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< POV Deco >

Quinta-feira. 9h da manhã. Tic tac, tic tac - no meu pulso, o relógio contava cada segundo até o táxi chegar. Tap tap tap - meu pé não parava de bater contra o cimento da calçada, de tão ansioso que estava. Era minha primeira audição depois de vários anos sem tocar em uma banda. A Hotelo havia acabado já fazia um tempo, todos os meninos foram para cantos diferentes, e eu era o único perdido e largado em um apartamento de 54m². 

Um Toyota Corolla preto parou em frente ao prédio, e o motorista abaixou o vidro. "André Martins Pa... paléguas?" Segurei o riso, e assenti com a cabeça. Abri a porta do banco de trás e entrei, deixando minha guitarra ao meu lado. 

Depois dos 15 minutos mais demorados da minha vida, cheguei ao local da audição. Era um estúdio, e os outros 3 guitarristas que haviam sido convidados para tentar uma vaga na banda já haviam chegado. Eu não estava psicologicamente preparado para concorrer a uma vaga que eu tanto almejava. Fomos todos encaminhados para uma sala de reuniões, onde ficaríamos esperando uns aos outros. 

Fui o último a ser chamado, e todos os outros músicos já haviam sido dispensados. Só sobrava eu naquela sala, e tudo que eu fazia era ficar improvisando alguns solos na guitarra enquanto esperava. No auto-falante, ouvi a voz de Felipe Simas me chamando. Abri a porta e fui para o estúdio. No meio do caminho, parei. Olhei para cima, respirei fundo, e rezei rapidamente. Aquilo tinha que dar certo. Era minha última chance de ser alguém depois de todo o transtorno.

Cumprimentei Ana, Vitória - que mulher... -, Felipe e Isadora. Logo em seguida me dirigi à cabine, onde pediram que eu tocasse a nova música do duo, que haviam me enviado alguns dias atrás. Admito que minha rotina ficou baseada nisso: praticar milhares de vezes a mesma sequência de acordes durante horas e horas, algumas vezes improvisando um solo ou outro, alternando coisinhas pequenas para que ficasse mais confortável de ouvir. 3 longos minutos. E todos valeram a pena. Havia tocado tudo de olhos fechados, sentindo tudo lá dentro do coração. Tudo fazia sentido, até mesmo a letra e a própria melodia. Levantei a cabeça, e pude observar Vitória Falcão me olhando com os olhos cheios de lágrimas. Harmonia. 

Em seguida, nos fones de ouvido que estavam na minha cabeça, ouvi Felipe Simas dizer para que eu improvisasse alguma coisa para a próxima música. Tocou ela por inteiro, para que eu fizesse uma espécie de reconhecimento de território, e em seguida perguntou se eu estava pronto. Assenti com a cabeça, e soltei um "manda". Ele deu play novamente, e eu só fui. Me deixei levar pelos movimentos dos dedos, sempre com os olhos fechados. Aquilo tudo era muito bom. Fazia muito sentido. Dei um sorriso e ajeitei o boné.

"Muito bom, cara. André Martins, né?", disse Felipe.

Assenti com a cabeça. Ele me chamou para sair da cabine, e fui em sua direção. 

"Bem vindo à equipe", ele ergueu a mão em um movimento de cumprimento formal. Arregalei os olhos e soltei uma risada. Fiz o mesmo, e apertei seu palmo. 

Ana e Vitória estavam sentadas no sofá, totalmente a vontade, e logo Felipe me introduziu a elas. O brilho nos olhos da cacheada era um tanto quanto admirador, foi a primeira a se levantar e me abraçar, dando boas vindas. A morena estava um tanto quanto perturbada, não saía do celular, até que a amiga a cutucasse e a fizesse vir até mim.

Simas surgiu com um contrato, e deu em minhas mãos. Disse que queria o papel assinado em até uma semana, caso contrário iria renunciar a escolha. Concordei. Deixei a folha em cima do sofá, enquanto fui até a cabine e recolhi minha guitarra. A guardei dentro da case e voltei. Quando peguei o papel, em seu verso havia um número de telefone. Ergui os olhos para a cacheada, e a surpresa foi um sorriso tímido, porém sincero.

Droga, paixão é um treco louco, né? Pena que tudo faz sentido...

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⏰ Poslední aktualizace: Oct 28, 2018 ⏰

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