Capítulo 1 : "E a saudade crescia..."

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A parede branca a incomodava, gostaria de um ambiente mais colorido, mas como sempre: "Não pode!", esta era sempre a frase que Mônica escutava. Por que para ela tudo era difícil? Ela passava os dias se questionando. "Por quê?" "Por quê?". Eram tantos os porquês em sua vida e, principalmente, sem explicação. Isso tudo estava cansando-a, porém para onde ir se ali era o seu lugar? No seio da sua família.

Mônica se levantou e ficou observando sua mesa, ali era onde estavam as coisas mais importantes do seu dia a dia, todos os seus pertences ficavam muito bem organizados. Ela riu com aquele pensamento, mas era ali que ela tinha alguns livros, uma caixa cheia de fitas k -7 com seu walkman ao lado. Ela não podia deixar de escutar suas músicas, na verdade ela era movida à música. Em qualquer lado ou a qualquer momento, Mônica saía dançando e cantando. Era uma moça feliz? Não se pode dizer que sim, estava tentando lidar bem com a dor da separação. Sua família não entendia como ela pudera amar tanto uma pessoa como Dudu. Naquele momento, os olhos de Mônica se encheram de lágrimas, mas ela, como sempre, passou as mãos em seus olhos para enxuga-los, suspirou fundo e ergueu a cabeça: "Já foi!".

Ela olhou pela janela e viu aquele jardim lindo e se questionou o porquê de não ter coragem de ir ler naquele lindo lugar ao invés de, somente, ficar dentro de seu quarto quase que por todo o dia. Simples, se ela começasse a frequentar normalmente a casa como fazia antes, sua família ia acreditar que toda interferência que eles impuseram ao relacionamento dela, teria sido válida. Afinal ela estaria voltando a viver normalmente no meio deles. Então decidiu seguir se excluindo, porque realmente a dor da separação era grande. Sua família era a culpada pelo seu distanciamento de Dudu. Sempre com suas comparações, mostrando o quanto eram diferentes. Dudu era bem imaturo, não tinha ideia de responsabilidade, achava que vida era coisa de novela das oito. Porém ela o amava, mas sua família não entendia como uma mulher com tão boa formação, tão evoluída, poderia se envolver com aquele rapaz. "Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?" Essa era a resposta que Mônica dava a sua família.

Ela olhou o jardim mais uma vez pela janela. Realmente, era lindo aquele jardim florido com aquele verde gramado. Antes todos que vivessem naquela casa fossem lindos como o jardim. Ou melhor, a casa era como seus ocupantes lindos e coloridos por fora, mas feios e cheios de segredos por dentro. O que isso importava para os demais? Nada! Todos se preocupavam apenas com o seu carrinho do ano, kadett ou Escort; com sua roupinha da moda e de grife, calça baggy da Levis, seu tênis Cantão... "Quanta futilidade!", pensava Mônica. Depois de dar mais uma pequena olhada, sentou-se em sua cadeira, abriu sua gaveta e olhou o calhamaço de cartas escritas por Dudu. Essa era a única maneira deles conseguirem se comunicar desde que ele fora convocado para a guerra.

Vasculhou a gaveta, passando carta por carta e nada da última que Dudu havia enviado. O desespero bateu forte em Mônica, então ela falou alto para que sua mãe escutasse da sala:

— Onde está a última carta do Dudu?! Quem pegou?! — gritou Mônica nervosa.

— Ninguém pegou nada! — respondeu sua mãe da sala.

—Como não?! — seguiu questionando Mônica.

—Procure direito, que você vai encontrar. Ninguém entrou aí! —Deu por encerrado os questionamentos a mãe de Mônica.

Com os olhos cheios de lágrimas, Mônica pegou a penúltima carta, já que não encontrava a última, pelo menos poderia reler algo de seu amor... Dudu mesmo distante, impossibilitado de estar com ela, sempre lhe mandava cartas e cada mês eram mais carinhosas. Abriu a penúltima e pegou o walkamn, colocou o fone, apertou a botão para tocar sua fita k-7,aumentou o volume e passou a ler.

" 23/04/1993

Querida Mônica,

Sabe o quanto me dói está longe de você, mas infelizmente não temos como alterar o passado. Não importa o quanto estejamos distantes, o meu amor por ti sempre será forte!

Não sei como demorei tanto pra perceber o quanto você era importante pra mim, fomos amigos quase irmãos, depois fomos amigos quase namorados e ficamos no quase. Tudo nosso foi quase sem querer. Crescemos juntos! Sua família nunca nos aceitou, até hoje não sei o porquê, mas sei que dói muito estar longe de você, mas continuamos...

Ontem, estive pensando quando dormimos juntos pela primeira vez. Você lembra? Eu lembro bem, porque descobri que gosto de vê você dormir que nem criança com a boca aberta. Não ria, mas fiquei vigiando seu sono. Nunca imaginei ser tão feliz ao lado de uma pessoa como fui ao seu. Aquela noite foi à noite mais feliz da minha vida.

Como você está? Espero que esteja bem. Por mais que eu tente mudar de assunto e não te mostrar o quanto sofro sem tê-la ao meu lado, confesso que às vezes quero te encontrar, chegar até a praia e ver... A praia sempre me faz lembrar você, Mônica. Sempre!

Beijos, Seu Dudu"

Quando me lembro de você... (Uma Nova Versão)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora