Tapetes ainda são banais.

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— Por que será que eu gosto tanto da chuva?

Jinyoung levantou o olhar e fitou Yugyeom. O mais novo observava o céu com afinco, mas não parecia disperso. Pelo contrário, em seus olhos escuros uma noção de tudo que acontecia em volta estava explicita para qualquer um que pudesse ver, mas não apenas ver, enxergar também. Jinyoung não entendia muito sobre Yugyeom, na realidade não entendia nada, mas gostava dele mesmo assim. Às vezes se perguntava se não era o único que realmente não conseguia compreende-lo, afinal todos o olhavam como se o conhecessem. Isso deixava Jinyoung um pouco incomodado, mas ele sempre escolhia ficar quieto. Tinha medo de dizer algo que deixasse os dois em uma situação estranha.

— Não sei — foi sincero — Acho que há algo dentro de você que se assemelhe a chuva.

— O caos, você diz?

Jinyoung franziu o cenho.

— Não te acho caótico. E também não acho a chuva caótica.

— Eu acho — deu de ombros — Muito caótica, na realidade.

— Mas é só água.

— Exato, é só água — enfatizou em um tom quase desesperado — E essa água caí do céu, e ela pode destruir várias coisas. E é só água, Jinyoung. A mesma água que eu e você bebemos todo dia.

— São situações diferentes.

— A formula química é basicamente a mesma.

Não que Jinyoung achasse que ele estava errado, de qualquer forma. Se parasse para analisar era verdade: era só água, mas por causa dessa água muita coisa acontecia; muita coisa ruim e muita coisa boa. Porém continuava sendo água, e o Park realmente não via sentido nas coisas que Yugyeom falava, mas era assim na maior parte do tempo. Jinyoung achava que era por isso que eram amigos, alguma coisa dentro dos dois dava tão errado que funcionava, e por causa dela ainda não tinham entrado em conflito. Em sua cabeça ambos estavam tentando descobrir um ao outro mutualmente.

Jinyoung tinha medo que Yugyeom o descobrisse antes e cansasse de si. Afinal Park Jinyoung era só Park Jinyoung, e o outro era... Kim Yugyeom.

De alguma forma soava muito melhor ser Kim Yugyeom do que ser Park Jinyoung.

— Eu quase não consegui prestar atenção nas aulas hoje — o Kim voltou a dizer, dessa vez com a expressão mais tranquila.

— Como em quase todos os dias.

Yugyeom deu de ombros.

— Se o sistema não fosse tão rígido.

— Se você não fosse tão anarquista.

Ambos se entreolharam e riram. Jinyoung gostava de falar do lado anarquista de Yugyeom, parecia que compreendia um pouco mais dele como um todo, ou pelo menos o que achava que era o todo do Kim.

— Não sou anarquista.

— Eu sei, eu que sou — sorriu.

Ficaram em silêncio por longos minutos, mas Jinyoung sabia que o sua noção de tempo era diferente das dos demais. Não era ansioso, então tudo parecia mais lento do que o normal. De certa forma ele apreciava isso, mas não tanto quanto deveria — ou o quanto Yugyeom dizia que precisava. Para o Kim, elétrico de seu jeito, as coisas passavam rápido demais, como um furacão, um carro de corrida. Isso era outra coisa que Jinyoung não entendia nele, a ansiedade, o desespero. Não que ele fosse alguém apressado ou irritante, mas sempre demonstrava desconforto quando tinha seu tempo tomado. O Park achava que Yugyeom na realidade não gostava da ideia de ter alguns minutos tomados de si, e não deles passarem rápido demais.

Em conjuntoWhere stories live. Discover now