jogue a bolinha.

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"Você precisa pegar a bolinha, Jungkook." A voz aguda da mulher sentada em sua frente fez Jungkook revirar os olhos.

"E o que eu faço com essa merda?" Perguntou confuso e de forma rude.

Ele não escondia o fato de que não queria estar ali, detestava o lugar e a cada minuto que se passava ele odiava mais tudo o que vinha acontecendo em sua vida.

"Eu preciso que você a pegue e jogue naquele canto até que pegue ela novamente, faça isso enquanto diz em voz alta o que te irrita." A mulher diz de forma calma e com um suave e simpático sorriso nos lábios.

Era até mesmo admirável a forma como ela era calma.

Jungkook a olhou de forma estranha, ele se perguntava internamente se isso era algum tipo de brincadeira,  sentia-se estressado apenas de olhar a bolinha no chão.

Iria contrariar mas desistiu quando percebeu que quanto mais rápido ele fizer isso ele sairá dessse lugar.

Pegou o objeto vermelho no chão encarando como se esperasse que ele se pronunciasse, as demais pessoas ali presente o olhavam estranho, mas o garoto não se importava.

"Quando estiver pronto." instigou a mulher.

Suspirando o garoto começou a jogar a bola. "Bom, eu estou aqui por que me acham um desequilibrado."

"Isso é realmente necessário?" Questionou na terceira vez que jogou e a terapeuta assentiu freneticamente com a cabeça.

"Continue."

"Me acham um desequilibrado, pois eu estou cansado das pessoas pisando em mim, eu cansei de toda essa merda que vem acontecendo." Bateu a bola com força dessa vez causando um leve baque chamando a atenção de algunas pessoas que estavam dispersas.

"A merda do meu pai, se é que eu posso chamá-lo assim, me bate. Eu o odeio. Ele me bate constantemente e eu nunca consigo reagir. E, talvez, esse tenha sido o problema. Eu acumulei coisas de mais."Você tem que se manter firme, Jungkook." É o que todos dizem! Mas não é o que eu quero ouvir, estou cansado e machucado. E se eu quiser apenas quebrar na frente de todos? E se eu quiser apenas chorar a noite toda? Ninguém liga para como eu me sinto, eu nem estou aqui por que se preocupam comigo."

"Então, explique o motivo." A mulher novamente instigou o garoto que estava divagando.

"Porque eu quebrei o nariz do meu pai, não sou uma pessoa agressiva. Foi a única vez que eu revidei, a única vez que eu realmente reagi. Eu só não aguentava mais tudo, eu preciso fazer algo com a minha vida. Preciso mudar, não posso deixar ela se afundar assim. E, na primeira oportunidade eles mandam para este maldito grupo, como se eu fosse uma pessoa completamente perturbada e temperamental. Eu odeio machucar as pessoas, odeio mesmo, mas... porque elas não fazem o mesmo comigo?" Ao terminar de falar ele faz uma pergunta retórica que ele sabe – sabe, tem a certeza – que ninguém, nunca, irá responder. Afinal ninguém se importa.

"Consegue continuar?" Essa pergunta irritou o garoto que limpou as lágrimas que se acumulavam nos cantos de seus olhos.

Ele se recusava chorar agora.

Sem responder a terapeuta ele volta a falar.

"As pessoas pisam em mim," bateu com força a bolinha. "Me batem," rosna. "Me colocam para baixo," suspira batendo com cada vez mais força. "Me matam aos poucos, e a única porra que eu posso fazer é vir a esse maldito grupo de apoio para ficar batendo na parede a merda de uma bolinha, como se isso fosse resolver todos os meus problemas!" A última frase foi dita com muita raiva e rancor acumulado em si, ele liberou um terço de tudo aquilo que o sufoca.

"Estou cansado disso tudo!"  Bateu a bolinha uma última vez e dessa vez desviou seu corpo, o objeto vermelho foi lançado pela sala batendo no recepiente que continha suco. este que caiu ao são quebrando e espalhando todo o líquido pelo chão.

Jungkook respirou fundo passando a mãos pelas têmporas que já começavam a doer, pegou seu casaco e murmurou um "Realmente cansei," para em seguida deixar o local sem pronunciar mais nem uma palavra.

stressOù les histoires vivent. Découvrez maintenant