Ao mar.

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   O carro não estava rápido, ele deixava a brisa leve bater em seu rosto. Ela olhou para ele e colocou uma de suas mãos sobre sua perna, Ele respondeu com um olhar e um sorriso. Fim de tarde, o céu estava rosado. Ele jogava pedras na água, Ela preparava a comida. Ele tacava, cinco quiques e afundava. Ela raspava a colher na frigideira que rangia, claramente ela não sabia cozinhar, queria agradar. Ele tinha noção das capacidades da garota, afinal quem sempre se interessou por gastronomia era o mesmo. Ela insistira, "Deixe-me fazer algo dessa vez, eu andei treinando umas novas receitas." Por sua vez o garoto não podia recusar. Se conheciam a tantos anos.  Cansado de atirar pedras se aproximou da garota para entender o que cozinhava e importuná-la.

  " O que você está fazendo?"

  " Até alguns minutos era risoto, mas não sei o que aconteceu."

  " Espero que fique bom, não faço gastronomia atoa. Hoje serei seu juri!"

  " Jura? Você, ata. Até parece que você tem capacidade pra isso, não sabe nem colocar as calças direito." Ela se referia a uma vez em que o garoto colocara a calça da escola ao contrario, ninguem havia reparado no dia, ninguem além dela. Ela sempre reparava em tudo, Principalmente quando se tratava dele.

  " Isso já faz tanto tempo,  eu não sei por que você se recusa a deixar tudo isso pra trás. Por acaso esqueceu que a calça era da minha mãe." Ele sabia que ela gostaria de detalhes. Colocou a mão em sua cintura e ela se encaixou a ele, após tantos anos separados. Finalmente. 

 Eles compartilhavam um único corpo naquele momento, ela sabia que dali em diante ele seria seu manto, ele sabia que de ali em diante ela seria seu diario. Mesmo após tantos anos. 

 O céu agora estava roxo, a noite chegava. A comida estava pronta risoto de camarão e batata cozida com brócolis ao molho branco, os pratos preferidos do homem. A mulher admirava ele degustar a refeição que a minutos havia preparado para o garoto.

 5 ANOS ANTES.

Mesmo que me perca, eu te amo. Dói muito ter que te deixar, mas eu finalmente entrei pra faculdade. Eu espero que entenda, eu lutei muito por isso. Você sabe, nunca acreditei que fosse chegar aqui algum dia. E eu sei que você também não terá tempo para nós. Desculpe apenas ir. 

Eu entendo, e sei que vamos sumir e viajar às estrelas. Conhecer novas galáxias e constelações, tão belas, luminosas e coloridas. Novos luares. Enquanto não passamos de poeira, espero que não me varra para debaixo de um tapete qualquer. 

Minha maior vontade e enfiar esta carta em uma garrafa e joga-la ao mar, mas agora você é o mar e tem o direito de banhar todas as praias desse vasto mundo. Sei que sou só grão de areia, mas espero me afogar em teus braços novamente algum dia, pois te amo.

Lembro da primeira vez que te vi,  seu nariz escorria. Eu me aproximei, tentei conversar, mas você sofria para soltar as palavras, elas pareciam doer. Tentei te fazer rir e nada funcionava. Passaram dois dias e nenhuma palavra. No terceiro dia eu decidi que já era hora, quando você apareceu logo me aproximei, você tentou desviar o olhar para fugir. Eu sorri pra você, e você notou, também faltava um dente em minha boca. Seus grandes olhos verdes sintilaram e você começou a rir de mim sem perceber e logo eu também comecei a rir, ambos estavam sem presas. Você notou a situação e fugiu para o parquinho. A tarde estava rosa. Tentei me aproximar mas você recuou. Naquele momento descobri o que era sentir dor.

Começamos a conversar, e você falava de seus dias tediosos, as tardes no ballet e sobre sua família que não lhe deixava ler até tarde. E logo comecei a ler, a fugir pela noite e conhecer novas raças e lugares.

A dor, logo virou anestesia. Era uma tarde cinza, meu pai havia partido. Agora eu estava sozinho, pelo menos era assim que me sentia. Em turbilhão comecei a voar demais. Você era meu radar. E não me deixava caminhar pelo campo minado que a vida é. Sempre me alegrava com piadas e afagos, minha maior vontade era te beijar. Mas ainda não tinha coragem.

Um garoto novo entrou em nossa escola, ele era diferente. Alto, cabelos negros, corpo moreno e muito mais interessante que um garoto que gostava de cozinhar, ele surfava, e eu lia receitas de uma tia qualquer. E então entendi por que era uma dor o que sentia por você. 

Impotente, vocês se apaixonaram. Eu queria ser seu primeiro amor, e pra sempre seu único amor. Ele te fazia feliz, não podia lutar contra isso. E vocês sentiram a dor um pelo outro. 

Quando ele mudou de escola, você ficou desalmada. Parecia ter perdido parte de si. E eu não culpo-o  por ter lhe trocado, até agradeço a ele. Você sofreu por meses, e acabou se afastando. Não havia qualquer resposta sua, mesmo na escola era apenas " Oi " e " Bom dia. "

Quando chegamos ao ensino médio eu também já havia provado da dor. Você também não deixou de degusta-la novamente. 

Uma tarde que era azul logo tudo se tornou cinza, gotas sintilavam por toda a escola. Você estava presa e precisava entregar seus livros na biblioteca. Eu passava pelo local e você não havia reparado, mas era eu. Tanto tempo sem conversar. Não sorriu de cara após me chamar, não sei o que sentiu ao ver que eu lhe ajudaria. Te levei até a biblioteca, atravessamos todos os sete mares até lá. Nenhuma palavra, fiquei te esperando na porta, talvez quisesse ajuda para voltar até a escola. Quando você voltou, me agradeceu. Começamos a andar, a distancia entre nós era curta, minha respiração estava tensa. O que era aquilo, inexplicavelmente eu queria te ver sorrir. Queria novamente rancar um sorriso de você. Quando abri a boca, novamente você começou a rir

"Eu achei que o meu aparelho era ridículo, mas o seu me superou."

Ela reparou que meu aparelho era rosa.

"Eu não sei por que, mas gosto da cor do seu aparelho."

Então inexplicavelmente eu simplismente te beijei. Você olhou nos meus olhos, e pousou a cabeça no meu peito.

" Senti sua falta."

E logo a chuva passou, e a tarde se tornou rosa.

Agora, a alguns meses da formatura. tenho que me despedir de você.

Eu te sinto dor. Adeus.

  Ele limpou o prato, não deixou sobrar um grão de arroz. Sorrindo e com lagrimas em seus olhos se ajoelhou, beijou a mão dela e olhou para ela como só havia feito em seu primeiro beijo, e dessa vez a chuva começou a molhar os dois. Correram para dentro do carro. A chuva metralhava do lado de fora, ambos estavam molhando o carro. Ele começou a gargalhar e ela o acompanhou, olharam um para o outro e começaram a se beijar como nunca haviam feito antes. Ele enlaçava seus dedos nos cabelos dela, ela viajava com a mão por seu abdómem. Ele logo tirou a blusa, ela o acompanhou. Ela desenhava ele com sua unhas mal feitas, por falta de tempo. Ele apertava a bunda dela como quem quisesse devora-la. Logo ele começou a viajar, pescoço, peitos e virilha. Beijos, mordidas e todo o amor que o mundo podia oferecer. Sendo agora um. O barulho da união não os assustava, era como se já fosse normal, mesmo assustados por sua primeira vez. Eles sentiram a dor em união. Agora ela era amor.







Ao mar.Where stories live. Discover now