Prólogo

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Era noite e as estrelas escondiam-se de mim, zombando da minha incapacidade de ação contra qualquer coisa, rindo da impossibilidade de fuga que eu tinha perante o mundo caótico no qual me inseri. O mais frustrante é ter noção da insensatez que foi mergulhar de cabeça no que poderia ser minha morte por pura e simples escolha. Se é que algum dia tive alguma opção.

Meu corpo já estava inebriado com a dor que o atravessava. Era como se várias lâminas invisíveis o estivessem cortando, deslizando seus fios sobre cada um dos meus órgãos, enquanto meus ossos eram triturados por uma força inconcebivelmente esmagadora, impossibilitando que eu movesse sequer um músculo. Minha respiração se tornava mais pesada e dificultada a cada segundo, mas àquele ponto eu já não mais me preocupava com isso, pois de certa forma a inconsciência era almejada.

Adormecer ali seria reconfortante. O chão molhado me abraçava docemente, embebedando-me com seu frio, com cada gota que pendia do céu despejando seu sabor sobre os poros do meu corpo destroçado. Aquele gotejar rapidamente se tornara um dilúvio que servia de cobertor para mim naquele beco, e sinceramente eu achava que o mundo não mais se lembrava de mim. Eu também tampouco me lembrava dele.

O enegrecer pendia mais firme sobre mim conforme eu piscava meus olhos, como se a vida estivesse se despedindo sutilmente. Mesmo em meio a todo o desvanecer, mesmo não conseguindo saber mais por quanto tempo eu ainda estaria acordado, eu só conseguia pensar nela, a mulher que mudou minha história e me tirou da monotonia que chamam de viver.

Pensava naquela pele, branca feito neve, que parecia desmanchar toda vez que sentia meu toque. Pensava naquela boca rosa e desenhada, que permitia que meus lábios a beijassem com todo o amor que alguém podia descobrir ser capaz de despejar e correrem entre os dela, num momento único que tirava a importância da mais incrível descoberta. Pensava em seus cabelos, na sua seriedade irônica, na gama de características que a definiam como perfeita para mim, mas, sobretudo, pensava em seus olhos.

Aqueles olhos. Olhos que mostravam tudo no nada em que viviam, intensos sob a profundidade daquele verde-relva, rabiscados do meu lápis de cor esmeralda favorito e delineados com uma intensa camada de cílios negros estonteantes, espessos e curvados naturalmente. Aquele conjunto penetrante ficara gravado em minha mente e nunca sairia, nem mesmo naquele momento, e era pavoroso saber que talvez eu nunca mais os visse.

Ela sempre me ajudou e mudou minha solidão, mas agora que ela precisava de mim eu me tornara completamente inútil, não conseguia nem mesmo me mexer. Pela primeira vez eu provava o sabor real do ódio, e era amargo como o gosto de sangue em minha boca. Só de imaginar o que poderiam fazer com ela já me fazia sentir fúria e temor em escalas astronômicas, sensações estas que me davam forças para correr. Mesmo assim, meu corpo não respondia ao estímulo, por mais que eu tentasse.

Subitamente, após já estar completamente perdido na negatividade dos meus sentimentos, comecei a me sentir leve e meus olhos começaram a ficar pesados. Senti por alguns instantes que flutuaria e toda a dor se foi. Não via nem ouvia mais, apenas sabia que ainda estava vivo pelos pensamentos que ecoavam fracamente dentro da minha mente, mas que também se esvaíam sorrateiramente. Mesmo lutando, quando menos imaginava, minha mente se foi.


***


Olá, pessoas!

Esta é uma obra pela qual tenho muito carinho e decidi compartilhar com vocês! Foi a primeira história que escrevi, um início de saga que está no fundo do meu coração e mente há pelo menos dez anos!

Decidi reescrevê-la do início e dar uma cara mais do "adulto Aureo" à ela! Espero que gostem e, se gostarem, por favor, dêem nossa estrelinha marota!

Sigam também @AureoAX para continuarem recebendo a história e comentem bastante! Não sabem o quanto isso me inspira a continuar escrevendo!

A história está em processo de revisão e, conforme eu for terminando, vou postando aqui!

Abração e até mais!

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⏰ Last updated: Nov 24, 2020 ⏰

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Íris - Submerso (Livro Um)Where stories live. Discover now