Vem, meu amor, me tirar da solidão

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"Vem para o Olodum, vem dançar no Pelô."

Os fragmentos coloridos que caem do céu atrapalham minha visão da obra de arte mais bonita dessa época do ano (e de todas as outras). Mas eu nem me incomodo porque, de certa forma, meu vislumbre dessa cena só se mostra cada vez melhor.

Tu brilha em meio a avenida e eu me sinto mera espectadora desse teu espetáculo bonito entre as pessoas e as fitinhas que serpenteiam o ar ora caindo ao chão, ora enfeitando teu corpo.

Nem me importei de fazer contigo o que eu mais achava brega. Usar fantasia combinando pra que onde a gente fosse o mundo soubesse que eu sou teu par. Acho que o amor faz isso com a gente.

Faz eu ser apaixonada pela imagem do teu corpo curvilíneo caindo no passo colorindo ainda mais o cenário da festa mais alegre de todas. E tu rodopia ao meu lado cantando a letra de cor e salteado sorrindo cheia de dentes durante todo esse processo de me fazer refém do bloco mais bonito que é o teu sorriso.

As flores no teu cabelo volumoso te deixam ainda mais linda e é sobrenatural a forma como tu não perde a beleza em meio ao calor humano, a folia e a desorganização das pessoas. E eu, toda bagunçada, a cabeça pesada e o peito batucando agitado, nem me importo de estar um caco. Porque nem importa de verdade se eu tô contigo.

E ao som da marchinha a gente não cansa de brincar feito criança em tarde de domingo. A gente até recebe alguns olhares de quem não entende nosso amor entortando as cabeças preocupados demais com nossos toques que nem lhes sobra tempo pra sambar. Mas a gente nem liga. A gente dança, abraça, beija, cheira e mostra ao mundo o que passamos o ano escondendo. Esse amor que não se contém nos sorrisos e vem frevar na multidão.

E hoje pouco importa se amanhã a ressaca vai bater em manhã de cinzas e a cabeça vai doer em cima da cama. Não vai importar!

Porque eu vou olhar pro lado e te ver dormindo tranquila repondo as energias que a gente gastou ontem na folia e que não terminou em nosso colchão. Ainda vai sobrar um pouquinho de confete na tua juba me lembrando que a folia nunca acaba quando a gente tá junta.

Amor de confeteWhere stories live. Discover now