MISHPACHÁ

AHAVAH, 1

Depois de um milhão de anos sem escrever, eis que estou aqui.

História autoral, vagamente baseada nas irmãs Haim. Vamos fazer esse trial e ver se pega :)

É isto! Fiquem com o primeiro capítulo.

___________________________________________

       

AHAVAH

Ahavah significa amor em hebraico.

    -Você não fala nada há uma hora! – quando Sari abriu os olhos, Mychal estava com o rosto a poucos centímetros do seu; ela resmungava totalmente impaciente.

    -Eu não sei o que falar! – Sari deu de ombros entediada, mesmo sabendo que a irmã mais nova estava fazendo drama extra sobre seu silêncio de aproximadamente cinco minutos. As três irmãs estavam na casa de árvore, situada no gramado seco e amarelado dos fundos da propriedade da família Lowe e Mychal parecia obstinada a atrair atenções a todo custo; e ela era realmente muito boa nisso, na verdade, ainda mais quando mantinha sua bola encardida em mãos.

     -Eu não preciso falar o tempo todo. Nem você - Sari concluiu.

    -Mas isso é muito chato – a menor replicou insatisfeita. Como ela estava trocando os dentes, havia uma janela enorme em seus dianteiros que dificultavam sua plena dicção – Elle não larga nunca aquele livro e você não fala nada. Eu me sinto sozinha. Eu quero jogar futebol!

    -Você pode jogar futebol – Sari chacoalhou a cabeça em um incentivo positivo, porém sucinto.

    -Eu não posso jogar futebol sozinha, você sabe disso.

    -Você pode treinar embaixadinhas – Arielle foi quem respondeu mais a distância, ainda sem tirar os olhos daquelas páginas amarelas que pareciam aprisiona-la em outro universo (não o suficiente para que a voz nasalada de Mychal passasse desapercebida, porém).

    -Eu já treinei hoje pela manhã.

    -Você pode treinar de novo – Sari suspirou fundo e acomodou-se melhor na posição de lótus em que estava. Ela gostava de meditar, ou pelo menos ela achava que ficar em silêncio dessa forma era meditar, então era disso que ela gostava de fazer às vezes.

    Ela relaxava. Uma jovem de dez anos precisava dessas coisas, afinal.

    -Eu não quero passar o dia inteiro treinando embaixadinhas. Eu quero jogar com vocês! – a voz de Mychal ao final da sentença mais parecia um lamento.

    -Mas Elle e eu estamos muito muito cansadas, então não podemos treinar com você.

    -Isso é mentira! Se Elle estivesse realmente cansada ela estaria dormindo e não lendo há cinco dias sem parar!

    Um hora, cinco dias, Mychal claramente ainda não estava na fase de compreender o passar do tempo tão bem quanto as irmãs mais velhas; Sari e Arielle apenas se entreolhavam enquanto a segunda revirava os olhos.

    Sari invariavelmente deixou escapar um breve risinho pelo drama da irmã mais nova, o que não foi exatamente bem recebido.

    -Vocês só mentem para mim, porque vocês não gostam de mim - Mychal iniciou um choro agudo e imediato. Ela se dirigiu para a saída da casa na árvore e lá sentou, de costas para as irmãs, como normalmente fazia quando elas brigavam - eu fui a última e vocês não queriam mais nenhuma irmã, eu sei disso.

    -Ei, nunca mais diga isso, ok? - agora Sari desfazia por completo sua posição de lótus para erguer-se do chão e se encaminhar até a irmã caçula que já fungava mais alto. Ela se acomodou sentada ao lado da menor, enquanto Arielle fingia que voltava a prestar atenção em seu livro; ela acabava tendo menos paciência para Mychal do que a irmã do meio.