Um conto ideal para o mundo perfeito.

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Tales caminhava pela única ponte suspensa de sua cidade e o sol já dava as caras no horizonte. A cada passo o chão de vidro abaixo de seus pés se iluminava como um show de luzes natalinas. Conforme o tempo passava, cada vez mais pessoas tomavam o caminho da ponte. Todos, inclusive Tales, caminhavam até o lado "trabalho" da cidade, onde era estabelecido todo o tipo de ambiente onde pessoas pudessem desenvolver suas habilidades únicas visando o crescimento da sociedade.

A ponte era o único caminho na cidade para o outro lado e sua travessia era obrigatória para a população. Todos os cidadãos sabiam que a iluminação de suas moradias, a possibilidade de sustentar todo tipo de transporte, a criação de novas tecnologias e outros meios que necessitavam de algum tipo de energia tinha como fonte, principalmente, a energia gerada na ponte pelo caminhar de todas as pessoas. A estrutura metálica e robusta era uma das principais fontes que sustentavam a cidade. Os nomeados engenheiros de energia sustentável desenvolveram a passagem com o objetivo de filtrar o movimento e a força do caminhar, transformando todo o esforço em energia elétrica. Tales, humildemente nunca entendeu direito este processo e a tecnologia usada.

O mundo era outro, uma revolução mundial tinha trazido fim ao capitalismo em todo canto do mundo, e o dinheiro, principal fonte de troca no Velho Mundo, já não existia mais. O individualismo ou a não colaboração já não eram mais costumes do ser humano. O trabalho se tornara algo único para cada um e servia, não só para o total desenvolvimento social, como também para enaltecer o ser humano, com suas vontades, sonhos e habilidades específicas. No mundo capitalista, o pensamento com desejo de posse fazia com que as desigualdades aparecessem, expondo a fraqueza do mais fraco que desistia de exercer suas reais habilidades para praticar algo mais fácil de lidar e com retorno financeiro rápido, causando um empobrecimento no pensar de cada ser humano. Isso de alguma forma tornava a sociedade aleijada, fazendo com que alguns alcançassem e outros afundassem no fracasso. A sociedade não encontrava o seu equilíbrio. Algo sempre faltava, envenenando e destruindo aos poucos a vivência do ser humano. A revolução que originou o novo mundo no qual Tales cresceu era tida como uma salvação.

Juntaríamos todos em uma sala, afrouxaríamos nossos cintos, conversaríamos. Todos relaxariam, descansaríamos sem culpa, não mentir sem medo, discordar sem julgamento.

No novo mundo a habilidade de cada um era valorizada. O importante era a colaboração para a sociedade alcançar sua realização pessoal e coletiva. O que reinava era o ideal. O trabalho de cada um era realizado pensando no conjunto de bens, sejam materiais ou não, que seriam adquiridos para a sociedade evoluir.

Tales chegava ao final da ponte pensativo e naquele dia observava tudo mais do que o comum. Apesar de apreciar toda aquela convivência, algo sempre o intrigou sobre o passado, o atual presente e o previsível futuro. Seu gosto pela história da humanidade fez nele surgir o ideal de ensinar, contar e guiar outras pessoas para que essas tenham o conhecimento. No mundo capitalista, Tales seria conhecido como professor de história, mas ali era reconhecido pela sua habilidade de trazer ao entendimento e compreensão os rumos que a humanidade tomou até aquele momento.

Nós ficaríamos e responderíamos e expandiríamos e incluiríamos e permitiríamos e perdoaríamos e aproveitaríamos e envolveríamos e discerniríamos e inquiriríamos e aceitaríamos e admitiríamos e divulgaríamos e abriríamos e alcançaríamos e falaríamos.

Ao chegar do outro lado, sem sair da ponte, Tales olhou para trás e observou. Talvez querendo aprender algo ao somente olhar ou encontrar respostas para perguntas antigas.

Você está bem querido ? – uma gentil senhora perguntou a Tales.

Tales demorou para reagir, mas rapidamente sua atenção mudou.

A Utopia de TalesWhere stories live. Discover now