Feliz para sempre?

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  "Um uísque por favor" eu pedi ao garçom... Enquanto ainda estava com meu coração pulsante. Ele me trouxe o uísque e eu apreciei com desprezo minha imagem refletida na bebida, estava com um cigarro na mão esquerda. O bar estava quase vazio, a não ser por três mulheres numa mesa distante do banco onde eu estava sentado. Havia jazz tocando num volume baixo e toda uma atmosfera solitária próxima a mim, como num desenho animado quando uma nuvem negra de chuva segue um personagem triste. Eu tomo um gole e deixo a bebida aquecer minha frieza interna, o cigarro ameaça atear fogo em mim.

  Um chute na porta do bar assusta as mulheres, um homem esguio com um olhar de fúria e ofegante entra no bar olha em torno do ambiente procurando alguém. Quando o garçom andava na direção do tal homem para reclamar, o mesmo logo vem em minha direção, ignorando e passando pelo garçom. "Quem você pensa que é?" Insiste o garçom, mas o homem se faz de surdo. Não me deixo abalar pela situação, permaneço imóvel olhando para meu copo durante o ocorrido. Então eu ouço os passos do sujeito bem próximos a mim, e ele diz "Você!" e me puxa pela gola da camisa, eu caio para trás, meu cigarro rola pelo chão do bar e agora eu estou com as pernas abertas e me apoiando com as mãos. O homem puxa um revólver e as mulheres ao verem a arma saem do bar aos gritos, o garçom fica parado e tenta acalmar o sujeito "Calma, abaixa essa arma!". O braço levanta e agora a arma aponta para a minha testa, o olhar do homem é de ódio e tristeza, seu olho esquerdo começa a lacrimejar e a arma treme, ele aparenta estar mais amedrontado que eu.

  Não fico tão assustado, já havia pensado tantas vezes em suicídio que a morte já não me servia como ameaça. "Por quê?" eu pergunto ao homem, ele abre a boca lentamente e responde "Você sabe muito bem o porquê", eu fico intrigado, pois nunca o havia visto na minha vida. Ele engatilha a arma, então eu vejo o dedo indicador dele tremer para apertar o gatilho, eu escuto um estouro e vejo um brilho no fundo do cano, cheiro de pólvora e tudo some.

  A morte é bem diferente do que imaginam os vivos, ela é linda e está longe de ser um esqueleto de capuz, ela não te leva embora, ela leva o mundo embora te deixando na realidade, não há céu ou inferno, o que há é a inexistência, algo que pode assustar os vivos mais do que qualquer tortura carnal que qualquer inferno nos poderia causar. Lamento ter que ser o porta voz responsável por quebrar sua ilusória fantasia de pós vida, mas essa é a verdade: quando você morre sua consciência paira e cai num infinito inexistente, o seu corpo já não está mais presente assim como os seus cinco sentidos. Sei que é impossível imaginar como deve ser não existir, a comparação que mais se aproxima é: você sente algo, uma oscilação repentina e eterna entre o mínimo e o máximo. Não é escuro, mas não tem luz, muito menos cor, você não pensa nem sente, você não existe. Quando você morre, percebe que não é a morte a vilã que lhe tira algo maravilhoso como a vida, mas sim a vida que lhe prende de sua verdadeira realidade: a inexistência.

Feliz para sempre?Where stories live. Discover now