É que eu sou fraco, frágil, estúpido pra falar de amor.

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Todas as tardes eu fugia com pressa depois do almoço carregando minha mochila com alguma porcaria encontrada na cozinha e ia no nosso lugar, um terreno baldio próximo da escola onde nossa amizade realmente acontecia. Depois de seis anos assim, minha mãe já nem se esquentava mais com isso, contanto que voltasse com as tarefas feitas e as notas alcançassem media. E eu caprichava nesse quesito.
No caminho, passava na casa dela; Marcela era a garota mais incrível que eu já tive a sorte de conhecer. Ele provavelmente ele já estava lá, paciente como sempre; Gabriel era o cara mais alegre que já tive a sorte de conhecer. E caminhávamos juntos, comentando sobre o tédio escolar.

Aquela tarde não deveria ser diferente.

Porém Gabriel não estava agachado em frente ao portão de Marcela, olhando para o céu. O que era inusitado. Liguei para ele rapidamente e apertei a campainha chamando-a.

No terceiro toque fui atendido.

- Se atrasou? – Perguntei o obvio.

- Só vou deixar a Vi em casa primeiro e depois já to indo pro nosso lugar. – Ouvi reclamações da "Vi", mas já estava acostumado com essa encheção de saco da parte dela. Era um nojo essa guria. – Eu já disse que vou sim, mais tarde passo na sua casa. – Falou mais com ela do que comigo. – Sei que a gente tá namorando, já entendi. Mas eu te falei que as tardes eu tenho compromisso. Tás ouvindo isso Jão? Ela não para.

- Larga ela. – Respondi seco.

Desliguei o celular, não tinha paciência para o mimo alheio. Principalmente daquela garota que parecia comer a vitalidade e alegria do Gabriel. A minha própria vitalidade e alegria também.

Marcela pulou nas minhas costas, sem aviso prévio, quase me derrubando. Depois que nos equilibramos, olhou para ambos os lados, procurando Gabriel.

- Tá levando a "Vi" em casa. – Disse sarcástico.

- Ah, bom. Podia deixa-la lá pra sempre.

- Ótima ideia. – Saí caminhando, com ela nas costas. – Não sei o que ele viu nela.

- Peitos. Bunda. Uma boa maquiagem.

Rimos, mesmo sabendo que era o ciúme que fazia com que a gente visse ela assim. Porém tem vezes que só precisamos extravasar esse ciúme mesmo, para não ficar doentio.

- Jão, tu podia me ensinar a dirigir hoje né?

- Pra você detonar ainda mais nosso carro detonado? – Questionei. A gente encontrou um carro quando mais novos, no terreno baldio, e ele se tornou nosso. A princípio só nos protegia da chuva, porém quando crescemos um pouco ele tornou-se nossa Auto escola particular.

- Vamos, vamos. – Me dava vários beijos nos ombros e mirava minha bochecha sem muito sucesso. – Vamosss.

- Ok, ok. Mas dessa vez você vai me ouvir e não extrapolar a velocidade. O terreno não é tão grande assim para a abusada ficar exagerando.

- Beleza Jão! – Vibrou.

Passamos a tarde bem, era engraçado ver Marcela se esforçando de verdade naquilo e mesmo assim ser péssima. Eu e Gabriel já dirigíamos tranquilamente, mas ela demorou para ter a coragem de tentar e ainda mais para conseguir entender como a coisa funcionava. Quando começava a dar certo, ela se empolgava e exagerava.

A tarde só foi estranha pois ele não tinha aparecido. E a gente esperou. Dando mais uma volta e outra e outra, porém desistimos. E claro, ele não estava atendendo o celular. Vivian tinha ganho a discussão, provavelmente. Isso era absurdo.

Mas  se  for  com  vocês  eu  vouحيث تعيش القصص. اكتشف الآن