Capítulo 1- Fim da viagem.

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Lembro-me que chovia muito.

Quer dizer, chovia muito mesmo!

 Eu olhava para o vidro do carro e via muita água.

Senti medo!

Mas qual criança de 10 anos não sentiria em uma situação como essa, um lugar escuro e com tanta chuva. Mesmo estando com meus pais dentro do carro aquilo me deixava extremamente desconfortável, sempre gostei de viajar de carro com meus pais, mas anoite e com chuva, não era legal.

Em determinado momento minha mãe olhou para trás e perguntou:

- ''Ed'' está tudo bem?

Ela sempre me chamava desse jeito, consigo lembrar como era o som de sua voz naquele exato momento, ela estava calma, feliz e sua voz me passava uma tranquilidade que só ela conseguiria passar em uma situação como aquela.

Então só acenei com a cabeça afirmando que tudo estava bem, ela percebeu que eu sentia medo, sorriu com o cantinho dos lábios como sempre fazia quando eu tentava esconder algo e ela antecipadamente sabia. Fico lembrando as vezes da forma que ela sorria, que com toda certeza era única, de um jeito discreto, mas também, um sorriso de que sabia de algo a mais, meu pai dizia que eu tinha o sorriso dela, mas nunca percebi isso.

Então ela olhou uma última vez sem nada dizer, e se acomodou na poltrona novamente.

Meu pai quase não falou durante a viagem, sempre muito concentrado em tudo o que fazia, era um homem que seu objetivo principal era fazer com que a família tivesse paz, conforto. Sempre de poucas palavras, sério e de poucos amigos, mas um excelente pai.

Ele era o responsável por uma firma de contabilidade que herdara do pai dele, meu vô. Mas os negócios depois de alguns anos não iam muito bem, por isso a viagem.

O objetivo da viagem a Chicago- IIlinois, era conhecer um novo emprego, uma oportunidade que ele recebeu de um amigo, que também tinha uma grande empresa de contabilidade e que precisava de ajuda para tocar o negócio, pois sozinho não estava conseguindo, e lá segundo meu pai seria a maior oportunidade das nossas vidas.

Ele disse que em Chicago seria melhor para mim, porque era mais seguro que Detroit, as escolas, o futuro, enfim, Detroit estava ficando fora de controle segundo ele, drogas dentro das escolas, assaltos a luz do dia, assassinatos por motivo insignificantes.

 Detroit já não era mais a mesma, e isso o tirava a tranquilidade.

Por um instante eu olhei para o vidro do carro do meu lado, e percebi que a chuva havia diminuído sua força. Sabe aquele momento em que você consegue contar as gotinhas de chuva, que escorrem no sentido do vento no vidro do carro? Pois é, eu conseguia conta-las, por alguns instantes.

Hoje me pego pensando o quanto são importantes as gotinhas de oportunidade que deixamos escorrer com o vento, o tempo que jogamos fora com coisas que não nos confortam quando perdemos algo que realmente amamos. Me arrependo de não ter abraçado mais, de não ter cuidado mais, de não ter dado mais atenção aos detalhes, de não ter amado mais enquanto podia.

Então em uma fração de segundos enquanto eu me distraia com as gotinhas de chuva no vidro do carro, escutei um grito de desespero! E automaticamente olhei para frente.

Consigo me lembrar dos detalhes como se fosse em câmera lenta, minha mãe abraça meu pai desesperada, os dois olham para traz ao mesmo tempo, ela tenta me alcançar com uma das mãos, mas não consegue, o que vejo naquela hora, naquele exato instante foi uma forte luz a nossa frente e eles foram engolidos por ela, como se fosse por mágica.

SCOTTWhere stories live. Discover now