Irmã Maria José

Capítulo 1 sem título

Domingo ensolarado, na praça muitas famílias passeavam, num dos cantos uma pequena feira recebia alguns visitantes e no outro lado da rua um grande mercado atendia os últimos clientes antes de fechar..

- Eu quero ser como você! - tentando chamar atenção, José puxou o habito da Ir. Cidinha. Sem receio se distanciou de seu pai Pedro.

Ela se abaixou, arrumou o hábito para não amassar, olhou bem fundo nos olhos do garoto e disse:

- Você é um menino, José. Então tem que ser Padre.

- Não, não, quero ser como você, usar esta roupa grande de mulher. Me leva junto. Você mora aonde? Só te vejo no hospital. Você mora lá?

Irmã Cidinha, jamais se imaginou estar diante de um menino que revelara o desejo de ser freira igual ela.

Ai meu Deus vai vir complicação, um menino que quer ser uma freira. Será que é por que me achou bonita? - olhou o garoto que ainda sorria e acarinhou sua cabeça - Logo você esquece da freira, mas vou pedir para sua mãe te levar para conversar com o padre, afinal você é menino!

- Ei - José puxou o habito da Irmã novamente como se não a tivesse ouvido. - Ela tentou seguir, mas José não desistiu.

- Onde você mora? Quero ir com você! Nós vamos por ali?

Ela pegou, com suas mãos macias aquele rosto angelical e seus olhinhos brilhavam. Irmã Cidinha sabia que era bonita e que despertava atenção de qualquer pessoa, mas o brilho dos olhos daquela criança refletiu um pedido que não precisou de muito tempo para ler o que neles estavam escritos. Eu preciso de ajuda! O eco daquela vozinha trouxe a memória toda a vida sofrida que o garoto passava. Não podia levar José com ela, seria muito pior. Então, arranjou uma desculpa imediatamente:

- Eu moro longe... numa casa bem grande aqui mesmo em Porto dos Mártires. Peça para o seu pai te levar pra conhecer.

Duas lágrimas rolaram pelo rosto de José quando a Ir. Cidinha mencionou a palavra "pai". Então ela tentou consertar o equívoco:

- Você é um menino... menino pode ser Padre. Eu sou freira. Meninas são freiras, meninos são padres. Quantos anos você tem?

José mostrou os cinco dedinhos de uma das mãos e dois da outra, além de uma janelinha quando abriu um sorriso doce.

- Sete anos. Então quando você crescer um pouco mais você pode estudar para ser padre, entendeu querido?

- Não, não padre, não, quero ser como você, uma fleila.