Por Detrás das Águas

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O sol estava bem forte nesse dia. Eu e Chico estavamos no caminho de volta para a vila, já fazia mais de hora e nossos cavalos estavam andando cada vez mais lento. Não queria forçar eles andar mais rápido, se a gente, que estava em cima deles, estava cansado, eles deviam estar muito mais. Ajeitei meu chapéu para ter mais sombra no meu rosto e respirei fundo.

– Acho melhor parar para os cavalos beberem um pouco de água. Ainda tem muita estrada para eles andarem – falou Chico.

Nós já tinhamos terminado o nosso serviço, então não havia problema parar um pouco. Eu queria mesmo chegar logo em casa, mas teimoso como Chico era, eu sabia que ele iria ficar falando até eu parar também.

– Vamos parar na cachoeira, tem bastante árvore por lá, vai dar para descansar. – falei parando o cavalo e o guiando para o caminho da cachoeira.

Tinha bastante sombra no rosto de Chico, mas eu podia ver que ele sorria, e sorria daquele jeito besta dele. Ele já tinha mais de vinte e cinco anos, mas agia feito menino. Chico colocou o cavalo dele para andar ao lado do meu e seguimos para a cachoeira.

Não demorou muito para chegar. Descemos dos cavalos, eles deberam um pouco de água e ficaram pela grama. A cachoeira estava vazia, como de costume. Um lugar tão bonito e quase ninguém vinha. Era uma cachoeira de águas claras, pequena, ótima para se banhar. Algumas vezes, quando a cidade enchia para as festas de São João, apareciam uns turistas por essas águas, mas fora isso, era esquecido pelos moradores.

Eu e Chico sentamos debaixo de uma árvore. Ele tirou o chapéu e ficou passando a mão pelo cabelo.

– Tu num acha que esse cabelo tá ficando muito grande não? – comentei.

Chico tinha cabelos lisos e castanhos, geralmente ele mantia o cabelo curto, mas agora estava passando do pescoço.

– E qual o problema?

– Cê sabe o que o povo daqui comenta de homem que tem cabelo grande.

– E eu vou lá me importar com que o povo fala?

Eu dei de ombros.

– Só tô avisando.

Tirei meu chapéu e fui até a beira da água, peguei um pouco e molhei o rosto. A água estava tão boa que eu tive vontade de pular nela de roupa e tudo.

– Tá muito gelada?

Olhei para Chico.

– Nada, tá ótima.

Chico tirou as botas e depois se levantou e tirou a camisa.

– Cê vai mesmo entrar na água? – perguntei, sério.

– Tá muito quente, e essas águas estão me convidando.

Eu me arrependi de ter chamado ele para vir, eu devia ter desconfiado que Chico ia querer ficar nadando. Peguei um pouco mais que água e passei pelo meu pescoço. Vi de relance Chico correndo e pulando na água. Eu me afastei em tempo da água não cair em mim.

– Fez de próposito, né?

Chico riu e ficou nadando de costas, até chegar na cachoeira. Agora que ele tinha entrado na água, eu sabia que só ia sair depois que todos seus dedos engilhassem. Voltei para debaixo da árvore, deitei minha cabeça no tronco e fechei os olhos. O som da água era bom para relaxar.

– Amaro!

Abri os olhos e olhei para Chico.

– Que é?

Por Detrás das ÁguasWhere stories live. Discover now