Capítulo único

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Gilbert Blythe

Não sei exatamente como aceitei isso, só sei que agora estou na frente da mansão de Josephine Barry, onde iria acontecer uma festa de verão.

Já faz quase um ano desde que Cole veio morar com Josephine, eles se entendem e se dão super bem, fora que ela o apoia em tudo.

Era inverno e a Senhora Barry resolveu dar a sua festa de verão - ironicamente, essa festa acontece todos os anos durante o inverno. É uma forma de alegrar os outros em uma época tão fria e solitária como o inverno.

Nunca fui a uma dessas antes, e confesso que estou um pouco nervoso.

Bato na porta, que após poucos segundos é aberta.

"Gilbert, fico feliz que tenha aceitado o convite" Cole sorri "Vem, vou mostrar seu quarto" entrei na casa e uau! era enorme, cheia de luzes e decorações de vários jeitos.
"Quem é, Cole?" era a voz de Diana.
"Gilbert" o loiro respondeu, simples.
"Gilbert? Gilbert Blythe?" meu coração disparou, era Anne.

Caminhamos até a sala, onde elas estavam.

"Olá, senhora Barry" tirei o chapéu "É um prazer estar aqui" sorri.
"Me chame de tia Jo, querido" sorriu enquanto me abraçava.
"Vou mostrar o quarto de hóspedes ao Gilbert" Cole avisou tia Jo "Meninas, vocês vem?" perguntou para as duas que fizeram um movimento com a cabeça indicando que sim.

Subimos as escadas e eles me levaram até o quarto, ficamos conversando até nos chamarem para jantar, e quando terminamos fomos dormir.

Segundo Josephine: amanhã seria um grande dia.

•••••

Eu tinha acabado de me arrumar para a festa e já era possível ouvir a música alta e alegre que tocava no primeiro andar. Desci as escadas respirando fundo, é só uma festa, por quê estou tão nervoso?

Descia lentamente até ouvir vozes. Anne e Diana. Olhei para trás e as vi, estavam lindas. Diana usava um vestido azul claro e Anne usava um vestido amarelo com mangas bufantes.

"Meninas" cumprimentei sorrindo "Posso acompanhá-las?" ofereci sorrindo gentilmente.
"Seria ótimo, Gilbert" Diana nem deu tempo para Anne responder.

Elas iam andando de braços dados e eu ia ao lado. Eu sempre me admirei com a amizade das duas, cresceram de forma completamente diferente e ainda assim conseguiam ser quase 'almas gêmeas'. Era uma coisa que me fascinava. Sempre juntas, desde o começo, como se já se conhecessem faz anos.

Finalmente chegamos ao salão e, uau! Estava esplêndido! Era decorado com várias flores - de várias cores, tamanhos e espécies diferentes - coloridas; haviam algumas esculturas e quadros espalhados pelo salão; pessoas dançavam e conversavam animadamente; mulheres usavam calças, chapéus e tinham cabelos curtos; homens usavam vestidos, colares e coroas de flores.

Por um momento me senti um pouco no mundo de Anne, ela certamente acha tudo isso maravilhoso. É seu jeitinho. Provavelmente é algo que ela sempre sonhou: pessoas sendo quem são, sem medo das críticas.

Olhei por todo o salão, e então a vi. Estava na pista de dança, com Diana, elas dançavam e cantavam como nunca, era bom de assistir. A Cuthbert sorria como eu nunca havia visto - não que eu tenha muito contato com ela - e eu poderia ficar horas observando como ela estava radiante naquele lugar, com aquela roupa, com aquelas pessoas, simplesmente sendo ela.

A Barry cochichou alguma coisa em seu ouvido e saiu, e com uma coragem que não sei de onde veio, caminhei até Anne.

"Está deslumbrante nesse vestido, ruivinha" comentei, como quem não quer nada.
"Você também não está nada mal, Gilbert" sorriu.
"O que está achando da festa?" tentei puxar assunto.
"É magnífica, não? Todas essas pessoas, artistas!" falava cada vez mais empolgada "Fora a decoração, já viu a diversidade de flores coloridas e silvestres aqui?"
"É realmente impressionante. As flores, as pessoas, tudo!" sorri animado.

Um homem passou por nós e colocou uma coroa de flores em minha cabeça enquanto dizia 'aproveitem a festa!'. Anne esticou os braços em minha direção, o que ela iria fazer?

