Prólogo

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Baile de finalistas do Ensino Médio de 2009 de Grovedale, Los Angeles, Califórnia

CAMILA CABELLO observou o próprio reflexo no espelho do toalete feminino. Mais especificamente, seu peito. Reto e sem formas. A mãe não parava de repetir que ela apresentava um desenvolvimento tardio, mas Camila abandonara tal esperança dois anos atrás.

 Aos 17 anos e com um peito que lembrava uma tábua de passar roupas, decretara-se oficialmente um aborto da natureza. Em breve, a equipe de um documentário científico bateria na sua porta e ela estaria estrelando como A Menina que Não Teve Puberdade. Haveria depoimentos médicos e gráficos, explicando como os substratos necessários à formação dos seios e quadris em seu corpo tinham sido desviados pela Mãe Natureza para esticá-la em uma magreza, sem nenhuma sobra para itens de luxo como curvas.

Não era de se admirar o fato de Lauren Jauregui ignorar sua existência.

Durante um ano, sentara-se ao lado dela nas aulas de Literatura e Lauren mal lhe relanceara o olhar. A única vez que o fizera, quase a flagrá-la escrevendo o nome de Lauren por toda a página do caderno, antes que ela tivesse tempo de fechá-lo. 

Camila mordeu o lábio inferior, pensando no que acontecera na sala de aula naquele mesmo dia. Era possível que Lauren tivesse percebido que ela estava viva, mas não de uma forma positiva.

Por que, de repente, ela decidira partir para o contra-ataque?

Sabia o motivo. Podia não ter seios, mas tinha desejos de sobra. Na privacidade de seu quarto, tocava a sedosidade do próprio corpo, descobrindo o que era excitante, muito excitante e o que a fazia perder o controle se bem estimulado. E era sempre o nome de Lauren que ela sussurrava contra o travesseiro quando atingia o clímax.

De repente, a porta se abriu e a música se infiltrou pelo toalete, quando duas meninas entraram. Os saltos altos ecoando no piso de cerâmica. As duas soltavam risadinhas, com as cabeças próximas uma da outra, enquanto sussurravam, conspiratórias.

Camila se afastou do espelho, permitindo que as garotas tomassem seu lugar. Sabia onde se encaixava na cadeia alimentar da escola. Cindi Young e Carol Martin eram líderes de torcida. Ela era uma ameba comparada àquelas duas. Provavelmente, menos que isso.

Procurou manter o olhar desviado, enquanto as meninas retocavam os batons e afofavam os cabelos. Por fim, retornaram, ondulando os quadris, de volta ao ginásio para circular um pouco mais e enlouquecer os rapazes com as curvas sensuais de seus corpos e seios que desafiavam a gravidade.

Cindi, Carol e outras moças como elas eram o motivo pelo qual Camila resolvera tomar tal atitude naquele dia. Sabia que não possuía os atributos necessários para atrair a atenção de Lauren da forma convencional. E desejava muito que Lauren a percebesse. Quando aparentemente aoportunidade caíra sobre seu colo, mergulhou de cabeça.

E talvez por isso havia sido desastroso.

Não elaborara sua estratégia antes. Geralmente, Camila detalhava os eventos importantes em sua mente, antes de enfrentá-los na vida real.

Claro que na vida real as pessoas divergiam radicalmente de seu roteiro mental, mas por alguma razão, antecipar uma versão da cena na mente lhe dava mais coragem.

Camila inspirou profundamente e tentou afofar os cabelos para lhes dar uma aparência semelhante ao estilo provocante de Cindi e Carol. Mas os fios se recusaram terminantemente a fazer mais do que se manterem lisos e retos nas laterais do rosto. Por fim, ela deixou as mãos penderem. Estava tentando ganhar tempo. Tinha de ir para o ginásio e encará-la.

Tentou seu melhor sorriso diante do espelho. Tinha belos dentes. Pequenos, retos e brancos. E gostava de seus lábios. Eram carnudos, protrusos e ficavam ainda mais valorizados com um pouco do batom que pegara emprestado da mãe. O sorriso parecia bom. Portanto, tentou uma saudação.

A RevancheWhere stories live. Discover now