intermitentes.

1.

"São Paulo é um buquê. Buquê são flores mortas, num lindo arranjo."

                                                                                Criolo.    

Isso era pra ser uma história bonita. Um lindo conto escrito para conter personagens maduros, conscientes e prontos pra vida. Um cenário alegre e coadjuvantes carentes. Com versos profundos e vozes marcantes, do gênero que você não vai se conformar com o final.

E tinha tudo para ser.

Se vossa história que você, meu caro leitor, não pairasse na vida de seis adolescentes perdidos e maltratados. Se ela também não ocorresse na cinza cidade de São Paulo e seus habitantes tão frios quanto o clima. Tantos ''se'' que até chego a duvidar que realmente possa ter um final tão feliz assim. E é por isso que lhe ditarei palavra por palavra dessa grande confusão.

Verão. Ano Letivo. Carro. Maconha. Racionais MC's.

O carro de Rubens estava infestado. Um forte cheio de marola preenchia e fazia os garotos ficarem chapados só de estarem ali dentro. É muito estranho um garoto de dezoito anos ter um carro, mas Rubens já havia passado dessa fase de dependência dos pais. Ele já tinha o próprio carro, que diga-se de passagem é muito foda. Antigo, mas bem conservado e vários detalhes imposto por ele mesmo. Carros eram paixão do loiro. Não era á toa que corridas pagavam suas contas no fim do mês.

RUBENS é um cara desses que você conhece uma vez na vida. Daqueles que tu simpatiza de primeira ou se assusta de cara. Um exemplo de 8 ou 80 na certa. Ele é o mais velho e de longe, o mais responsável. Já viveu muito, o que leva ter tantas tatuagens, um carro comprado com seu próprio dinheiro e não morar mais com os pais. O loiro por muito azar do destino, engravidou uma ex-namorada e hoje é pai. Não que ele não goste disso, muito pelo contrário... os pais da tal mina não o aceitaram e acabaram se mudando para o Rio, levando a filha e o neto. Rubens sente muita falta do filho pequeno e junta dinheiro para ir visitá-lo. Ele também é muito conhecido por organizar corridas clandestinas e ganhá-las virou rotina. Ele tem um coração bom e é muito ligado à Valentina, pela história que construíram juntos.

O loiro começou a apalpar os bolsos atrás de um colírio. Ele tinha esquecido o perfume em casa, então foda-se se se estava ou não com um cheiro forte. Os outros provavelmente também não haviam trazido qualquer coisa para disfarçar e todos na escola sabiam que eles não eram projetos de santos. Na verdade, eles até inventavam fofocas sobre. Rubens não dava a mínima, ele pagava suas contas e não se importava com o resto. Cutucou Valentina que estava casando com o beck e mostrou o colírio para ela pingar nos seus olhos castanhos. A garota de cabelos azuis passou a ponta para o pessoal no banco de trás, e se virou para ajudar o amigo. Ela não entendia o por que das mãos de Rubens tremerem depois de fumar um.