Prólogo

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É visível para mim que não está fazendo bem para o meu amigo assistir, em sua festa de casamento, sua linda esposa dançando com o mexicano poderoso. Toco seu braço levemente e sondo seus olhos de gato arisco. — Rico, comporte-se. Ela já é sua, todos podemos ver isso. – Ele tenta um sorriso, e eu me divirto com sua crise de ciúmes. — Eu sei que ela é minha, mas eu acho que meu amigo, por mais que negue, nunca vai se acostumar com essa ideia. Realmente, o mexicano de olhos sombrios deixou muito claro em duas ocasiões em que eu o assisti, que a ruiva era sua prioridade. Não que ela o olhasse com a mesma devoção, ou com um décimo da mesma gravidade. O homem era todo poder e testosterona, suas atitudes gritavam posse e proteção. E isso me atraia como um ímã gigantesco, me fazendo uma cadela invejosa do que Rayana possuía e parecia não perceber. Sentindo-me audaciosa e com vontade de provar alguma coisa a mim mesma, incentivo meu amigo a interromper a dança inocente de um dos seus melhores amigos  com sua  deslumbrante e apaixonada noiva. — Então vou ser uma fiel escudeira e atrair o grande lobo pra longe de sua Rainha vermelha. – Consigo enfim um sorriso de verdade do homem que já significou muitas coisas pra mim, mas que na essência sempre foi um grande amigo, quase um irmão não fosse por algumas noites de sexo muito quente e perverso. — Você vai atrair o grande lobo? – Ele arqueia a sobrancelha divertido. — Mas pensei que o pequeno lobo, estivesse fazendo seu caminho até você? — Quem, o Gui? Rico o garoto tem 28 anos. Você acha que eu me envolveria? — Hey, não subestime meu irmãozinho, ele é um Dom muito poderoso nos circuitos de BDSM. E o fato de você estar, literalmente, de boquinha aberta com a informação me mostra que o lobinho só estava querendo me irritar em Paris. Caminho com Rico até a pista de dança ainda impressionada com o quanto me enganei a respeito de Guilhermo. Enquanto ele reivindica sua mulher, ofereço meu melhor sorriso ao homem que anda se esgueirando nos meus sonhos pelos últimos dois meses e meio. Sou recebida com fria indiferença, como nos nossos encontros anteriores. Mas quando imagino que ele vai me largar ali no meio da pista, os acordes de Volare, do Gipsy Kings, ressoam no salão. E com a sensação de liberdade que a música sempre me desperta, fecho meus olhos e começo a ondular os quadris como a antepassada cigana que, meus avós maternos garantiram que eu tinha. Então eu danço, livre de tudo e qualquer preocupação, enquanto grande lobo me caça, seguindo os acordes, o seu toque firme e poderoso fazendo minha pele formigar. Levito ao redor do seu corpo, alegre como não me sinto há meses e depois de minutos, ou horas, quando a música finalmente acaba. Eu estou de volta aos braços poderosos, que me sustentam no meu último rodopio. No entanto, seu olhar em minha direção é tão frio quanto suas próximas palavras: — Belo show, cigana. Se, você não fosse tão versada na arte da sedução, talvez eu me sentisse tentado a experimentar tudo que você me prometeu nessa dança. Porém, eu não me contento com sobras dos meus irmãos...  – O tapa ressoou pelo salão, intensificado pelo silêncio que se fez ao término da música. Meus olhos encontram primeiro Nick e Ranya, depois Rayana e Rico e olho ao redor agradecendo a Deus por não ver nem sinal dos meus pequenos. Voltando a encarar o dono do belo rosto agora enfeitado com a marca dos meus dedos, quase caio de joelhos diante da fúria e do poder que exalam de sua postura e olhar. — Sinto muito senhor, se te passei a impressão errada, alguns homens não entendem que nem sempre uma dança é um convite. Na maioria das vezes uma dança é apenas isso: uma dança. – Faço uma mesura irônica e me viro pra sair. — Miranda. Volte. – A ordem me compele e eu me viro lentamente, me dando conta de que todos estão ouvindo e assistindo. — Isso é uma festa senhor, respeite ao menos nossos amigos. – Seus olhos negros me fuzilam. — Deveria ter pensado nisso antes de estampar sua mão na minha cara.  — Abaixa o tom pra que só eu o ouça — Se me pedir desculpas agora, pra que todos nos ouçam. Eu não te entregarei a surra que você merece por me agredir. “louco desvairado” -- Como se eu fosse chegar perto suficiente pra ele cumprir sua promessa arrogante. Buscando uma rota de fuga segura, apelo em alto e bom som para o patriarca do clã que me acolheu como um membro da família: — Roberto, eu pensei que você e Esperanza tivessem instruído seu filho de que, quando se ofende uma mulher na sua dignidade o mínimo que se pode receber é uma bofetada. Agradeça, senhor Rodríguez, que eu não queira quebrar as unhas, pois você poderia estar ostentando agora um olho roxo ou um nariz quebrado. – Enfim me afasto, pensando onde estava com a cabeça ao me imaginar páreo para outro homem com a palavra SOMBRIO tatuada na testa. Ao abandonar a festa após o embate nada agradável com os outros homens da família. Eu sabia que tinha ferrado tudo! E tudo por não ter conseguido virar as costas no momento em que ela lançou aqueles olhos de cigana em minha direção.  