Um conhecido matinal

Era 9h45, Lucy esperava seu maravilhoso cappuccino ficar pronto na lanchonete da esquina, enquanto lia artigos e notícias do dia em seu smartphone. Ela sentava no ultimo banco dísponível, que ficava atrás do banheiro. Sentia o coração palpitar, mas não sabia o que era ainda. "Será que é aquilo de novo? Tão cedo?". Ela só queria que o dia passasse rápido, como todos os outros nos últimos meses. A dor de viver um dia de cada vez era mortal para ela. Não literalmente. Era mortal apenas para sua alma pensante. A garçonete veio trazer o café.

_ Gostaria de um mini cookie de chocolate para acompanhar, querida?

Lucy olhou para a bela moça de cabelos cacheados, que esperava a resposta enquanto servia o café sorrindo.

_ Não, muito obrigada – e retribuiu o sorriso.

"Que moça gentil". Lucy gostava de gentileza. Era algo que não se encontrava todos os dias por aí. As pessoas simplesmente aceitam que devem aturar todas as outras, mas não pensam o quanto pode ser divertido ter que fazer isso. Gentileza é divertido, deixa a vida mais leve. Lucy pensava sobre a vida poder ser mais gentil com ela as vezes quando entrou um rapaz na lanchonete. Não havia lugar para se sentar nos conjuntos de mesas com bancos, somente no balcão. Lucy observava enquanto o rapaz se movia pela lanchonete, meio desesperado, procurando um lugar para se sentar. Ele era alto e magro, com uma aparência típica de quem não sai muito quando está um dia ensolarado. Lucy pensou o quanto adorava os dias ensolarados, mas o quanto odiava a luz do sol queimando sua pele. O rapaz esbarrou em uma das garçonetes.

_ Eu sinto muito, me desculpe, sério – Lucy o ouviu dizer.

A garçonete aparentou não dar muita atenção e seguiu correndo para entregar o pedido. Era uma manhã movimentada. O rapaz continuou andando, aparentemente procurando onde se sentar. Levava uma mochila cinza nas costas, tão murcha que aparentava estar vazia. "Pra quê carregar uma mochila por aí se não tem o que carregar?", ela questionou. Meio desajeitado, decidiu finalmente se sentar em uma das banquetas de frente para o balcão, quando Lucy interveio:

_ Hey!

O rapaz olhou assustado na direção de Lucy.

_ É você mesmo! Tem lugar suficiente para se sentar aqui, e já estou acabando o meu café, pode se sentar – e lhe olhou com um sorriso amigável.

O rapaz pareceu um pouco confuso. "Ele deve achar que sou louca, mas tanto faz".

_ É sério, pode se sentar aqui – Lucy fez um gesto para demonstrar o banco a sua frente, como uma garçonete de um restaurante gourmet indicando onde os recém chegados clientes poderiam se sentar. "Qual é a desse cara?".

Ele se moveu então lentamente para o banco rosado na frente de Lucy. Pareceu um pouco constrangido com o convite incomum de uma doce estranha.

_ Frapuccino, cappuccino, mocaccino? – Perguntou Lucy.

_ O quê? – o rapaz parecia estar cada vez mais confuso.

_ Qual café você prefere? – "Ele definitivamente não está neste planeta".

_ Eu não gosto de café.

_ O QUÊ? – Lucy pareceu terrívelmente ofendida – como você não gosta de café? As melhores pessoas gostam de café!

_ Bom, senhorita, então acho que eu não sou uma das melhores.

_ Senhora.

_ O quê? – foi então que o desconhecido rapaz reparou na mão esquerda da estranha moça a sua frente, que continha uma aliança dourada. "Mas tão jovem?".

Lucy pareceu um pouco envergonhada quando se sentiu observada. Para distrair, começou com novas perguntas:

_ Você é daqui?