O Parque

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                                                                                          por Ricardo Gnecco Falco


É o papai que me acorda todo dia, desde que a mamãe trocou de emprego de novo.

Ele me leva todas as manhãs pra passear no parque, logo depois que a gente prepara junto os sanduíches. O papai coloca o nosso café da manhã dentro dos saquinhos plásticos e guarda tudo na merendeira que a mamãe me deu, quando eu entrei na nova escola. O suco vai lá dentro também, mas fica separado, em uma garrafinha com tampa de rosca, pra não derramar durante o caminho. E, antes de fechar, o papai coloca as maçãs da Turma da Mônica, que ele sabe que eu e a mamãe adoramos.

É lá no parque que a mamãe agora trabalha, desde que foi mandada embora do hospital.

Eu não gostava de quando ela trabalhava no hospital, e sei que o papai também não. Mas foi o papai quem me explicou, quando nos mudamos, que o hospital era um lugar muito importante, onde ficavam muitas pessoas que precisavam de ajuda e que por isso que a mamãe tinha que passar tanto tempo lá, trabalhando bastante.

Longe de casa... E de mim.

Foi o papai também quem me falou que a gente ia ter que se acostumar a fazer coisas que, antes, era a mamãe quem fazia. Tipo: preparar lanche, lavar a louça que a gente sujasse, arrumar a nossa cama, colocar as roupas usadas dentro do cesto... Essas coisas todas.

Eu até que me acostumei bem com tudo isso. O difícil, mesmo, era não ter mais a mamãe por perto todos os dias, brincando comigo, rindo das minhas piadas bobas, fazendo cafuné gostoso e contando histórias para eu dormir...

Não importava se era dia de aula ou fim de semana, eu não encontrava mais com a mamãe, porque ela trabalhava todos os dias até bem tarde. Eu não conseguia ficar acordado até a hora que a mamãe chegava em casa e, quando eu acordava na manhã seguinte, ela já tinha saído pra trabalhar de novo! O papai falava que ela vinha aqui no meu quarto e me dava um beijo toda noite, mas como eu estava dormindo, eu nunca me lembrava.

Eu só conseguia ver a mamãe uma vez por semana, quando o papai me levava lá no trabalho dela na época, no hospital.

E como era bom! Mesmo muito cansada, ela me abraçava tão forte, mas tão forte, que até esmagava as minhas costelas! Então eu contava tudo que tinha acontecido desde a última vez que a gente tinha conversado, pois a mamãe gostava de me ouvir falar sobre tudo que eu tinha feito aqui em casa, junto com o papai, enquanto ela estava trabalhando no hospital. E, às vezes, ela chegava até a chorar lá, de tanto orgulho de mim!

O papai também chorava de vez em quando, mas não no trabalho da mamãe; e não era de alegria, como quando a mamãe ouvia as minhas histórias. Ele tentava disfarçar, mas eu via a água escorrendo pelos cantos dos olhos do papai quando ele ficava sentado sozinho aqui em casa, no escuro da sala.

O papai nunca, nunca mesmo, chorava na minha frente. Ele dizia que era alergia, ou que tinha entrado alguma coisa nos olhos dele... Mas eu sabia que era mentira, pois tinha vez que, antes de eu dormir, eu escutava o papai chorando baixinho no quarto dele, esperando a mamãe chegar.

Ele também sentia saudades dela.

Foi quando a mamãe começou a trabalhar direto no hospital que o papai passou a ficar mais triste. Eu nem sabia que ela tinha parado de vir dormir aqui em casa. Só numa madrugada, quando eu tive um pesadelo horrível e acordei com muito medo e fui correndo para o quarto deles, foi que eu vi que a mamãe não estava lá. Então o papai me explicou que a mamãe tinha passado a dormir lá no trabalho dela também.

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