Amanhã as manchetes serão as mesmas

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Rubem, um homem comum como todos os outros, pelo fato de querer ser diferente de todos os outros, se locomovia de um lado para o outro e sentia-se preso por sua rotina. Esta que passava repetidamente e automaticamente, tornando dias iguais aos anteriores e indiferentes dos futuros. Exceto por alguns intervalos, por algumas noites.

Acordava, passava seu café, lia as manchetes dos jornais "O terror continua por toda cidade" levantava sua esposa, com quem já estava casado a uns 20 anos, levava sua filha menor à escola, seu filho maior à faculdade e ia para o trabalho, por mais que o trajeto em si fosse cansativo e o deixasse um pouco irritado sentia um mínimo prazer por estar dirigindo aquela máquina, e que máquina era seu carro! Um Subaru Ascent, lindo, enorme, quatro por quatro, todo preto, rodas cromadas, enfim, ele amava esse carro (talvez mais que qualquer outra coisa).

Ganhava seu gordo salário mensalmente após 8 horas diárias trabalhadas na firma e só aguentava essa merda de firma pelo dinheiro mesmo, e o gastava quase todo com as futilidades de sua esposa e com seus filhos "pai me dá um troco, pai compra isso, pai compra aquilo, pai eu quero!". Assim, como em um ciclo sem perspectiva, seus dias se passavam, a rotina estressava, enlouquecia.

Para fugir de tudo isso, algumas noites o serviam muito bem, ia ao encontro de mulheres que não amava (não que amasse realmente sua esposa), e que satisfaziam seus desejos. Drogava-se para perder a noção do tempo, para sentir algo, não buscava mais deixar sua infelicidade de lado, ou ao menos tentar estar feliz como todas as pessoas que via, na TV, nas fotos, na firma, em casa, eram ótimas máscaras, eram suas vítimas.

Eufórico, buscava emoções que lhe causavam sensações de alívio, o desestressava, e então dirigindo seu Subaru saía mais uma vez sem rumo, buscava um lugar discreto dentre aquele caos urbano. Encontrou..

Tinha um grupo de jovens se drogando, sentados no meio fio daquela ruazinha quieta, mal iluminada, sem muitas residências ou câmeras. Era um cenário perfeito. Rubem avistou de longe e ao se aproximar lentamente apagou os faróis, alguns daqueles jovens perceberam que algo estava errado, mas já era tarde.

Em um rápido movimento, Rubem engatou a terceira marcha, pisou fundo no acelerador, aquele motor potente era ouvido e excitava-o, mas não o excitava mais que os sons causados pelo impacto, os ossos de dois dos jovens sendo quebrados, estraçalhados e depois atropelados, foi um golpe perfeito!

Ao chegar em casa, estacionou o carro, o limpou metodicamente, já sabia onde o sangue respingava na lataria, e disse à sua esposa " Cheguei do trabalho Amor". Ela mal o cumprimentou e já avisou:

"Rubem, nosso filho está se drogando, você sabia disso? Parece que nessa casa eu não sei de nada. Ele saiu por ai com alguns amigos que nunca vi. Quando ele chegar converse com ele, afinal ele é jovem e é seu reflexo".  

Amanhã as manchetes serão as mesmasWhere stories live. Discover now