chuvas de verão | vmin / pjm+kth

sol e chuva

Quando você entra para uma faculdade de grande renome as pessoas geralmente costumam te dizer "Caramba você é muito sortudo, parabéns!" ou então "Você vai ver só, daqui pra frente sua vida vai ser uma beleza". Bom, hoje eu vim aqui para te dizer que todos eles estão mentindo e que eu sou a prova viva de que a vida universitária também pode ser um saco se você for tão "sortudo" quanto eu sou na maior parte do meu tempo.

Meus pais sempre apoiaram todas as minhas escolhas quando eu era criança, sempre se orgulhavam muito de mim e tudo o mais, éramos uma família perfeita, mas foi dizer que eu ia desistir da faculdade de direito no meu primeiro ano para me transferir para artes visuais que eles passaram a me tratar como a ovelha negra de todas as gerações dos Parks. Era fofoca sobre eu ser preguiçoso de um lado para o outro nos almoços de domingo, era tio rindo de mim e perguntando se eu estava preparado para morar embaixo da ponte e todas essas coisas que já mostram como, desde o início, eu tive muita sorte por ter nascido numa família cheia de advogados.

Apesar de todo esse incrível inferno em casa, eu continuei firme na minha decisão, principalmente depois que meu primo Hoseok disse que me daria o maior apoio de todos e que poderíamos dividir um apartamento perto da universidade se eu quisesse. Vocês já devem estar pensando que meu primo é o melhor cara de todos não é? Eu até poderia dizer que não, mas ele é mesmo... Tirando o fato de que toda semana eu tenho que ouvir gemidos vindos do quarto ao lado porque ele levou o namorado dele, o Yoongi, que inclusive é muito simpático, "só pra ver um filme na netflix". É como dizem né, netflix and chill, talvez mais chill do que netflix realmente.

Enfim, foi quando eu cheguei ao terceiro semestre do curso que as coisas começaram a ser má sorte atrás de má sorte toda semana, e todos os dias passaram a ter a rotina de acordar e pensar "tudo bem, hoje não é meu dia, mas eu consigo enfrentar isso". Apesar disso, é óbvio que sempre tem aquele dia especial para as coisas irem além do pior para poderem ser apelidadas de péssimas, e aquela sexta foi justamente o tipo de dia em que eu me odiava pelo simples fato de ter a coragem de levantar da cama.

Eu acordei, olhei o céu nublado pela janela e pensei que, ok, se eu fosse rápido pra sair de casa talvez eu não acabasse pegando chuva, mas foi eu pisar um pezinho no chão fora da cama que aquela garoa chata começou a cair como se estivesse rindo da minha cara. O mundo estava me dando um sinal, mas digamos que eu sempre fui meio surdo para sinais do universo. Eu respirei bem fundo e olhei pro meu relógio, e aí acabei entendendo porque o mundo resolveu rir da minha cara logo cedo... É, eu estava muitoatrasado, provavelmente porque eu havia ignorado dois dos meus despertadores da manhã e só acordei com o alarme apelidado carinhosamente de "barulho irritante pra dizer que eu tenho que sair de casa agora".

Acabei correndo por toda casa para poder me vestir enquanto tentava comer e ajeitava minha mochila, e minha sorte foi tanta que eu só notei que estava com uma camisa listrada horrível, de estômago vazio e sem o dinheiro para a passagem de ônibus no bolso quando já estava saindo do prédio no qual eu moro. Não tinha mais como voltar, eu estava atrasado demais, e por isso eu fui andando meio apressado pela rua como se eu tivesse medo de ser assaltado a qualquer momento, mesmo que, na verdade, eu não estivesse com nada de valor além da minha mochila pela qual eu paguei uns trinta reais numa daquelas lojas de um e noventa e nove.

Ah sim, um ótimo dia, o que mais poderia acontecer não é mesmo?

Começou a chover.

Calma, chover? Chover era pouco, o mundo na verdade começou a cair como se Noé estivesse chegando a qualquer momento para nos salvar de novo... Se bem que eu estou com tanta sorte que acho que ele acabaria me deixando pra trás sem querer querendo, já que ninguém ia querer um Park ilustrador em alguma cidade futurista perfeita. Desonra pra você, desonra pra sua vaca e por aí vai né?