Quase o fiz, mas quando ela começou a mover os quadris sinuosamente, exalando sensibilidade por cada poro do corpo perfeito... Dios Santíssimo! Me perdi completamente no calor de sua pele embriaguei-me, completa e irrevogavelmente, em seu cheiro. A sensação foi tão poderosa que pisquei, incrédulo, com a conexão, e o sentimento de “lar” que, aquela mulher, me inspirou naquele momento. Demorou para que, em meio à bolha de sentimentos na qual me via envolto, me desse conta de quem era realmente a mulher ali comigo: a ex-amiga de foda de dois dos meus irmãos, a mãe egoísta e irresponsável de duas crianças que de algum jeito já faziam parte da minha família. Porém foi aquele sorriso de canto, conhecedor do seu poder sobre um  homem, o responsável por estilhaçar o restinho do meu controle. E agora, diante do garotinho que aprendi a amar e do lindo anjinho ruivo ao seu lado, eu tentava esconder a bagunça de fúria e vergonha na qual minha vida, antes reservada e controlada, se transformara. — Como vai Miguel? — Fora essa roupa infernal, eu vou bem tio Ruben. Como vocês suportam? – Sorrio de canto. Mas quando estou prestes a responder sou impedido por uma voz infantil doce e musical. — Miguel! Quantas vezes mamãe já te explicou que não se deve falar com estranhos? – Ótimo, outro ser humano que me faz sorrir. — Tio Ruben não é estranho. É amigo do meu padrinho e do seu também e é filho de um grande amigo do nosso pai. – O pequeno anjo me avalia e então me sorri abertamente, estendendo a pequenina mão. — Desculpe, Tio Ruben. Sou Manú, e é um prazer te conhecer! -- Eu recebo sua pequena mão e ajoelho no chão para que ela enxergue meus olhos. — Você está certa Chiquita. Precisa olhar pelos seus é isso que família faz. — Porque você mistura duas línguas para falar, tio? Você é espanhol? O meu pai era, você o conhecia? — Eu não conheci seu pai, eu estava na faculdade, quando ele esteve com minha família. — E minha mamãe, você a conhece? — Eu já a vi algumas vezes, mas nunca conversamos de verdade. – Fora o fiasco da última hora, quando entreguei meu atestado de inapto a ter qualquer coisa, até mesmo uma simples conversa com ela. — Tio Ruben nós gostamos muito da sua família. – Ela é um encanto. — Obrigado, preciosa! Eu gosto muito de vocês dois! E não é minha, mas nossa família. — De verdade Tio Ben? – É sério que ela me deu um apelido? — Si, Preciosa. E, Miguel, não esqueça disso, meus pais amavam muito tu padre e isso não mudou porque ele morreu. — Senhor Roberto e dona Esperanza já me disseram isso, mas é difícil, porque até uns dias nós não tínhamos ninguém, só nossos padrinhos. E agora tem um monte de gente... E se ... Quer saber eu vou tomar uma Coca cola, vem comigo Manú? — Não Miguel, vou ficar com tio Ben. – Miguel corre pra casa grande e eu fico de novo sem entender sua atitude. — Meu irmão tem medo de perder, ele se preocupa de que quando os bebês chegarem, nossos padrinhos esqueçam nossos vínculos, e também tá assustado que eu morra e o deixe pra cuidar de mamãe sozinho. – Ela é uma menina muito madura pro seus 9 aninhos, e ouvir ela assumir com tanta naturalidade a possibilidade de morrer, assusta um inferno dentro de mim. — Você vai se curar, Preciosa. Tudo vai ficar bem. — É meu irmão inseguro quem precisa se convencer disso e minha mamãe teimosa que odeia receber ajuda. Ela é maravilhosa sabe? Eu tenho muita fé e esperança de que vou ficar bem, mas se não funcionar, eu também me preocupo com os dois, porque são iguais, não sabem pedir nem aceitar ajuda. — Manuella, você é sempre assim? — Assim como tio Bem? — Madura, confiante e sobretudo doce. — Obrigado! Acho que eu imitei tanto minha mamãe que acabei aprendendo. — Sua mãe tem sorte Preciosa. Você e seu irmão são uns verdadeiros presentes. E vocês também são abençoados porque sua mãe parece ser uma mulher muito especial. – O pequeno anjo me entrega um sorriso que a faz resplandecer. E eu me sinto muito bem, como há semanas não me sentia, a sensação de insatisfação completamente drenada de mim ao me sentir envolvido pela alegria desse anjo que tem todos os motivos do mundo pra estar triste e ao invés está aqui me trazendo alegria. E, sem precisar de nada mais do que autoconhecimento, me dou conta de que quero estar por perto, pra cuidar e proteger os pequenos. Porra, a quem estou tentando enganar, eu quero tudo, o pacote completo! Quero estar ao lado da mãe deles também, dividir as dificuldades com ela, conhecer melhor a submissa audaciosa que me desafiou quando nenhuma outra foi capaz. Por uma segunda chance de estender a mão e a pegar para mim, como prometi fazer quando encontrasse a mulher certa, sou capaz de tudo. Porque em meu coração, alma e mente há lugar para apenas uma mulher: Miranda Shepard.

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INEVITÁVEL : livro 3 SÉRIE "AMORES IMPREVISIVEIS" Degustação Completo na AmazonWhere stories live. Discover now