(in)gratidão!

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Muita gratidão. Gratidão a que?
Que tanto essa gente tem para agradecer?
Grato por respirar, por andar, por falar, por ter o que comer.
Tudo bem, que bom que isso tudo se tem!
Mas até que ponto a gratidão não é egoísmo?
Até que ponto separo-me tanto dos outros que, não tendo em mim as dores, não as sofro por quem as tem?
É certo que não se pode ou não se deve carregar as dores do mundo (que homem aguentaria?) mas não vamos pecar pelo excesso de contentamento.
Sejamos francos, o mundo vai mal, e vai muito mais mal do que bem, e pra muito mais gente vai mal do que bem.
Se deito em minha cama e penso que no mundo tantos não possuem uma cama e um teto, o que sinto não é gratidão, meu peito se enche de lamento.
Se me sento para almoçar e todo dia tem comida em minha mesa, como poderia não lembrar de quem tem como incerta uma refeição durante o dia?
Novamente lamento, não agradeço.
Aliás, agradecer a quem? Agradecer pelo que?
Seria eu especial? Seria eu digno de ter o que tantos não tem?
E por que tantos não têm?
E vou agradecer por ser privilegiado enquanto meus irmãos vivem no contrário?
Florear a vida com palavras não fará dela menos cruel e dura.
Sejamos francos, temos muito mais razões para lamentar do que para agradecer.
E que me chamem de ingrato, me desculpem! Pois não vou festejar as minhas migalhas, nem fechar os olhos para a desgraça dos que não tem o que agradecer.

F. Moreno

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⏰ Last updated: Mar 09, 2019 ⏰

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