Único

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Acordou e maquiou-se. Levava menos tempo depois de praticar, depois que fez um curso de aprendizado quando não pode mais ter ajuda para aquilo. Era sua completa independência — agora que estava solitária.

Solitária o suficiente para não se arriscar em relacionamentos ou alguém se aproximar de alguém que não seu pai e sua mãe. Fora assim por anos, desde que houve o incidente com seu irmão.

Pronta pegou as chaves do carro e saiu, indo encontrar-se novamente com Diego. Ainda sentia aquele incomodo frio na barriga, desde que o atendeu e o mesmo retornava para ser atendido por ela, esperando o tempo que fosse. Sua chefe perguntou se havia algum incômodo na insistência do senhor Rocha, ao que respondeu que não. O percebia sempre educado e respeitoso, sem sugerir nada.

Até surgir o primeiro encontro, a familiaridade, até os sorrisos tímidos se alargarem ao perceberem seus gostos em comum.

Diego não entendia bem quando apenas os convites para jantar, cinema ou shopping eram aceitos, enquanto os para piscina, praia ou camping eram recusados. Julgou-a urbana demais, preferindo assim a comodidade à imprevisibilidade do tempo. Então ela aceitou aquele convite de parque de diversões.

Martha ainda estava insegura o bastante, e caso se sentisse ameaçada o atropelaria com o carro — duas vezes para ter certeza. Riu, divertindo-se como nunca mostrou a ninguém antes, animada na fila e empolgada depois. Novamente deixou todos os doces que não conseguia comer com o outro, preferindo os salgados e água que Diego abandonava em troca das guloseimas e refrigerante.

Ele se encantou mais ao vê-la divertir daquele modo, e talvez pudessem pegar a sessão da meia noite antes de encerrar aquele dia, se os pingos de chuva não a houvessem deixado preocupada. Martha quis partir de imediato quando notou que a precipitação seria maior.

— Martha! — chamou Diego. — Espere, por favor!

— Preciso ir. — respondeu.

— Pensava se poderíamos ver um filme...

— Hum... não hoje, está chovendo demais.

Apressou-se, com a chuva de vento contra seu rosto, sem mais voltar-se para Diego, e com a testa vincada em frustração seus passos eram firmes. Parou quando seu ombro foi seguro pelo outro.

— Está tudo bem, se precisa ir. Podemos nos despedir aqui. — Diego sugeriu. — Pode se virar pra me olhar?

— Se eu fizer isso terminaremos. — ameaçou Martha.

— Terminar? E começamos alguma coisa?

Pode escutá-la rir, de fato era um relacionamento raso, algo que ele não levaria com tanta importância.

— Escute, Martha... Eu gosto de você, mas... Tudo bem se não confiar em mim, mas poderia me dizer por que? Pelo fato de eu ser homem? De não gostar de mim? Eu posso lidar com a rejeição, se for isso. — sugeriu Diego.

— Meu irmão é... um fanático religioso... — Martha disse.

— Hum, certo...

— A água...

A contornou quando a viu baixar a cabeça, e de frente pra ela levantou seu rosto com a palma da mão. Martha manteve os olhos baixos, há tanto tempo não se expunha daquele modo... Respirou fundo enquanto as marcas do seu rosto eram analisadas — cicatrizes rosadas, vermelhas, sem poros, em relevo...

— Ele achou que eu crescia rápido demais quand... — continuou antes de ser interrompida.

Sentia-se realmente tocada agora, que sua máscara se desfizera com a água, e sentiu o polegar mover-se ainda sem soltá-la. Ouviu-o suspirar.

— Você sabe que açúcar é a minha droga. — disse Diego.

Beijou-a novamente, nunca deixaria de gostar de doces...

Açúcar É A Minha DrogaWhere stories live. Discover now