
- Mãe, você poderia passar no mercado? Precisamos de algumas coisas para a ceia. - Sam perguntou receoso, rezando por um sim para que não precisasse sair de perto da mulher.
- Claro, querido. Você tem uma lista?
- Tenho. Está grudada na porta da geladeira, o dinheiro está no pote de biscoitos em cima do armário.
- Está bem. Vamos, Chrissie? Que sapatinho você quer usar hoje?
- D-fô! - A menina respondeu feliz da vida, ela adorava ir ao mercado, para Chrissie lá era o seu parque de diversões com comida.

Sam ficou alguns momentos admirando a mulher deitada na cama, fazendo carinho atrás das orelhas da gatinha gorda, Caitriona usando não mais do que um vestido leve, o tecido moldando a curva arredondada dos quadris e da barriga dela. Sem falar nos seios, a própria imagem mental deles era o que ele mais tentava tirar de sua cabeça. 
Já nem sabia dizer há quanto tempo estavam sem fazer sexo, que sempre foi uma parte importante no relacionamento deles mas não no que se pautava, conseguira se virar razoavelmente bem sozinho até o momento mas sentia falta dela, da intimidade com seu corpo, de saber o que seu toque era capaz de trazer a ela. Não era falta do sexo exatamente que ele sentia, sentia falta de Caitriona.

1 ano e 8 mesesOnde histórias criam vida. Descubra agora