Primeiro Cap (Parte 1)

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Havia sangue no tablado do Conselho, sangue nos degraus, sangue nas paredes e no chão e restos estilhaçados da Espada Mortal. Mais tarde, Emma lembraria disso como uma espécie de névoa vermelha. Um pedaço quebrado de poesia continuava passando por sua mente, alguma coisa sobre não conseguir imaginar o quanto de sangue as pessoas tinham.
Dizem que o choque amortece os golpes, mas Emma não se sentia amortecida. Ela podia ver e ouvir tudo: o Salão do Conselho cheio de guardas. Os gritos. Ela tentou abrir caminho até Julian. Guardas sugiram na frente dela em barreira. Ela conseguia ouvir mais gritos. "Emma Carstairs estilhaçou a Espada Mortal! Ela destruiu um instrumento mortal! Prendam-na!"
Ela não se importava com o que tinha feito com ela; ela tinha que chegar até Julian. Ele continuava no chão com Livvy nos braços, resistindo a todas as tentativas dos guardas de retirar o corpo dela para longe dele.
"Me deixem passar", ela disse. "Eu sou a parabatai dele, me deixem passar."
"Me dê a espada". Era a voz da Consulesa. "Me dê a Cortana, Emma, e você pode ajudar Julian."
Ela ofegou, e sentiu gosto de sangue na boca. Alec estava em cima do tablado agora, ajoelhado sobre o corpo do pai. O chão do Salão era uma massa de figuras embaçadas; entre elas Emma avistou Mark, carregando Ty inconsciente para fora, empurrando, com o ombro e para o lado, outro Nephilim enquanto saia. Ele parecia mais sombrio do que ela jamais tinha visto. Kit estava com ele; onde estava Dru? Lá — ela estava sozinha no chão, não, Diana estava com ela, chorando e segurando-a, e lá estava Helen, lutando para chegar no tablado.
Emma deu um passo para trás e quase tropeçou. O chão de madeira estava escorregadio com o sangue. A Consulesa, Jia Penhallow, ainda estava na frente dela, sua mão fina pedindo por Cortana. Cortana. A espada era parte da família de Emma, tinha sido parte da memória dela desde que ela se lembrava. Ela ainda conseguia lembrar de Julian colocando-a em seus braços depois que seus pais tinham morrido, como ela segurou a espada como se fosse uma criança desatenta, o corte que a lâmina deixou em seu braço.
Jia estava pedindo para que ela entregasse uma parte de si mesma.
Mas Julian estava lá, sozinho, curvado em luto, encharcado de sangue. E ele era mais uma parte dela do que Cortana era. Emma entregou a espada; sentindo-a ser arrancada de si, seu corpo todo estava tenso. Ela quase pensou ter ouvido Cortana gritar por ter sido tirada dela.
"Vá", Jia disse; Emma conseguia ouvir outras vozes, incluindo a de Horace Dearborn, sobressaindo, exigindo que ela fosse parada, que a destruição da Espada Mortal e o desaparecimento de Annabel Blackthorn fosse respondido. Jia estava vociferando para os guardas, dizendo para eles escoltarem todo mundo do Salão; agora era tempo de luto, não tempo para vingança — Annabel seria encontrada — vá com dignidade, Horace, ou você será retirado, agora não é hora — Aline ajudando Dru e Diana a ficarem de pé, ajudando-as a saírem do local.
      Emma caiu de joelhos perto de Julian. O gosto metálico de sangue estava em todo lugar. Livvy estava
de forma amassada nos braços dele, sua pele com a cor de leite desnatado. Ele tinha parado de dizer para ela voltar e estava segurando-a como se fosse uma criança. Sua fina bochecha contra o topo da cabeça dela.
      "Jules", Emma sussurrou, mas a palavra ficou amargamente em sua boca: esse era o apelido de infância dele, e ele era adulto agora, um pai de luto. Livvy não tinha sido só sua irmã. Por anos ele a criou como uma filha. "Julian." Ela tocou sua bochecha fria, depois a mais gelada, de Livvy. "Julian, meu amor, por favor, me deixe te ajudar..."
Ele levantou a cabeça devagar. Parecia que alguém tinha jogado um balde cheio de sangue nele. Isso cobriu seu peito, sua garganta, respingou em seu queixo e suas bochechas. "Emma", a voz dele mal era um suspiro. "Emma, eu desenhei tantas iratzes... —"
Mas Livvy já estava morta quando ela atingiu a madeira do tablado. Antes mesmo de Julian ter alcançado-a para seus braços. Nenhuma runa, nenhuma iratze, teria ajudado.
