A.ttila

51 4 6
                                    

"A imagem em minha cabeça era a de um futuro daqui a cento e tanto anos anos, quando um sub-sub-bibliotecário incumbido da tarefa menor de limpar o mofo acumulado no porão abanadonado há muito tempo poderia encontrar uma pilha embolorada dos meus livros. Ele os enfileiraria e notaria que, organizados em ordem de publicação, formavam o nome Attila. Ele sorriria, depois voltaria a cuidar de seu trabalho."  Katherine Dunn. Pipes Cove, Long Island. Outubro de 2014.

A poeira não parece se acumular facilmente. Palavras, essas sim, acumulam-se de forma fácil e peculiar. Peculiar. Poeira. Palavras. A letra continua martelando a cabeça de quem não sabe mais o quê, como ou onde. (Escritor jovem, eu sou. Escrevo pensamentos entre parágrafos para não atrapalhar a história que aqui descansa). Início mais uma coletânea que nem sei onde isso tudo vai parar.

Respira. Inspira. Respira. Inspira. As coisas seguem uma ordem até que ele chega ao local, parece tão clichê e a aparência é exatamente igual. (Ele não vai ler isso, ninguém vai ler, possivelmente uma fã fiel — com o coração cego em palavras — veja isso e pense: "Você já foi melhor, Lee Taeyong). A cafeteria continua vazia. Só existe ele e eu. 

A melodia que toca no fundo da cafeteria é opaca. (Não sei o motivo de escrever isso, só lembro que era tudo ofuscado quando o vi).  Não pareceu ter outra alterenativa quando ele se sentou na mesa da frente, queria ir falar com ele e  — claramente — jamais teria essa coragem. Sou escritor, aventureiro e corajoso somente entre frases oblíquas. Fora dos meus livros, me sinto um nada e procuro o retorno de algo que jamais poderei ter. Isso que escrevo está se tornando mais pessoal do que pensei. (Merda). Preciso parar de colocar meus pensamentos e opiniões em parágrafos, seria tão ruim tê-los na história? (Sim). 

Tomo coragem. Vou lá. Começamos a conversar. Ele me conta sobre seus sonhos e ideias. Me falou que gostaria de ser dançarino, porém fazia faculdade de medicina veterinária. Prossigo a conversa falando que faço letra, comento que estou finalizando e agradeço uma força superior por isso. Ele ri. Gostaria de acompanhá-lo. Nunca mais irei vê-lo. (Droga). Gostaria de voltar para a universidade, quem sabe esbararria nele e começaríamos um lindo clichê? O meu melhor amigo, um estudante americano de matemática, talvez me mataria por calcular as porcentagens errada — e não vejo problema nisso, é tudo tão complicado. Odeio números.

Paro para pensar sobre algo que me mata. (Não é como se estivesse triste por nunca mais vê-lo). Só que era exatamente isso. (Claro que não, não é como se também fosse discutir com o personagem e palavras do meu livro sobre isso). Você está fazendo isso.

(É triste perceber que essa é minha história com um estranho tailandês da faculdade, terminei Letras faz muito tempo e ainda insisto em visitá-la — finjo que o caso ocorreu ano passado, todavia sei que fazem mais de 5 anos. Ele deve ter voltado para seu país de origem, me sinto satisfeito por ter tido uma simples conversa com o garoto. Pensei que ficaria apenas dias pensando naquele rosto. Um minuto se passou, ele sorriu. Pensei que ficaria apenas meses martelando sua face em minha mente. Estou aqui, anos depois, escrevendo um livro sobre. Dias, meses, anos, além das expectativas. Queria homenageá-lo. Chittaphon. Precisava do "P" ainda, não irei fazê-lo. O livro se chamará Wonderwall, assim como a música do Oasis). 

"Meu nome é Chittaphon, mas me chame de Ten", ele disse.

(Assim como a música, tenho certeza: Talvez ele seja o único que me salve.)

E, acredite ou não, há uma parte nessa história que muitos não vão ter conhecimento. Ninguém nunca vai entender o motivo de Wonderwall, uma simples música viral de 1995, ser tão especial para mim e o porquê de sempre me lembrar dele.

(A verdade é que ele me deu um guardanapo com algo escrito, minhas esperanças encheram quando pensei que fosse seu número. Infelizmente, ou talvez felizmente, era simplesmente a letra da música do Oasis. Nunca fiquei tão decepcionado na minha vida, não queria que ele soubesse do pouco caso que fiz. 

Até hoje guardo aquele guardanapo, pensando na possibilidade das letras sumirem e — magicamente — aparecer um número. Mesmo que hoje ele tenha uma família, um namorado, talvez só um cachorro, gostaria de vê-lo novamente.

Espero que, um dia, sua outra geração ou até ele mesmo, em uma idade avançada, perceba na minha tentativa falha de homenageá-lo pela minha arte.)

Eu te amo, Ten.

(E, assim, finalizo o livro e acabo com o "Chittaphon", espero que ele aceite um "Chittawphon.)

"Onde Lee Taeyong é um escritor vazio. Ao esquecer que cada coisa precisa de um próposito, ele vê. Chittaphon, disse ele." Taeten. Não sei quando será o fim ou a publicação. Pipes Cove, Long Island (ou talvez um pequeno lugar no Ceará). Janeiro de 2019.


Observações: Perdão por algo tão curto, tentarei trazer algo maior nos próximos. (Não, eu não sei o que aconteceu com Chittaphon, me desculpe).

Inexistências parciaisWhere stories live. Discover now