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De manhã, aproximadamente 9 horas.

Acordei com o sol forte fritando minha pele e o barulho de água se movendo em grande quantidade. Abri meus olhos lentamente e me virei para o lado percebendo que eu estava em uma canoa. Me sentei e eu estava no mar. No meio do mar. Eu estava muito assustado. Passei a mão em meu rosto tentando me recordar de como vim parar aqui. Apenas me lembrava de que estava em um cruzeiro com a minha esposa e amigos, bebi vinho, muito vinho que acabei desmaiando antes mesmo de sair do salão. Apenas isso. Mas não sabia o que tinha acontecido para eu parar no meio do mar! Não estava com nada além das roupas do corpo, tudo me foi tirado. Relógio, corrente, e até mesmo meus sapatos. Tudo indicava que eu havia sido roubado. Minha cabeça doía, passei a mão na água e lavei meu rosto aliviando um pouco o calor. Tire o meu terno e as meias. O mar estava levemente agitado. Tirei todas as minhas roupas e deixei dentro da canoa. Havia alguns peixes e e eu estava com muita fome, então era pegar ou largar. Com muito cuidado desci da canoa e mergulhei não muito profundo. Um minuto em baixo d'agua, cinco minutos na superfície. Repeti isso no mínimo dez vezes até pegar um mísero peixe que estava lutando para escapar da minha mão. Segurei tão firme que senti que ia esmagá-lo o pobre bicho. Impulsionei meu corpo para cima com o auxílio das minhas pernas para cima um pouco desesperado, estava ficando sufocado.

Em meio a subida a superfície, eu vi algo semelhante a uma pessoa. Minha visão estava embaçada, a figura se aproximou e tinha uma expressão séria no rosto e as orelhas não era orelhas normais. Eram longas e pontudas e os olhos eram aterrorizantes que me fizeram gritar de baixo d'agua. A criatura puxou o peixe das minhas mãos, aquela altura eu não me importei e subi desesperadamente para a superfície e entrando na canoa apenas com a cautela de segurar a roupa. Mais um pouco eu ia ficar pelado. Me deitei na madeira quente da canoa e fechei meus olhos.

⸻o que está acontecendo? ⸺ eu gritei desesperado e a beira do choro. Isso era um sonho? Não, era um pesadelo no qual eu queria acordar logo.

A criatura que eu vira era assustadora. Eu tinha medo e fome. Agora na canoa eu me importei com o peixe da minha mão. Me senti zonzo e fraco, meus olhos pesavam e acabei por desmaiar novamente naquele sol horrendo.

Aproximadamente 11 horas

Acordei com o meu corpo molhado, eu ainda estava despido. Abri meus olhos lentamente e o sol estava mais quente. Ergui minha cabeça e vi três peixes nos meus pés. Franzi minha testa e me levantei devagar. Eu estava morrendo de fome peguei o peixe, arranquei sua cabeça. Notei que não tinha espinhos, era um peixe casção. Tirei a espinha e as nadadeiras. Tive que tirar as escamas na pressas e assim que "limpei" o peixe enfiei um pedaço na boca. O gosto era horrível, tive vontade de vomitar. Mas a fome e a vontade de sobreviver era maior. Fiz o mesmo processo com os outros dois peixes. Ao terminar, eu me sentia melhor. Respirei fundo e joguei água no corpo vermelho pelo sol. Estava ardendo. Peguei minha calça e rasguei fazendo um calça curta que ia até os joelhos. E a minha camisa, rasguei as mangas. Estava um verdadeiro pobre mendigo. Enquanto eu me trocava, eu ouvia barulhos de golfinhos saltando da água e voltando ao mar. Imaginei que se ficasse quieto e eles iriam me ignorar. Correto? Errado. Senti um peso subir a canoa me deixando um pouco no ar. Não tive coragem de olhar para trás, durante alguns segundos ouvi a palavra "Olá." Virei minha cabeça para trás com medo e vi a mesma criatura e baixo d'agua. A diferença era seus olhos. Minha reação foi gritar de desespero e me jogar na água sem ao menos pensar duas vezes.
O que eu contei aconteceu em segundos, mas o inacreditável foi que eu sentia que a água estava me levando para cima contra minha vontade e eu estava tentando escapar. Fui jogado novamente dentro da canoa pela PRÓPRIA ÁGUA. Eu deitado na canoa e a criatura boçal me olhava. Seus olhos eram azuis intensos, seus cabelos eram longos e brancos como a neve de Paris. As orelhas pontudas e grandes, lábios vermelhos cereja, seus ombros até o lóbulo da orelha tinham escamas e sua pele era morena bronzeado pelo sol. O que era aquilo. Eu estava assustado e não conseguia dizer uma palavra se quer. Quando o vi de baixo d'agua , seus olhos eram totalmente brancos o que me deu uma náusea imensa. Essa não. Meu coração palpitava tão forte que achei que ia saltar do meu peito. Coloquei a mão sobre meu peito e tentei me acalmar. O dia estava em seu auge, o sol estava forte e eu sentia uma calor extremo, fechei meus olhos tentando acordar desse sonho ridículo. Isso era demais, até para eu. Ao abrir os olhos a criatura não estava mais ali, não tinha ouvido nenhum barulho. Respirei fundo de certa forma aliviado por aquela alucinação ter ido embora. Fechei meus olhos novamente, mas logo abrir sentindo uma movimentação muito estranho e diferente do que estou acostumado. Me sentei na canoa e quando pensei em me abaixar para ver o que estava acontecendo, golfinhos pularam por cima de mim. Quase cai da canoa de susto. Mas isso não era apenas o que eu vi, minha mente não processava tal imagem. A criatura da minha alucinação estava lá e o pior era a cauda de peixe que tinha no lugar das pernas. Os golfinhos foram um pouco longe de onde eu estava. Aquilo era demais, eu estava a beira da loucura. Era um pesadelo terrível e eu precisava acordar. Eu senti meu corpo formigar, minha visão escurecer e eu desmaiar. Mais uma vez.

Melancolia Dos MaresWhere stories live. Discover now