Prólogo

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Aquele com certeza era o dia mais movimentado do ano. A confusão de tecidos, especiarias e armas se misturava à competicão que os mercadores pareciam fazer de quem gritava seus preços mais alto. O falatório da multidão que lotava as ruas podia ser ouvido por toda cidade, assim como o som dos cascos dos cavalos trazendo mais carruajens. A pouca neve acumulada no chão, lembrança dos flocos que caíram na madrugada, era castigada pelas botas de viagem imundas dos passantes, fazendo uma lambança de terra, neve e água suja que caía das barracas. Os negociantes sorriam como cobras enquanto convenciam as pessoas a comprarem seus produtos a preços exorbitantes; eles estavam em seu habitat natural. Assim como meu pai. Nossa barraca estava atolada de gente e minha família e nossos ajudantes estavam ocupados tentando atender a todos e não perder nenhum cliente para a concorrência acirrada da feira. Menos eu. Havia me esgueirado para longe alguns minutos atrás e estava tentando não pensar no castigo que meu pai me daria quando percebesse, mas esse não era um problema para agora, pois ele estava concentrado no trabalho e não notaria por um bom tempo. Tempo o bastante para eu vislumbrar o paraíso; ou pelo menos meu caminho até ele.

Estávamos em uma cidade localizada pertíssimo da fronteira entre Arlenn, meu país, e Cinet, um de nossos vizinhos do sul. Da minha posicão privilegiada no telhado da construção mais alta que encontrei, podia avistar um boa parte do pequeno país fronteiriço: o clima era quase igual ao nosso, assim como o relevo; meu interesse era outro. Meus olhos reviraram por um tempo a região onde eu sabia que encontraria o que procurava, apesar de não ser tão difícil distinguir ferro negro contra a neve braquinha. Um suspiro escapuliu quando avistei-na: a ferrovia que levava ao sul do continente. Se cerrasse bastante os olhos quase podia ver Elyndie, apesar de saber ser geograficamente impossível. O paraíso era longe demais. Elyndie, o país tropical onde a música e a dança são prioridades e o toque máculo da guerra não alcança. Meu destino.

Um grito que sobrepujou aos outros me chamou a atenção e, ao olhar para abaixo, percebi ser uma de minhas irmãs, sinalizando para eu descer e ajudar. Bufei. Antes, eu sentia como se já pudesse ouvir a música e sentir o cheiro das comidas exóticas. Agora, de volta à realidade, aquela ferrovia parecia intocável de tão longe.

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⏰ Last updated: Apr 29, 2018 ⏰

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Expresso dos SonhosWhere stories live. Discover now