Isaac

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- Bem vindo ao planeta M-52, a União o saúda. - Assim diz uma voz suave no interior do veículo e o painel de controle inicia o procedimento automático de descida. O professor Murray olha pela janela e vê o planeta prateado. Não se vê a superfície, apenas a cobertura metalizada. - Foram anos de construção para cobrir tudo - pensa o professor - e se ao menos fosse bonito. - Ele está com uma leve dor de cabeça e um pressentimento ruim. Ser chamado às pressas, ao centro do governo, não parece ser nada bom.

O veículo, executando movimentos precisos, pousa no topo de um edifício austero, onde uma comitiva pouco usual o espera. Além de cientistas, oficiais do exército de alta patente também o aguardam. Beni, seu contato e ex-aluno, vem em sua direção. O professor Murray nota que Beni está diferente, afinal fazem mais de 20 anos. Antes era apenas um jovem estudante, interessado, magro e com espinhas no rosto. Agora vê-se um homem com olhar inteligente, cabelo perfeitamente cortado e um jaleco branco impecável - Olá, professor Murray! Quanto tempo! - Sorrindo e esticando a mão. O professor sorri de volta - Olá, Beni. Sim! Quanto tempo. Mas qual o motivo dessa recepção? - o professor diz preocupado. Beni olha para os oficiais e fala - O caso é muito grave professor Murray, o senhor é nossa última esperança.

O professor Murray se protege do vento que corta o topo do edifício e vai em direção a um oficial que o aguarda com o semblante sério. - Olá, professor Murray, sou a Major Ludovique Jaia, espero que tenha feito boa viagem. - O professor assente com a cabeça e a Major continua - Sugiro que não percamos mais tempo. Vamos direto à sala de guerra. - Agora o professor tem certeza que o assunto é pior do que imaginava.

A comitiva desce às entranhas do prédio. O professor já não sabe mais onde está. Perdeu seu senso de localização em algum lugar do subsolo, em um dos muitos corredores e portas pelas quais passou. Finalmente a Major para à entrada de uma sala grande. O professor repara que a Major é relativamente jovem. Com traços finos, pele morena e um olhar muito sério. Em outra ocasião poderia se afirmar que ela é uma mulher bonita, mas com o uniforme e sua postura, é apenas mais um soldado. A sala é silenciosa e escura. A Major Jaia pede que o professor sente e fala em tom sério - Professor Murray, primeiramente obrigado por ter atendido nosso chamado tão prontamente, pois a situação é grave. Como o senhor já deve saber, a embaixadora do planeta Saphir foi assassinada em nosso solo e este fato desencadeou um alerta de guerra. Contamos com a tecnologia desenvolvida pelo senhor para resolver esse crime.

Silêncio. Todos encaram o professor. Murray percebe que deve falar algo, só não sabe o quê. - Bem - começa ele - a minha pesquisa na universidade de Staut é o desenvolvimento de um algoritmo capaz de achar o culpado para um crime. O algoritmo Isaac sugere o nome de alguns suspeitos, onde, em 97% das vezes, um dos suspeitos apontados é o culpado. Usamos várias informações sobre o crime e uma quantidade enorme de big data. - A Major Jaia olha impaciente para o professor e fala - Sabemos tudo sobre sua pesquisa. Nós somos um dos seus financiadores. Contudo, não temos tempo para explicações, pois este crime não é digamos... comum. - Uma grande tela na parede exibe imagens da embaixadora. Vê-se que ela está no meio de uma praça andando em direção a seu veículo. Em seguida cai ao chão e o sangue se espalha. A transmissão para. A major Jaia diz - Isso é tudo o que as câmeras registraram. Temos essa mesma imagem em vários ângulos. Esse ato aconteceu em local aberto. A segurança era grande. Mas isso não é o pior - continua a Major - a perícia analisou a trajetória do projétil e concluiu que ele partiu de um lugar... impossível. A rota balística atravessa esta estátua, que encontra-se no meio da praça - aponta a Major para a imagem pausada. O professor Murray olha para a imagem da embaixadora ao chão. Finalmente diz - preciso coletar informações do local. - A Major o encara - Tomara que Isaac seja poderoso o suficiente para ver o que não vemos.

Beni e o professor estão no veículo indo em direção à praça. Eles sobrevoam uma alameda de prédios baixos. A cidade é toda em tons de cinza, preto e branco. Um assassinato como aquele põe em risco a já frágil relação entre os planetas. O desgaste da União vem de longa data, mas nos últimos anos vozes do planeta Saphir, ansiosas por mudanças, estão cada vez mais fortes. Os dois cientistas chegam ao local do crime. Uma praça elegante e bem cuidada, com uma grande estátua no meio. O professor tira fotos e faz escaneamento topográfico a laser com drones. Ele olha ao redor e sente que algo realmente não está certo.

IsaacWhere stories live. Discover now