Capítulo Único: Caçada

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Errado. Ao bater a porta ao entrar na sala de Hailey Baldwin, Shawn Mendes perde a razão. O rapaz de pele alva e cabelos imperfeitamente cacheados de tons castanhos cruza os braços. Seus olhos com um ligeiro estrabismo se franzem. O guarda florestal está bravo em demasiado, sua fúria é palpável.

— Com licença, senhora? — é possível notar ironia amarrada às palavras. — Posso lhe fazer uma pergunta?

A mulher de olhos castanho-escuros ajeita o chapéu que cobre os fios alourados. A pele bronzeada da guarda responsável pela central de Vancouver se arrepia com o medo do que ele possa pergunta-la, mas a madame não perde a pose.

— Desculpe, senhor, mas eu quem devo lhe perguntar o porquê de adentrar a minha sala com tamanha violência. — é possível ouvi-lo engolir em seco. — Inclusive, perdoe-me, como se chama mesmo?

— Mendes. Shawn Mendes, é a terceira... — ela o interrompe.

— Prazer em conhecê-lo, Shawn Mendes. Sou Hailey Baldwin, guarda responsável por toda a região metropolitana de Vancouver. — estende-lhe a mão, como em forma de cumprimento.

— Eu sei quem é a senhora. É a terceira vez em que se apresenta para mim nesta semana.

Ele ignora a mão erguida. Os lábios exageradamente grandes de Hailey são cobertos pela mão, a qual encolheu imediatamente, quando forja uma expressão de surpresa.

— Céus! Perdoe-me, Shawn.

O ar denso preso em seus pulmões foge em uma bufada. Seus ombros tensionados pela raiva se relaxam. Por mais que ele tente manter o semblante sério, não consegue manter o ódio nas veias por muito tempo.

— Sem problemas. — dá-se por vencido.

Shawn respira fundo.

— O que o senhor gostaria de me perguntar, S...?

"Ela não é tão inocente, sabe exatamente o que faz", pensa o rapaz.

— Shawn. — ele completa, segurando-se para não revirar os olhos. — Honestamente, não quero parecer rude, no entanto... é tão difícil me reconhecer? Vim de Toronto à North Vancouver para ajudá-la, o governo que me enviou, por acreditarem em meu potencial. Estou aqui para que, juntos, possamos rever a situação corriqueira de invasão de ursos à domicílio na região. — suspira. — Confesso, porém, que sinto como se a senhora me visse para lhe servir. É esta a impressão que passa, pelo jeito que se coloca sobre mim.

— Jamais! Se o enviaram para cá é porque confiam na sua capacidade. — esta é pela primeira vez em que ela é sincera nesta sala. — E, se eles confiam, eu também confio. — Shawn Mendes sorri. — Agora, meu caro, se a minha personalidade o intimida, sinto muito. Tentarei ameniza-la.

— Obrigado, então.

O homem se vira de costas e repousa a enorme mão sobre a maçaneta fria. No fundo, sabe que a conversa não adiantou de nada. Hailey age, desde que se conheceram, como uma rainha. Talvez, se ela não impusesse o modo como gostaria de ser tratada, ele mesmo quem a coroasse. Todavia, sob a soberba dela, Shawn sentia o estômago embrulhar em desgosto. Não há nada que o incomode mais do que pessoas a inferiorizar os outros.

Criado com as primas e a irmã, mulheres sempre foram alvo de seu mais puro respeito. Mas a guarda Baldwin rompe seus limites. Ela o faz se sentir como um mashmellow no espero, vulnerável e desfazendo-se por dentro, mesmo que, por fora, esteja rígido. A loira, para ele, poderia ser a mais bela moça já vista, contudo, o fato de ser a "rainha legal demais" a torna feia.

O guarda sabe que ela se lembra dele. O de olhos castanhos se lembra exatamente de como a fez rir quando um pisar mais forte no chão o assustou. Aquele maldito grito estridente, como uma criança inocente. Era ela na floresta. O susto foi a toa, mas o suficiente para fazê-lo acreditar que se dariam bem.

Pelo jeito, iludiu-se sozinho.

— Mendes? — chama, antes que a porta se feche por completo.

— Pois não, Sr.ª Baldwin? — atencioso, responde.

— Entre, por favor. — ele obedece prontamente. — Para mudarmos o modo como lhe trato, tenho uma ideia.

Confuso, ergue uma das sobrancelhas.

Os olhos castanhos quase tão escuros ao ponto da pupila se perder espia o movimento na delegacia. A mão bronzeada desabotoa um dos botões do uniforme, quando a perdição em forma de mulher se aproxima.

— Beije-me, Shawn.

— O-o quê? — gagueja, constrangido.

— Sabe por que eu agi daquela forma? — ele arrega os olhos. — Porque, como um urso, eu precisava mostrar à minha presa que eu estava sobre o controle. Eu preparei a área de caça, e, como em uma espécie de armadilha, você caiu. Deliciosamente.

De forma perigosa, Hailey o alcança. O chapéu é dispensado no momento em que ambas as mãos dela pousam sobre a vidraça da porta atrás de Shawn. Ele está cercado. A respiração quente da guarda toca o rosto dele. O homem não pode negar que é uma tremenda tentação.

Errada, porém.

É um local de trabalho.

E esta é a mulher quem o trata como se não significasse nada.

Shawn chacoalha a cabeça, recobrando a perfeita consciência. Respira fundo. Seu rosto inclina ligeiramente para o lado, a preservar os seus lábios de um possível golpe. Com delicadeza, ele apoia as mãos na cintura da guarda florestal, afastando brevemente seus corpos.

— Com licença. — uma de suas mãos retorna à maçaneta, que não tarda a abrir. — Você não é a soberana aqui. Boa noite.

Antes que ela possa fazer qualquer protesto, ele se retira. Hailey assiste a porta se fechar, assim como, através do vidro, a partida do homem de Toronto capaz de tirá-la a sanidade. O colo à mostra se eleva e murcha com a respiração turbulenta.

Nervosa, ela solta os cabelos. Embrenhando os dedos nos fios claros. Os olhos castanhos crispam. Acaba de acontecer tudo o que Baldwin mais temia: nesta caçada, ela se tornou a presa.

QueenWhere stories live. Discover now