Capítulo 1

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A coroa está sobre nossas cabeças.

A multidão está ovacionada. Gritam, aplaudem, sorriem. A mão de Peeta está sobre a minha, e que bom que ela está aqui. Não sei o que faria se ele não estivesse ao meu lado. O presidente Snow está a nossa esquerda. Ele sorri para mim e eu sei o que aquele sorriso quer dizer. Vencer os jogos talvez não tenha sido a nossa melhor escolha. Quebramos as regras e isso não vai sair barato.

KATNISS

Estou cansada de tanto sorrir, o dia começou cedo hoje.

Após o fim dos jogos passei uma semana no hospital. Fui medicada, avaliada e alimentada. Mesmo assim Cinna precisou ajustar o meu vestido para a entrevista com Caesar hoje. Não havia percebido, mas consegui ficar ainda mais magra por causa dos jogos. Os ossos da minha bacia estão ainda mais visíveis agora, mas o vestido amarelo com corte estilo boneca ajudou a esconder bem. Pareço uma menininha com essa roupa, mas Cinna me disse que é esta imagem que devo passar no momento. A ocasião pede.

Hoje foi o primeiro dia que vi Peeta após os jogos. Ele perdeu a perna, mas tirando isso parece o mesmo menino de antes, só que ainda mais feliz. Como isso é possível?

Estamos a caminho do salão principal. Ele ainda não largou a minha mão um só momento desde a entrevista. Nem mesmo durante a coroação na sacada da mansão presidencial a poucos minutos. A todo momento ele sorri e acena. Como ele consegue ser assim? Acabamos de sair dos jogos e parece que para ele tudo não passou de um sonho ruim. Ele manca um pouco, mas não perece se incomodar com a perna mecânica. Quem vê nem imagina que a poucos dias ele estava entre a vida e a morte.

— Peeta, espere um pouco. Estou cansada. Podemos nos sentar?

— Claro. Desculpe-me.

— Sem problemas — Sorrio com seu jeito meigo de ser.

Paramos próximo a escada. Sento-me no último degrau e ele se senta ao meu lado. É a primeira vez que estamos realmente sozinhos. Desde o ocorrido, e com toda correria de hoje, não tivemos tempo de conversar. Gostaria de esclarecer as coisas entre a gente, não sei o que ele está pensando, mas tenho medo de que tenha entendido tudo errado. Sei sobre os seus sentimentos por mim, e talvez, com tudo que aconteceu quando estávamos na caverna, sozinhos, sentimentos a flor da pele e aquela sensação de que é o fim, eu tenha dado a entender que poderíamos ter algo a mais. Principalmente no fim do jogo, quando ele foi resgatado pelo aero planador e desfaleceu em meus braços. Eu pensei que estava o perdendo, e isso desestabilizou-me por completo. Talvez eu tenha feito algo ou dito na flor do momento que o tenha dado mais esperanças. Não quero ser o monstro da história, mas não posso continuar o iludindo com tudo isso. Não sei dos meus sentimentos, sou uma bagunça completa, mas sei que ele me ama e não posso retribui-lo por isso. Melhor deixar tudo em pratos limpos.

— Como você está? — pergunto a ele.

— Bem. A perna não me incomoda tanto. Acho que consigo me acostumar com ela.

— Como se você tivesse escolha.

Vejo o seu semblante desfalecer. Falei demais, como sempre. Não tenho o dom das palavras como ele. Por isso prefiro deixar a boca fechada.

— Me desculpe. Não devia ter falado isso —digo.

— Não tem problema, você só disse a verdade. A maioria das pessoas ficam pisando em ovos comigo. Até parece que vou me quebrar a qualquer momento.

— Isso é um tremendo saco.

— O que?

— Tudo isso. As pessoas estão festejando como se nada tivesse acontecido. Pessoas morreram! Crianças, Peeta. Será que elas não conseguem perceber isso? Neste momento, nos outros distritos, famílias inteiras choram a mortes de seus entes queridos, enquanto eles festejam o que?

Um amor em 9 meses Onde histórias criam vida. Descubra agora