Capítulo único

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Aquele bar lotado me perturbava completamente e as luzes me cegavam por um momento que parecia ser eterno. Eu odiava locais lotados e barulhentos, no entanto meus amigos não me ouviam, e eu parecia mais uma peça no xadrez que deveria ser arrastada de um lado para outro sem ao menos respeitarem a minha opinião. A verdade? Sou um tanto ranzinza e queria sim ficar em casa no aniversario do meu melhor amigo, mas qual é, tenho 24 anos de indisposição muito bem conservada em mim, e estou ótimo assim!

Sento ao balcão de madeira pedindo a bebida mais forte que eles tivessem, porque ao menos um porre eu levaria dali. A boate tinha um estilo moderno e as diversas cores esbarravam nas paredes e objetos metálicos do local, o teto era arredondado, dando uma sensação de observatório, o que era completamente irônico, já que nem ao menos um rosto era possível observar naquele inferno. Minha careta estava formada desde que entrara no carro, e agora, pelo espelho posicionada atrás das prateleiras com bebidas alcoólicas, pude ver porquê algumas pessoas desviavam o olhar de mim. Meu rosto era de total descontentamento, pior, de total mau humor, e eu não conseguia sorrir, sinceramente eu tentei sorrir e pareci um cachorro raivoso mostrando os dentes então relaxo e me deixo fazer o que faço de melhor: Reviro os olhos e suspiro, de saco cheio. Qual a porcentagem de eu estar bem melhor em casa, vendo TV? 75%?

- JaeBum, porra você veio só ser chato em um local diferente?

A voz de Jackson, o aniversariante, me diz que poderia ser 81% pela cobrança da diversão que não terei

- Jack, você sabe que eu não gosto desse tipo de programação, quer dizer, um rolê com comida é muito melhor que esse monte de gente suada gritando porque o DJ tocou musicas que francamente, posso baixar em qualquer site e passar em um programa de mixagem, apagar e acender a luz diversas vezes pra fazer o efeito de luz, e te trancar no local com o Namjoon e duas carteiras de cigarro pra fazer o efeito da fumaça. Voilá. Baladinha.

Pra mim parecia a solução perfeita, mas o rosto do Chinês demonstrava que não fui muito convincente, nem ao menos com meu melhor "sorriso amarelo".

- Pode tentar ao menos? Droga, é meu aniversário, eu não mereço nem a presença do meu amigo na comemoração?

- Não é isso, mas olha pra nós dois! Estamos falando alto porque tem um som tocando qualquer coisa ruim.

- É a nossa música favorita. Viramos amigos por conta dela...

Okay, 86%

- Tá bem Jack, desculpa. Eu vou me divertir, prometo – Sorrio sem graça – Essa música... Ela é legal sim.

Jackson era meu melhor amigo desde a escola. Ele é Chinês e a nossa escola, como a boa elitista que era, não o aceitava muito bem, o problema é que ele tem um ótimo gosto musical e um sorriso de convencer qualquer um que sua presença é necessária. Não precisou de muito pra ele ser o rapaz esportista popular, e assim continuamos até hoje, ele é como o irmão festivo e problemático que nunca tive, mas precisava ter, e esse pensamento me faz sorrir. O loiro toca meu ombro e se abaixa a altura da minha orelha após pegar uma bebida "Selecione o que te interessa, e invista. Ainda é bom nisso?" e simplesmente me olha deixando uma piscadela e sai com o restante da turma que já erguiam suas cervejas e drinks para mais um brinde.

O que eu tô fazendo aqui?

Olho o copo e o giro um pouco atento ao liquido que balançava no fundo do vidro grosso, fixo ao movimento tentando me distrair daquele lugar. Mais um suspiro me escapa e endireito a jaqueta escura sobre a camisa, um tanto inquieto, porem em um desses movimentos algo me chama atenção: Um livro.

Não, não como mágica ou como um cardápio gigante esquecido sobre o balcão... Um livro que em sua continuação tinha mãos o segurando, e seguia por braços rijos sobre a madeira, tendo fim aos ombros do rapaz que agora toma toda a minha atenção, afinal quem lia naquela bagunça? Tá aí, algo de interessante surgiu.

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