Rattenkönig

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O sol descia lentamente para longe do céu, que, enquanto no crepúsculo, mostrava o brilho gradual da lua, a ventania ainda não havia começado, por isso, Marilia se apressou e acendeu as velas para que iluminassem o jantar, batatas cozidas, e coxas de frango, Marilia e sua filha, Teodora, estavam em um dia feliz, a garota completara sete anos hoje, então sua mãe preparou um prato especial, claro, que não é o mais adequado, mas suas condições não favoreciam as duas. Marilia é uma mulher de cinquenta e sete anos, que já foi casada com um fazendeiro, que morreu a cinco anos, ela ainda não sabe como, nem porque, mas sabe que as coisas pioraram, que suas memorias tomam conta dela quando todas as velas se apagam no escuro da noite, que limpar a casa suja de poeira todos os dias era como arrastar o corpo de um homem morto para debaixo da terra sem ele, mas ela seguia, com sua filha de sete anos, comendo estas batatas cozidas e coxas de frango, ouvindo um zumbindo em seus ouvidos.
Após o termino do jantar, levou Teodora ao quarto e fez suas preces ao seu lado, pediu para que ela agradecesse a Deus por mais um ano de vida bem, e disse a sua filha para fazer seus pedidos, a menina novamente olha para cima e pede "queria que o papai voltasse da cidade, esse é meu pedido de aniversário, senhor". Sua mãe ouvia atentamente, mas nunca dizia nada. Quando ela terminou, tirou suas roupas e ficou apenas com sua roupa de baixo, se deitou e foi coberta por Marilia, que beijou sua testa e foi até seu quarto, como a alma perdida que ela era, se deitou também, e ficou pouco tempo deitada, pensando, este deve ser o pior momento de seu dia, onde ela pensa mais do que nunca, onde ela corta todos os laços com o mundo real, e visita suas maiores tormentas, vinte, trinta, uma hora se passaram, e ela não dormia, estava atenta ao som da desgraça da noite, se segurando para não cair em prantos, porque ela não queria que sua filha ouvisse, e pensasse que ela era filha de um Deus imundo, que não a ajudaria nos prantos de sua mãe, Marilia sabia que era verdade, mas nunca admitiria.
Se passaram duas horas, até que um grito de dor tomasse conta de toda a região, Marilia se assustou e levantou rapidamente, correu como uma raposa, até o quarto de sua filha, onde viu uma cena que seus país a alertaram sobre em seus tempos áureos, um rato preto, grande, com olhos brilhantes e vermelhos, no canto do quarto, e Teodora em outro, com sangue em sua perna e uma marca pequena de mordida, Marilia se desesperou, correu até o quintal, deixando sua filha a sós com aquela besta, pegou uma pá que estava caída no chão da parte de trás da casa, correu até o quarto ouvindo pelos corredores a garota chorando alto, quando entrou, viu o rato tentar se esconder abaixo da cama de Teodora, Marilia balançou a cama para assusta-lo, e o mesmo saiu rapidamente tentando pular para a janela, o golpe foi impetuoso, todos os ossos do animal foram esmagados e uma poça de sangue se formou como um jato, o último grito foi alto e explosivo, indicando que tudo tinha acabado, mas, por mais que Marilia entendesse que era o fim, nunca era, Teodora solta um grito de dor, como se a mordida se intensificasse após a morte do rato, as lagrimas em contraste com os gritos, alimentaram o zumbido no ouvido de Marilia, que sabia que não poderia lidar com isso, não tinha como leva-la a cidade pois nem lembrava onde era, nem tinha um cavalo, ela nunca precisou sair de lá, mas quando precisa, é uma situação onde os fatores nos destorem, segundos passam e Marilia só observa a perna de sua filha, ela não vê mais nenhuma resolução para o problema, não sabia lidar com mordida de rato, mais segundos se passam e Teodora já está inconsciente, em meio a sangue, vísceras e ossos, de rato e de humana, outros dois ratos aparecem, outros dois ratos morrem, mais dois aparecem, mais dois morrem, Marilia não entende, em toda sua vida, ela nunca vira uma quantidade tão grande de ratos, e nunca teve que passar por isso. Três novos ratos passam, mais quatro, a quantidade aumenta, de onde todos eles saíram? Marilia vê que não adianta mata-los e corre para o corredor com Teodora no colo, puxa uma corda e uma escada cai do teto, quase acertando as duas, o sótão poderia ser uma ótima solução de fuga por um tempo, mas não por muito, Marilia não estava pensando nisso, a solução que ela buscava era para o presente horror que elas passavam, Teodora continuava desmaiada, e Marilia começava a chorar, enquanto ouvia o som dos ratos cresceram, agora, Teodora não iria ouvir, ouvir que Deus mentia, que ele não salvaria as duas pobres almas, então Marilia estava chorando, ela queria rezar, mas não conseguia, os lábios de Teodora começaram a espumar, Marilia balançou sua cabeça em negação, ela não acreditava no que estava acontecendo. Os ratos começaram a subir de alguma forma, todos longe delas, como se as respeitassem, sem saber o que fazer, Marilia se levantou e começou a matar os ratos com sua pá, mas não parecia que daria resultado, já que a cada um que era morto, mais cinco apareciam.
Marilia já havia desistido, mas seu corpo continuava a matar as criaturas obscuras, até abrir um caminho em meio deles, que se fechou, prendendo Marília, onde, no canto, ela via olhos brilhantes, verdes, vermelhos, azuis, parados, neste momento, ela tinha certeza que o Anticristo se manifestará, era o suficiente para sua provação, ela começou a orar, enquanto chorava e matava ratos no sótão de sua casa, esperando um sinal de sua filha, que não estava mais espumando.
Até que para sua surpresa, Teodora movimenta sua boca, fechando ela, e abrindo novamente, depois disso, ela abre os olhos, vermelhos como os dos ratos parados nos fundos obscuros do sótão, ela mexeu a boca, e de lá, saíram palavras, que Marilia ouvia com dificuldade, já que os sons da praga se espalhavam e fechavam Marilia, o zumbido nunca foi tão alto e desesperador, com seus olhos vermelhos, cheia de sangue em sua volta, caída e imóvel, Teodora diz:

- Pobre alma, Pobre alma, vivemos nos túneis que vocês cavam, comendo a comida que vocês jogam, nosso ar é podre por culpa de vocês, no fim, todos vocês nos servem, alimento, bebidas, e mais, mas, mesmo assim, sempre acham que estão ganhando, suas terras serão dominadas, pereça, pela desgraça, pereçam pela coroa do rei dos ratos.

Logo, os olhos brilhantes se aproximaram e revelaram, o que antes era possivelmente o Anticristo, se tornara todo o apocalipse, ratos cinzas, marrons, pretos, no mínimo dez, todos grudados por um emaranhado de rabos, dois estavam mortos, sendo carregados pelos outros oito, com seus rostos sem carne, mostrando o crânio e os músculos ensanguentados. De repente os ratos que antes deram espaço as duas fechavam seus espaços, Teodora não respirava mais, e Marilia viu os ratos comerem seu estômago e seus olhos, mas parou de olhar, fechou os olhos e rezou, enquanto os demônios subiam seu corpo e a derrubavam, ela começou a chorar enquanto os ratos devoravam as duas, a casa se infestava de pragas, e os corpos já eram grupos de ossos.
A manhã brilhou e não havia mais ratos, apenas um buraco perto de onde o corpo de Kristofer um dia esteve, no meio daquela planície, sozinhas, o corpo de uma bela mulher, e de uma bela criança, jaziam enfim.

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