Rotina de mãe

26 0 0
                                    


Certa vez, saindo da academia, encontrei uma amiga de colégio, uma jovem moça, casada há pouco, que sonhava em ter a sua própria família, com crianças felizes correndo pelo jardim.

Três minutos de papo furado e eu já olhava para o relógio agoniada, pois meu horário já estava se esgotando.

- Como é ter filhos? Ela me perguntou.

"Que tipo de pergunta é essa?", pensei. "Ela não vê que estou agoniada para ir embora?"

Típica pergunta sem resposta fácil. Não dá para responder com duas palavras, mas ninguém que não tenha filhos terá paciência de ouvir a resposta completa, como ela deveria ser...

-É difícil, mas é bom, eu respondi, enquanto um turbilhão de pensamentos se embaralhava na minha cabeça, e a minha rotina diária passava diante dos meus olhos como se fosse um filme.

"É difícil, mas é bom". Que tipo de resposta foi essa? Como explicar isso? Será que menti? Não, acho que não...é exatamente isso. Não, não é. Às vezes não é bom. Ah, deixa pra lá, ela não vai querer saber detalhes.

Realmente é difícil. É difícil explicar como é ser mãe, como é ter filhos. Quando eu não os tinha e me explicavam, eu dizia que entendia, mas não entendia. E você só percebe que não entendeu quando tem os filhos e é tarde demais para entender...

E não adianta dizer que é ruim ou dizer que é maravilhoso. Nunca é um dos dois apenas, e nunca é apenas os dois.

Enfim, à parte deste turbilhão, a rotina que me passava pela cabeça era mais ou menos assim:

Acordei. Que dia lindo. Olhos ressecados, cansaço da noite mal dormida (mas já? Eu mal acordei...).

Coloco o primeiro pé no chão, já preciso pensar no que fazer. Lavar a mamadeira, esquentar a água ou fazer o café? O marido já fez o café e esquentou a água. Ufa, é só lavar a mamadeira.

Lavo a mamadeira, aproveito para lavar o resto da louça de ontem que sobrou na pia. Buááá, o bebê acorda (mas já? 6h da manhã?).

Não termino a louça, seco a mão na toalha, coloco a água quente na mamadeira, o leite em pó, misturo e saio correndo para dar ao bebê.

Enquanto ele mama, aproveito para arrumar a cama de casal. Mamããããe, terminei. Pego a mamadeira, o travesseiro ficou torto, volto na cama para arrumar o travesseiro, esqueço a mamadeira no criado-mudo, porque lembro que tinha que fazer xixi.

Sento no vaso, o bebê surge na minha frente. Levo um susto, me limpo, saio do vaso, lavo as mãos, seco, pego o bebê e vamos brincar de carrinho (momentos de felicidade).

Durante a brincadeira, lembro da mamadeira suja. Pego a mamadeira, saio correndo até a cozinha, deixo na pia, pensando na hora que tenho que voltar pra terminar aquela louça, mas volto pra brincar, depois de ouvir 37 "mamãe, volta aqui". Consigo distrair o bebê pra brincar sozinho, lembro que tenho que tomar café.

Pego meu café, faço uma banana amassada com pasta de amendoim e me sento no sofá pra ver o jornal enquanto o bebê me chama loucamente e eu tento contornar os chamados fingindo que já já eu vou.

Tomo meu café ao som de "mamães" e cachorro chorando, porque quer a banana do prato.

Deixo a louça do café no sofá, o café meio tomado ("tomo o resto depois", eu penso), e vou atender o bebê. Chego e já sinto o cheiro de xixi na fralda. Troco a fralda, coloco no lixo e lembro que tenho que tirar os lixos.

Tiro os lixos dos banheiros, da cozinha, das fraldas já fedendo, e deixo na porta enquanto o bebê se pendura na minha perna.

Lembro do café, mas já está frio, então vou levar a louça pra cozinha e brincar com o bebê.

História de uma mãe sendo mãeWhere stories live. Discover now