"Jules!", Helen tinha finalmente forçado sua passagem pelos os guardas; ela se jogou ao lado de Emma e Julian, desatenta com o sangue. Emma assistiu entorpecida enquanto Helen cuidadosamente removia a lâmina quebrada da Espada Mortal do corpo de Livvy e a colocava no chão. Isso manchou suas mãos com sangue. Com os lábios brancos com luto, ela colocou os braços ao redor de ambos, Julian e Livvy, sussurrando palavras calmas.
O cômodo estava vazio ao redor deles. Magnus tinha entrado, andando bem de vagar e parecendo pálido. Uma longa fila de Irmãos do Silêncio o seguia. Ele subiu no tablado e Alec ficou de pé, arremessando-se para os braços dele. Eles seguraram um ao outro sem palavras enquanto quatro Irmãos do Silêncio ajoelharam e levantavam o corpo de Robert Lightwood. Suas mãos tinham sido dobradas sobre seu peito, seus olhos cuidadosamente fechados. Múrmuros baixos de "ave atque vale, Robert Lightwood", ecoaram atrás dele a medida que os Irmãos o carregavam para fora da sala.
A Consulesa se moveu em direção a eles. Ali estavam guardas com ela. Os Irmãos do Silêncio pairaram atrás deles, um borrão de pergaminho.
"Você tem que deixar ela ir, Jules", Helen disse em sua voz mais gentil. "Ela tem que ser levada para a Cidade do Silêncio."
Julian olhou para Emma. Os olhos dele estavam austeros como céus de inverno, mas ela podia lê-los. "Deixem ele fazer isso", Emma disse. "Ele quer que a última pessoa a carregar Livvy seja ele."
Helen acariciou o cabelo do irmão e beijou o topo da cabeça dele antes de levantar. Ela disse, "Jia, por favor".
A Consulesa assentiu. Julian ficou de pé lentamente, Livvy sendo seguradas por ele. Ele começou a se mover em direção às escadas e desceu do tablado, Helen do lado dele e os Irmãos do Silêncio seguindo, mas Emma seguiu também. Jia colocou a mão para segura-lá.
"Apenas família, Emma", ela disse.
Eu sou da família. Me deixe ir com eles. Me deixe ir com Livvy, Emma gritou silenciosamente, mas ela manteve a boca firmemente fechada: Ela não podia adicionar sua própria tristeza ao horror existente. E as regras da Cidade do Silêncio eram imutáveis. A Lei é dura, mas é a Lei.
A pequena procissão estava seguindo em direção às portas. A Tropa tinha ido, mas ainda restavam alguns guardas e outros Shadowhunters no salão: um pequeno coro de "olá e adeus, Livia Blackthorn" seguia-os.
A Consulesa se virou, com Cortana brilhando em suas mãos, e desceu os degraus em direção a Aline, que estava olhando Livvy ser carregada para longe. Emma começou a tremer, um tremor que começou no fundo de seus ossos. Ela nunca se sentiu tão sozinha — Julian estava indo para longe dela, e os outros Blackthorns pareciam milhões de milhas longe como estrelas distantes, e ela queria os pais com uma intensidade dolorosa que era quase humilhante, e ela queria Jem, e queria Cortana de volta em seus braços e queria esquecer de Livvy sangrando e morrendo e desintegrando como uma boneca quebrada enquanto a janela do Salão do Conselho explodia e a coroa quebrada levava Annabel. — alguém mais tinha visto isso além dela?
"Emma". Braços foram ao redor dela, familiares, braços gentis, levantando-a para ficar de pé. Era Cristina, que tinha esperado em meio a todo caos por ela, que tinha ficado subitamente no Salão enquanto os guardas gritavam para todos saírem, ficado para permanecer ao lado de Emma. "Emma, venha comigo, não fique aqui. Eu vou cuidar de você. Eu sei para onde podemos ir. Emma. Corazoncita. Venha comigo."
Emma deixou Cristina ajudá-la a ficar de pé. Magnus e Alec vinham atrás delas. O rosto tenso de Alec, seus olhos avermelhados. Emma ficou com a mão entrelaçada a de Cristina e olhou em direção ao Salão, que parecia um lugar completamente diferente daquele que eles haviam adentrado horas atrás. Talvez então porque havia sol, ela pensou, vagamente ouvindo Magnus e Alec conversando com Cristina sobre levar Emma para a casa que havia sido disponibilizada para os Blackthorns. Talvez porque o salão tivesse escurecido, e as sombras eram espessas como as pinturas no corredor.
Ou talvez porque tudo tinha mudado, agora. Talvez porque nada nunca seria o mesmo novamente.

                         * * *

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⏰ Last updated: Nov 14, 2018 ⏰

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