sobre mudanças e novas faces

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eu fui pássaro voando no seu aboiz, tão aprazível lugar que minha visão se calava em surdez contínua. contudo, como perceber os artifícios por trás do sorriso ambíguo que desdenhava em tons azuis?

és nada, senão um farsante. um intérprete necessário de uma peça de mau gosto.

és um desconhecido que sussurra mentiras em timbre delicado, confundindo as minhas razões. assumes identidade que não te pertence mais, afirmando-te como 'jungkook' quando teu nome há muito tempo se perdeu junto das tuas feições verdadeiras.

acaso não tens respeito pelo homen que eu amo? carregando por aí identificação de alguém que há muito tempo foi, entretanto, não mais é.

mas tu não me enganas, não mais. eu o conhecia como a palma da minha mão, recordo-me de todos os seus contornos e cores.

e tu podes até ter os cabelos dele, com os fios longos caindo polidamente sobre os olhos. e podes ter o mesmo sorriso com os semelhantes dentes grandes e a risada curiosa. até mesmo as marcas são iguais, espalhadas pelo teu corpo tratando a derme como tela a ser pintada.

porque eu fui pássaro voando no seu aboiz, tão aprazível lugar que minha visão se calava em surdez contínua. contudo, como perceber os artifícios por trás do sorriso ambíguo que desdenhava em tons azuis?

tu não és digno do nome que edulcorava a minha boca na mais sutil menção.

porque tua voz soava fria, rachando meu peito em inverno de urano, e o néctar aflorado se desmanchava em ácido ao me dirigir a palavra.

os olhos, sim os olhos. os teus não me fitavam com a mesma atenção como os dele faziam. na verdade, o que restava agora era um fogo azul prenúncio de tempestade, substituindo o ar primaveril dele.

és um estranho e eu um morador indesejado de um local secreto. preso nas amarras da tua artimanha, mirando tuas costas ao deixar-me para trás no mais comum erro.

és um obscuro mistério que cobriu o meu amado, mudou-lhe a personalidade e sugou-lhe a vida e todo o calor. restando para mim a casca oca de um ser perdido.

jungkook, como tu podes sê-lo sem o ser? não havendo nada nele que se assemelhe à ti, mas havendo tudo em ti que se assemelha a ele.

vá embora e traga-o de volta, só para eu ouvir mais uma vez o meu reflexo nos orbes escuros da sua galáxia.

porque tu és nada, senão um farsante. um intérprete necessário de uma peça de mau gosto.

conotativoWhere stories live. Discover now