"A coroa está torta" explicou, enquanto arrumava o acessório em minha cabeça e sorria envergonhada.
"Está com vergonha por estar perto de mim?" perguntei divertido enquanto a observava ficando vermelho.
"Não" negou, mas suas bochechas coradas a traíram. um sorrisinho surgiu em meus lábios "Pare de se achar" reclamou "Eu só estava arrumando"
"Claro que estava" respondi e ela revirou os olhos.
"Me concede a honra desta dança, senhorita Cuthbert?" estendi a mão e fiz uma pequena reverência.
"Será um prazer, senhor Blythe" ela riu e segurou minha mão, fazendo meu um 'choque' percorrer meu corpo e coração disparar.

A verdade é que eu nunca havia sentido nada igual a isso, Anne Shirley-Cuthbert e todas as sensações que me causava era de extrema surpresa para mim.

Caminhamos até a pista de dança e eu não sabia exatamente o que fazer.

"Eu posso, hm, é..." comecei, apreensivo. como eu perguntaria isso?
"Colocar as mãos na minha cintura?" ela perguntou rindo da minha vergonha e eu fiz que sim com a cabeça "Sim, Gilbert, você pode colocar as mãos na minha cintura"

Estava tocando uma música lenta, dançávamos seguindo o ritmo. Estávamos próximos e era bom ter Anne tão próxima assim.

Passei a dança inteira a observando atentamente, como se observa uma obra de arte. E é bem provável que ela seja. Seus cabelos ruivos e brilhantes, suas sardas espalhadas por todo o rosto, pescoço e ombros e seus olhos azuis e profundos como o oceano; o oceano que eu estava louco para mergulhar e desvendar todos os segredos.

"Eu já te disse que você está linda?" perguntei sorrindo.
"Sim, você já me disse" ela riu.
"Bom, então estou dizendo novamente: você está linda" ela sorriu, assim como eu e posso jurar que vi seus olhos brilharem enquanto ela ficava da cor de seus cabelos.

A música acabou e quando pensei que tudo acabaria e ela voltaria a manter distância fui surpreendido por um pedido seu.

"O que acha de sair dessa magnífica festa por dez minutos e ir ver uma coisa incrível comigo?" perguntou ansiosa, concordei com a cabeça.

Ela segurou minha mão e saiu me puxando em meio a multidão. Eu não fazia ideia de onde estávamos indo mas qualquer lugar com Anne é um bom lugar.

Seguimos reto pelo corredor e me dei conta de que estávamos indo para o jardim.

Anne abriu a porta e saiu para o jardim, fechou os olhos e respirou fundo, apreciando a brisa gélida em seu rosto; e eu fiquei lá a olhando, pensando em como ela poderia ser tão maravilhosa, até seus mínimos detalhes me chamavam a atenção, e eu tentava gravar cada parte do seu rosto, para nunca me esquecer de tamanha beleza. Então ela abriu os olhos, caminhou até a grama e observou as estrelas; fiz a mesma coisa.

Eu gostava dela. Gostava de como seus olhos brilhavam sempre que falava sobre algo que adorava. Gostava de sua voz. Gostava do seu sorriso. Gostava de como mordia o lábio inferior sempre que pensava. Gostava dela de qualquer modo. Eu gostava de Anne Shirley-Cuthbert por ela ser Anne Shirley-Cuthbert.

"Não acha que festas assim são ótimas oportunidades?" ela quebrou o silêncio "De ser quem realmente é, ser livre?" me encarou, esperando uma resposta inteligente mas a verdade é que eu não conseguia pensar direito quando estava ao seu lado.
"Momento para surpresas?"
"Pode ser" sorriu "Essa festa é tão majestosa, uma ideia genial!"
"O calor do verão no frio do inverno" comentei, olhando as estrelas.
"É, o calor do verão no frio do inverno" suspirou pensativa "Época de estar com as pessoas que ama"
"Você está com as pessoas que ama?" perguntei, Anne é inteligente e tenho certeza que percebeu o duplo sentido na frase, eu estava lhe perguntando se ela me amava; a encarei com intensidade (não que fosse algo que eu pudesse controlar).
"Sim, eu estou" sorriu e me olhou da mesma forma.

Não pensei em mais nada, simplesmente me aproximei dela e colei seus lábios no meu.

Can I have this dance? - ShirbertWhere stories live. Discover now