santificado seja o vosso nome

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O magreza do sanduíche internamente pincelado de atum não tirava o apetite do garoto de pele leitosa e joelhos avermelhados. Palmas enroscadas e olhos fechados: era um ritual de todas as refeições. Então vinha o suspiro, o gole a seco e o amém. Sempre terminava com amém.

Ia à igreja todo santíssimo dia, decorava orações, lia e relia as passagens bíblicas com um sentimento de obrigação e zelo pelo que lhe parecia certo. Repudiava Judas, aplaudia Jesus, abençoava Moisés e inspirava-se em José. Sua vida resumia-se a servir ao Senhor, a ler sobre Ele, conversar com Ele. E tudo que a bíblia abominasse, ele abominava também.

Mastigava devagar ao observar a mesa frente a sua, a qual encontrava-se um grupo de garotos que, ao seu ver, pecavam em demasia e tampouco buscavam o perdão do santíssimo Senhor. Ao ver dois deles vir se aproximar, agarrou seu crucifixo no pescoço e balbuciou um ave-maria tão rápido que nem ele acreditou no próprio amém.

— Yah, Chenle! — um deles, de cabelo rosa e band-aid no nariz, achegou-se ao seu lado. — Seu queridíssimo coleguinha, Lee JaeNo, precisa da tua ajuda.

— A que posso lhes ajudar, hyungs? — respondeu com a voz calma, baixa e doce. Certo dia obteve a infeliz oportunidade de vê-los enfiando socos e pontapés num estudante, na saída do colégio. Ainda que repetisse que, tendo o Senhor, não havia o que temer, não evitava a hesitação quando via-se próximo daqueles meninos.

— Tem como você fazer uma oração danada de boa 'pra o NoNo passar em física e matemática, huh? — o menino juntou as mãos, estando a implorar.

— Ah, p-pode ser, hyung. Mas a fé vem dele — o rapazote alourado grudou os joelhos vermelhos e engoliu em seco.

— Mas Deus resolveu que não vai ajudar NoNo e olha como meu bebê está triste! — apontara para o moreno fingindo um choro.

— Eu acho que não vai funcionar, coleguinha. Seu amigo tem que merecer e ele não tem feito muitas coisas boas — a voz embargada de Chenle era o chamado nervoso.

Por mais que quisesse mentir, dizer que ia, sim, fazer o pedido, sabia que Deus com certeza iria puni-lo por fazer isso e ainda brincar com Teu nome. Por isso que ele não voltou atrás naquelas palavras, mesmo que isso significasse ter aqueles dois no seu pé até que aceitasse.

— Jaemin-hyung, Jeno-hyung! O que vocês fazem aí? — apareceu-lhes, então, aquele quem Chenle assistia a todo tempo com a culpa cravada na cabeça. Tinha encrostado na mente o número de vezes que citara-o no seu confessionário com o padre Lee.

Ele era filho de um pastor, tinha bochechas elásticas e madeixas cor de cenoura. Um sorriso sem igual, admitia o chinês, com aqueles dentinhos dignos de uma criança de cinco aninhos, fazendo parecer que ainda iriam crescer, devido tamanho e fofura. Mas este era o que pecava mais.

— Estamos pedindo a Chenle que ajude Jeno a passar de ano — de outrora, o menino de cabelos rosados, Jaemin, prontificou-se a responder.

— Rezando? — o ruivo decidiu sentar-se bem à frente do estrangeiro, olhando-o com escárnio.

Jaemin concordou com a cabeça. E então Jisung proferiu, perfurando a alma do chinês com tais palavras e um olhar de mau julgamento:

Não adianta olhar 'pro céu com muita fé e pouca luta.¹

Mórbido era o silêncio que aqueceu aquela mesa por longos segundos de encaro e tensão. Jaemin foi o primeiro que resolveu falar.

— Mas o que isso significa?

— Significa que não adianta você rezar por paz e igualdade, sendo que não sai do sofá para buscá-las — e nisso o jovem ia dizendo, e nisso ele olhava o loiro branquelo apertando o crucifixo nos dedos pequenos e aparentemente macios. — Estude e você vai passar de ano, Jeno.

amém « chen. sung »Where stories live. Discover now