Olga.

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Lá estava Olga.

Olga. Que sempre se preocupou com os assuntos mais desprezados por suas amigas. Olga. Que para poder conversar sobre seus desejos e seus temores fazia terapia - e depois de um ano ainda não havia recebido um diagnóstico.

Olga. Que com quinze anos de idade, já tinha flertado com um menino da escola. Não, flertado apenas não, ela também já havia dado um selinho em um outro garoto espinhento durante um jogo de verdade e desafio. Ela sempre foi uma menina muito contida, tímida, por assim dizer, por isso os famosos "flertes" com um menino em especial aconteciam apenas por mensagens de texto.

Olga. Que se dizia feminista e tinha os melhores argumentos contra piadas machistas, homofóbicas e racistas, mas só pensava neles durante a hidratação do seu cabelo no banho.

Olga. Que sempre soube que queria ser desenhista quando crescesse, até que aos seis anos mudou de ideia para atriz, e então chef de cozinha, fotógrafa, médica, desenhista novamente, até que tirou a nota máxima em uma redação sobre alguém especial da família no quinto ano e resolveu que queria ser escritora, até que mudou para arquiteta, jornalista, historiadora, tradutora de séries e atualmente, no seu último ano de ensino fundamental resolveu que ainda teria muito tempo para decidir isso, embora os simulados do enem já batessem na porta.

Lá estava Olga, sem saber o que fazer. Olhando a infinidade de stories das infinidades das panelinhas dos adolescentes da sua escola. "Eu faço parte de uma panelinha" ela pensava "quer dizer, não concordo com esse sistema, ele só incentiva uma hierarquia injusta e cruel dentro de uma escola e isso consequentemente faz milhares de vítimas de bullying que serão marcadas física e psicologicamente pelo resto de suas vidas e eles terão que fazer terapia por anos esperando por um diagnóstico e depois mais anos esperando por uma alta. Mas pelo menos isso estimula a economia de alguma forma".

Olga evidentemente foi uma vítima de bullying, mas então ela entrou para uma panelinha. Pois é assim que funciona.

As imagens das meninas da panelinha da Olga - meninas que ela considerava suas amigas - apareciam em uma abundância absurda de stories. Pelo visto, era uma festa não autorizada organizada pelo grêmio estudantil da sua escola.

Normalmente, o grêmio estudantil da escola de Olga convidava todos os alunos do oitavo ano para cima, porque a direção obrigava. Mas esta festa não era autorizada pela direção, então veja, uma perfeita oportunidade para o sistema de hierarquia de panelinhas mostrar sua influência. Yey!

As pessoas da panelinha - de certa forma "neutra" - da Olga foram convidadas para a festa. Ela não. Por que? Ora, ela não tinha como ter certeza, mas nutria uma enorme suspeita no fato de que havia contado para seus amigos que paquerava virtualmente um menino de outra turma chamado Ivan, integrante de uma panelinha social que ocupava um espaço bem baixo na hierarquia social de panelinhas. E possivelmente esses supostos amigos de Olga vazaram um print de uma mensagem "sugestiva" que Olga mandara para Ivan. E agora, esse print encontrava-se nos arquivos de quase todos os estudantes socialmente aceitos da escola de Olga.

Lá estava Olga. Deprimindo-se diante da alegria alheia. O que ela poderia fazer?

Bem, naturalmente, um leque de opções surgiu diante dela. Dentre tantas escolhas, poderia recomeçar sua vida com um novo nome em outro estado, o que seria totalmente desnecessário e absurdamente desesperado. Ela poderia parar de falar com seus amigos de panelinha, e passar seus recreios conversando com a tia da biblioteca - uma opção que para ela não parecia tão ruim, ter mais conversas sobre coisas que ela de fato se importava (nesse caso livros) seria ótimo para a natureza intelectual dela. Mas ao invés disso tudo, ela decidiu o que estava ao alcance de suas mãos. Ela abriu seu whatsapp e mandou uma mensagem para Ivan.

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⏰ Last updated: Jan 06, 2019 ⏰

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As Panelinhas Sociais de Olga e IvanWhere stories live. Discover now