solidão.

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E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração
Solidão.

Com longos e rápidos passos, Holmes saiu do prédio que lhe causava claustrofobia. O ar do local era insuficiente para suprir os longos suspiros que ele dava, e não se tinha tantas janelas, deixando impossível ele se perder por alguns minutos na paisagem.

Desceu as escadas correndo, pulando dois degraus de uma só vez. Saiu após assinar os papéis e avisar seu advogado – pago por seu irmão. Não iria aguentar ficar local por mais tempo, então, foi-se sem se despedir.

— Nós simplesmente não nascemos para ficarmos juntos, Sherlock. Não demos certo, mas saiba que eu te amei. Um dia, eu te amei.

Sherlock, mais uma vez, optou por ignorar a voz que vinha do início do corredor. Ele quase poderia imaginar a cena em sua mente.

Punhos cerrados, unhas pequenas machucando a palma da mão, uma expressão descontente e raivosa, querendo ser notada e ansiando por uma reação do outro.

Quando consegui sair da construção, Holmes respirou fundo. Arrumando seu único terno bom em seu corpo e acenando para um táxi, entrando no veículo o mais rápido possível.

O rápido, na verdade, foi prejudicado por um doloroso fator. O brilho dourado que o moreno notou quando ia abrir a porta, sua pesada e significativa aliança de casamento.

Lembrava de como era relutante em usá-la quando foi presenteado, mas que sempre gostou do peso dela em sua mão e em seus sentimentos. Também lembrava do rosto apaixonado e hesitante de quem a carregava.

Tirou o anel e colocou no bolso, sentindo imediatamente o vazio e a presença fantasma. Até aquele momento, tinha sentido apenas uma tristeza imensurável, uma dor em seu peito e osso. No entanto, sentia agora raiva.

Aquela aliança deveria significar amor eterno e fidelidade, e não tinha sido ele que havia proposto aquilo, mas sim John. Ele que quis oficializar. Tornar uma promessa entre os dois.

Watson quebrou todas as promessas que já tinha feito. De nunca quebrar o coração de seu amado, de nunca abandoná-lo.

O motorista fez o trajeto mais rápido, acordando o moreno com um alto pigarro. Pagou e subiu as escadas lentamente, tentando não fazer barulho algum.

Abriu a porta de seu apartamento e quis voltar para fora. Estava completamente vazio. Sua bagunça ainda estava lá, seus livros de medicina jogados no chão e pedaços de ossos também. No entanto, a calmaria e o cheiro de chá tinham ido junto com John.

Ele levou a sua poltrona, a cafeteria, e de presente, a sanidade de Sherlock.

O moreno olhou em volta e procurou algo para se entreter. Não possuía mais armas e nem bebidas alcoólicas, pois toda a sua família achava que ele iria se afundar em drogas e atirar na sua própria cabeça.

Tocou violino, escreveu alguns artigos inúteis e leu sobre o impacto das abelhas no meio ambiente. Sentia que já era outro dia, no entanto, ao olhar para o seu relógio de pulso – presente de Watson – percebeu que só passaram duas horas.

Em outros momentos, ele deixaria todos os papéis e deitaria em sua cama. Seria afagado por dedos ágeis, e acabaria dormindo nos braços de quem amava. Acordaria com beijos, e passaria o resto do dia no quarto.

Mas ele estava sozinho naquele momento. E todos sabem que Holmes sempre precisou de uma companhia.

Ele fechou os olhos para evitar as lágrimas, não permitindo sentir o alívio de liberá-las. Queria manter-se forte e indestrutível.

Quando conheceu Watson, não estava procurando por um amigo. Estava querendo dividir as despesas e alguém para correr com ele. Mas encontrou muito mais.

Encontrou um porto seguro, um amor, uma companhia. Nunca pediu por isso, mas sempre necessitou.

Ele estava afundando na solidão, e sabia que não iria conseguir prender a respiração por muito tempo.

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